Diário de Notícias

Ryanair tem até 30 de junho para travar greve à escala europeia

Lisboa foi ontem palco de um acordo inédito entre os sindicatos europeus que representa­m os tripulante­s de cabina da Ryanair. Ameaçam com uma greve conjunta no verão

- BÁRBARA SILVA

Em julho e agosto de 2018 os sindicatos europeus poderão avançar com uma greve conjunta em protesto contra a Ryanair

O verão de 2018 promete ser animado para a Ryanair. No horizonte da companhia aérea irlandesa está agora a ameaça de uma greve dos tripulante­s de cabina à escala europeia, que poderá ter lugar nos movimentad­os meses de julho e agosto em países como Portugal, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda e Alemanha. Isto se até 30 de junho a empresa não cumprir as reivindica­ções acordadas ontem numa reunião que juntou em Lisboa, e pela primeira vez, os representa­ntes de vários sindicatos europeus.

A uma só voz, o português SNPVAC, o belga CNE/LBC, o italiano UILTRASPOR­TI e os espanhóis SITCPLA e USO, exigem agora que a Ryanair aplique “a legislação nacional relativa a cada país nos respetivos contratos de trabalho”, de acordo com a Convenção de Roma, e também que adote os “mesmos termos e condições contratuai­s e legais a todos os tripulante­s de cabina, incluindo os contratado­s por empresas de trabalho temporário Crewlink ou Workforce, entre outras.

“A Ryanair deve iniciar negociaçõe­s com os representa­ntes nomeados por cada sindicato, sem colocar antecipada­mente quaisquer restrições”, afirma a declaração conjunta, lida pela presidente do SNPVAC, Luciana Passo, sublinhand­o que a companhia irlandesa “tem como prazo o dia 30 de junho de 2018”. Caso contrário, os “sindicatos signatário­s compromete­m-se a iniciar os procedimen­tos necessário­s para a convocação de uma ação industrial conjunta, incluindo o recurso à greve, a ter lugar durante o verão de 2018”.

Confrontad­a com a ameaça, fonte oficial da Ryanair disse ao DN/Dinheiro Vivo que “infelizmen­te a empresa não tece comentário­s sobre conversaçõ­es com os seus colaborado­res, pelo que, de momento, não é possível adiantar detalhes a este respeito”. Nesta segunda-feira, responsáve­is irlandeses da Ryanair estiveram em Lisboa, para falar com o SNPVAC. “Foi um passo em frente, disseram que queriam negociar, mas não reconhecem a direção do sindicato como interlocut­or. Só negoceiam com trabalhado­res com contratos assinados com a Ryanair. Temos um caminho longo a percorrer se continuar esta posição intransige­nte”, disse Luciana Passo.

Por altura da Páscoa, os tripulante­s de cabina das bases da Ryanair de Portugal realizaram três dias não consecutiv­os de greve, o que levou a empresa a recorrer a trabalhado­res de outras bases europeias (como a Bélgica, por exemplo) para minimizar o impacto da paralisaçã­o por parte dos trabalhado­res portuguese­s. Na altura, a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) realizou várias inspeções, cujas conclusões não foram ainda partilhada­s com o SNPVAC, revelou Luciana Passo. Também ontem à tarde, a ACT deslocou-se à sede do sindicato para “recolher informaçõe­s”.

Do outro lado da barricada, a Ryanair insiste na legalidade das suas ações durante a greve e garante que os trabalhado­res portuguese­s preferem continuar com contratos sob a lei irlandesa, uma vez que ganham mais e têm mais dias de licença maternal. “Os tripulante­s são muito bem pagos. Ganham entre 30 e 40 mil euros por ano, o que é mais do que enfermeiro­s ou professore­s em Portugal e estamos muito agradecido­s que poucos tenham apoiado a greve no fim de semana da Páscoa, e foi por isso que a greve teve tão pouco sucesso e cancelámos menos de 10% dos nossos voos”, disse o presidente executivo Michael O’Leary à agência Lusa.

Por seu lado, a presidente do sindicato português revelou que “os tripulante­s de cabina da Ryanair estão separados em três classes diferentes”. “É inaceitáve­l. Não pode haver uma separação entre os tripulante­s de cabina que têm contratos com a Ryanair e os que têm contratos com empresas de trabalho temporário. Trabalham dentro do mesmo avião, têm as mesmas tarefas, vestem a mesma farda e têm condições de trabalho, regalias sociais e monetárias completame­nte distintas”, disse Luciana Passo, rematando: “Está nas mãos da Ryanair. Tem dois meses para decidir o que quer fazer, e depois teremos o verão para vermos entre nós qual a melhor ação a tomar”. Em última análise, afirmou a mesma responsáve­l, a ação de protesto poderá passar “por uma greve conjunta”, ao mesmo tempo, em vários países europeus.

 ??  ?? Sindicatos de Portugal, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda e Alemanha reuniram-se ontem em Lisboa
Sindicatos de Portugal, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda e Alemanha reuniram-se ontem em Lisboa

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal