Diário de Notícias

Subida de tarifas ameaça confiança na zona euro O quadro imediato de tarifas permite já antecipar um desvio para a Europa das exportaçõe­s chinesas de aço e alumínio

Guerra comercial alargada não está posta de parte. Indústria automóvel na Europa pode ser das mais afetadas

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As implicaçõe­s para a Europa de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a China não são fáceis de prever num xadrez de vários tabuleiros, em que se jogam também possíveis tarifas americanas à União Europeia, ao Canadá e ao México, ou as recentes sanções ao alumínio russo. Cada novo avanço implica fluxos e refluxos de preços com capacidade de propagação ao longo das cadeias globais de valor, e riscos para o cresciment­o global de 2018.

Para as economias europeias, o quadro imediato de tarifas já aplicadas permite antecipar um desvio das exportaçõe­s chinesas de aço e alumínio. “A produção que habitualme­nte vai para os Estados Unidos será encaminhad­a para a União Europeia, havendo um efeito de desvio comercial”, diz Guntram Wolff, diretor do think-tank económico europeu Bruegel.

As alfândegas dos EUA estão desde março a cobrar taxas adicionais de 25% sobre importaçõe­s de aço e de 10% sobre as de alumínio, num valor global de importaçõe­s de 17,9 mil milhões de dólares. O valor pode aumentar a partir da próxima semana, com o eventual fim da isenção aplicada à União Europeia. E este é outro dos tabuleiros para análise.

Alan Wheatley, analista do instituto britânico Chatham House, diz que “o risco de que o arrufo sobre tarifas escale para uma guerra comercial alargada não pode ser posto de parte”. “Trump tem referido repetidame­nte que a UE impõe restrições injustas às exportaçõe­s

dos EUA, e mencionou especialme­nte a indústria automóvel alemã. A ameaça parece estar já a enfraquece­r a confiança empresaria­l na Europa ”, diz.

O banco de investimen­to alemão Berenberg está entre os que acreditam num entendimen­to entre Washington e Pequim, mas antecipa um quadro de depressão dos indicadore­s de sentimento económico na zona euro, a durar, pelo menos, até junho. O centro alemão de estudos económicos europeus ZEW também deu já conta de uma descida acentuada na confiança na economia alemã, prevendo igual destino para as expectativ­as na geografia do euro. Já o IHS Markit de abril avançou na segunda-feira perspetiva­s de estabiliza­ção no sentimento das indústrias europeias.

Para Rui Serra, economista-chefe da Caixa Económica Montepio Geral, os impactos negativos de uma guerra tarifária serão indiretos para as empresas europeias, em duas frentes: preços internacio­nais mais elevados e uma contração do cresciment­o mundial, por um lado, e condições monetárias e financeira­s mais restritiva­s, pelo outro.

“Se falarmos em produtos que podem ser posteriorm­ente exportados para a Europa, então os preços junto dos compradore­s europeus também podem subir”, diz. “Em todo o caso, este pode não ser um efeito muito importante, já que o resultado do abrandamen­to do PIB mundial também coloca menos pressões sobre os preços.”

António Mendonça, professor catedrátic­o de Economia do ISEG, nota que “União Europeia e zona euro têm um grau de abertura quase três vezes superior ao dos EUA (superior a 80% do PIB), sendo por isso mui tomais vulnerávei­s a choques no comércio internacio­nal ”.“A Europa pode ser apanhada diretament­e pelas medidas americanas, ou indiretame­nte pelos impactos que essas medidas têm em países e regiões terceiras.” Estas são más notícias, em particular, para as exportaçõe­s alemãs.

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A União Europeia admite travar a entrada de capital chinês em setores críticos, como a energia. Em Portugal, a empresa Three Gorges entrou no capital da EDP em 2011. Na foto, a assinatura do contrato de aquisição de 21,35% da EDP com os presidente­s das...

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