Menu raio de sol para o jantar dos dois líderes coreanos
Presidentes da Coreia do Sul e da Coreia do Norte, Moon Jae-in e Kim Jong-un, terão uma refeição carregada de simbolismo a seguir à cimeira de sexta-feira em Panmunjom
PATRÍCIA VIEGAS O encontro de sexta-feira entre os líderes coreanos quer-se de sucesso e nada foi deixado ao acaso. Nem mesmo o menu do jantar, marcado para depois da cimeira entre Moon Jae-in e Kim Jong-un – a terceira entre presidentes da Coreia do Sul e da Coreia do Norte, no espaço de 18 anos. Os media chamam-lhe o menu raio de sol, em referência à política raio de sol, lançada pelo ex-presidente sul-coreano e Nobel da Paz Kim Dae-jung e que visava uma aproximação entre Seul e Pyongyang.
Cada prato foi pensado para ter um simbolismo muito forte. O rösti, receita suíça com batata, destina-se a assinalar os tempos em que Kim Jong-un estudou na Suíça. É um prato tradicional oriundo do cantão suíço-alemão de Berna. Segundo o porta-voz presidencial sul-coreano, Kim Eui-kyeom, citado pela Reuters e pelo Bloomberg, foi ainda incluída no menu a sopa de massa fria, ou seja, naengmyeon, do famoso restaurante norte-coreano Okryu Gwan. Esta especialidade será cozinhada pelo chef do restaurante, que viajará de propósito até Panmunjom, na zona desmilitarizada. Aí se realizará a referida cimeira.
Na lista de pratos consta também peixe-galo grelhado. Este tipo de peixe vem da cidade de Busan, onde o presidente sul-coreano Moon passou a juventude. Foi também aí, refere a Bloomberg, que, em 1982, fundou o seu primeiro escritório de advogados com o ex-presidente Roh Moo-hyun. Este e Kim Dae-jung, líderes sul-coreanos que estiveram nas cimeiras intercoreanas de 2000 e 2007 com Kim Jong-il, em Pyongyang, são também homenageados no menu do jantar.
Nobel da Paz em 2000, pela sua polícia raio de sol, Kim Dae-jung é natural da província sul-coreana da Jeolla do Sul, de onde vêm os dumplings com corvina e pepinos do mar, ou seja, pyeonsu. Da província de Gyeongsang do Sul, onde nasceu Roh Moo-hyun, que deu continuidade àquela política, vem o prato de arroz misturado com vegetais e carne, ou seja, bibimbap. O arroz é cultivado de forma orgâ- nica com recurso a patos para controlo de pragas.
No menu é também homenageado o fundador da Hyundai, Chung Ju-yung, que ofereceu 500 cabeças de gado à Coreia do Norte na década de 1990, transportadas através da zona desmilitarizada. A carne grelhada virá do seu rancho, na província de Chungnam. Da cidade costeira de Tongyeong , terra natal de Yun I-sang, vem o polvo para a salada. O compositor coreano que fez carreira na Alemanha defendeu a democracia na Coreia do Sul e a reunificação da Coreia.
Dividida pelo paralelo 38, após o fim da Segunda Guerra Mundial, a península deu depois origem à Coreia do Sul e à Coreia do Norte. Estas estiveram em guerra três anos, entre 1950 e 1953. E assim continuam tecnicamente. Apesar de assinado o armistício, que estabeleceu a zona desmilitarizada entre as duas Coreias, continua a faltar um tratado de paz.
À sobremesa será servida mousse de manga, fruta que representa a energia da primavera, segundo a presidência sul-coreana. Haverá ainda chá de cogumelos de pinheiro das montanhas Baekdudaegan, ou seja, matsutake. E bolo de laranjas coreanas, ou seja, hallabong, da ilha de Jeju. Durante muito tempo, este foi o lugar por excelência dos ativistas pró-democracia na Coreia do Sul e, antes deles, dos opositores da ocupação japonesa. Hoje é conhecida como ilha da paz. E paz é o que, em última análise, se pretende conseguir entre as duas Coreias, com esta cimeira. E com a ajuda deste menu.