Cultura e língua arménias vão ser ensinadas na Faculdade de Letras
Fundação Calouste Gulbenkian apoia disciplina, que é optativa, e que se destina ao público em geral. Associação Amizade Portugal-Arménia diz que é forma de “estreitar” relações
CÉU NEVES “É a primeira vez na história das relações modernas entre Portugal e a Arménia que vamos apresentar um curso de Língua Arménia não só para os estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa como para quem queira conhecer a Arménia.” Assim apresentou o presidente da Associação de Amizade Portugal-Arménia (AAPA), Vahé Mkhitarian, uma nova cadeira no ensino superior português, a iniciar em setembro e que contará com dois níveis.
Integra o ano letivo 2018-2019 e decorre de um protocolo entre a AAPA e a Faculdade de Letras, onde o curso foi apresentado na segunda-feira. “Não é só para acrescentar uma língua à nossa já grande oferta. O nosso interesse tem que ver com a particularidade da língua arménia e o que vai ser possível fazer, nomeadamente ter acesso a uma língua e a uma cultura muito antigas e importantes”, explicou Miguel Tamen, diretor da faculdade. Agradeceu o financiamento do Serviço das Comunidades Arménias da Fundação Calouste Gulbenkian (FCC), sem o qual “seria difícil alcançar os objetivos”.
Calouste Gulbenkian é o cidadão de origem arménia com maior representatividade em Portugal, uma comunidade com cem pessoas.
Calouste Sarkis Gulbenkian nasceu em Üsküdar (província de Istambul, na Turquia), a 23 de março de 1869, e morreu em Lisboa, a 20 de julho de 1955. Nasceu durante o Império Otomano, foi vítima do genocídio arménio (que nunca foi reconhecido pelo governo turco) e acabou por se naturalizar britânico. Engenheiro e empresário, colecionador de arte e filantropo, muito contribuiu para a cultura em Portugal, desde logo com parte da sua herança, que esteve na origem da constituição da FCC.
O apoio financeiro da Fundação significa o pagamento de um docente da língua, Lia Khachikyan, que fez uma apresentação sobre as origens do arménio e de como serão as suas aulas. O curso está dividido em dois níveis e a lecionar em dois semestres, funcionando como optativa. Destina-se ao público em geral, mas especialmente a estudantes e a investigadores.
Lia Khachikyan enumerou os vários centros da cultura arménia não só no país como em todo o mundo, salientou as bolsas de estudo da FCG e da Armenian General Benevolent Union.
André Ramalhoso, 20 anos, aluno do 1.º ano do Curso de Ciências da Linguagem, seguiu com atenção toda a apresentação. “Acho muito interessante existir a possibilidade de aprender a língua e a história da Arménia. Vim para conhecer um pouco mais”, justificou. Apesar disso, não pensa inscrever-se já em setembro. “Estou a aprender uma língua estrangeira, tem de ser uma de cada vez”, sublinhou.
O ensino da língua é um “passo importante da Associação Amizade Portugal-Arménia para estreitar as relações entre os dois países”, sublinhou Vahe Mkhitarian. Fundada em 2016, a primeira medida da associação foi criar a orquestra de cordas Consonância, que integra sete arménios e oito portugueses e que apresentou três temas nesta cerimónia relacionada com o curso em Letras. “A associação é nova e tudo leva muito tempo, mas queremos desenvolver várias iniciativas, nomeadamente o intercâmbio cultural entre os dois países. A Arménia tem uma cultura muito antiga e uma história fantástica. E esta é a possibilidade de o mostrar aos portugueses”, frisa Elena Ryabova, da direção da associação.