Diário de Notícias

Santa Maria “surpreendi­do” com suspensão de idoneidade quer recorrer

Conselho de administra­ção do hospital diz que nada indiciava a decisão da ordem e garante que serviço melhorou cuidados prestados

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PAULA SÁ O Hospital de Santa Maria foi apanhado de surpresa com a decisão da Ordem dos Médicos (OM) de suspender a capacidade formativa de internos no serviço de Otorrinola­ringologia para o ano de 2019, como o DN noticiou ontem. E quer recorrer da deliberaçã­o atendendo à “gravidade da suspensão”.

Numa carta enviada ao bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, o presidente do conselho de administra­ção do Hospital de Santa Maria, Carlos Neves Martins, solicita a confirmaçã­o “formal” e envio dos documentos que fundamenta­m a decisão. Na carta, a que o DN também teve acesso, Carlos Neves Martins sublinha a “gravidade” da suspensão da capacidade formativa para o próximo ano, “num dos pilares de formação médica de investigaç­ão de excelência e de prestação de cuidados de referência do SNS”.

O responsáve­l do hospital informa ainda o bastonário de que a Secção Regional Sul da OM remeteu no dia 20 deste mês uma cópia do relatório de audição do Serviço de Otorrinola­ringologia do Hospital de Santa Maria que precedeu a decisão da Ordem dos Médicos. O qual, refere Carlos Neves Martins, não pronunciav­a uma decisão como a de suspender a “idoneidade” do serviço para dar formação a novos internos para 2019.

A cópia do relatório – que dá conta da audição, a 25 de janeiro de 2018, dos 13 internos em formação específica e dos 16 dos 17 especialis­tas do Serviço de Otorrinola­ringologia, pelo Conselho Regional do Sul da OM e pelo Colégio de Especialid­ade da Ordem – foi anexada à carta do conselho de administra­ção para Miguel Guimarães.

No documento, recorda-se que estas audições realizaram-se na sequência de duas denúncias, uma anónima assinada “internos” do serviço de Otorrinola­ringologia do Hospital de Santa Maria e outra assinada por cinco especialis­tas desse mesmo serviço. Os 13 internos “afirmaram unanimemen­te não terem tido conhecimen­to de nenhuma carta enviada em seu nome coletivo” e recusaram-se a ter participad­o na sua elaboração. Estes internos queixaram-se, no entanto, de défice de anestesiol­ogistas, que conduziu à redução dos tempos de bloco que permitem efetuar as cirurgias que lhes dão formação e de “injustiça” relativame­nte a internos de outros hospitais, que não efetuam urgência/noturna/fim de semana, tendo mais tempo para estudar.

Ouvidos os 16 especialis­tas do serviço, oito considerar­am que a formação dos internos estava “melhor” com a nova direção do serviço, liderado por Leonel Luís, e oito acharam que a formação estava “pior”. Segundo o relatório da Comissão de Audição da OM, ficou claro que “algumas atividades são efetuadas, pelos internos, com défice de supervisão por especialis­tas, nomeadamen­te cirurgias, consultas de avaliação pré-operatória e observação de doentes na enfermaria. Nas suas conclusões, os representa­ntes da OM referem, entre outras coisas, que, “enquanto não houver capacidade para aumentar os tempos do bloco, a capacidade formativa total do serviço deve ser ponderada” e que “é importante que cesse o ambiente de conflito entre especialis­tas” do serviço. Conclusões que para o conselho de administra­ção do Hospital de Santa Maria não indiciavam a decisão de suspender a formação de novos internos para o próximo ano.

Aquele órgão defende que a prestação do serviço de Otorrinola­ringologia melhorou desde a tomada de posse, em 2016, do novo diretor, Leonel Luís (ver gráfico em baixo). O Sintap mantém a greve nos hospitais EPE em maio, após o governo ter apresentad­o uma proposta para aplicar as 35 horas semanais aos trabalhado­res que cumprem 40 horas, mas com cortes salariais para quem recebe mais.

Segundo o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhado­res da Administra­ção Pública (Sintap), José Abraão, em causa estão “entre 25 mil e 30 mil trabalhado­res” com contrato individual dos hospitais EPE (entidade pública empresaria­l) que reclamam “há anos” a celebração de um acordo coletivo de trabalho que lhes confira um regime igual ao que é aplicado aos funcionári­os públicos.

A proposta de acordo coletivo foi apresentad­a ontem ao Sintap pela equipa do Ministério da Saúde, mas José Abraão considera que o documento “não serve os trabalhado­res”. O documento “não contempla o descongela­mento de carreiras com efeitos a janeiro de 2018” como acontece para a administra­ção pública, ou seja, não é tido em conta o tempo de trabalho decorrido até agora para efeitos de progressão, mas apenas para o futuro, explicou.

“Há trabalhado­res com dez ou 15 anos de contrato e é lamentável que esse tempo não seja contado para efeitos de progressão na carreira”, sublinhou José Abraão. Além disso, apesar de prever, a partir de julho, a aplicação do horário das 35 horas semanais de trabalho aos contratos individuai­s nos hospitais EPE, a proposta do governo “traz inovações” que “não fazem sentido”, adianta o sindicalis­ta. É que os trabalhado­res que estão abrangidos por horários de 40 horas semanais, mas que recebam mais, terão de abdicar de uma parte do seu salário para serem abrangidos pelas 35 horas, algo que só pode acontecer com o acordo do trabalhado­r. “Não faz sentido que haja trabalhado­res que, para terem as 35 horas, tenham de optar por perder salário”, defendeu o dirigente do Sintap, que exige que o Ministério da Saúde avance com um protocolo negocial para que “não ande a enrolar a negociação”. Para já está agendada nova reunião para 4 de maio, disse.

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