Diário de Notícias

“Não se ganha em ficar calado”

- FRANÇOIS GODEMENT DIRETOR DO THINK-TANK ECFR

Portugal não é o maior destino de investimen­to chinês na Europa, mas é talvez o mais significat­ivo. Que papel tem tido na UE? Houve uma janela de oportunida­de legítima nos países europeus mais atingidos pela crise. Os europeus eram livres de investir nas mesmas empresas. Nenhuma regra europeia foi violada. Portugal é um caso muito diferente da Grécia, da Hungria e até da Itália. Tem sido quase sempre capaz de separar a sua atitude em assuntos europeus relativame­nte à China. Nos últimos cinco anos, o único momento em que talvez se possa dizer que Portugal fez lobby a favor da China aconteceu em junho na discussão sobre o novo mecanismo de escrutínio ao investimen­to. Mas pareceu-me um ato cautelar de um país que não quis passar um cheque em branco a outros. Essa posição não foi pública. Não era suposto ser pública. Foi divulgada porque há fugas no Conselho da UE. Isso faz diferença? É diferente do lobby sistemátic­o da Grécia. Nenhum destes países é indiferent­e ao interesse económico ou ao facto de os negociador­es chineses serem capazes de tirar partido das situações. É um equilíbrio que pode ser remediado, assim os europeus tenham alguma confiança e os países do núcleo duro da UE prestem atenção aos interesses das economias mais pequenas. A questão da reforma de política económica da UE tem uma enorme importânci­a para que seja criada unidade, ou para um cenário de dividir para reinar com arbitragem da China. Diz que Portugal se tem mantido em silêncio no que diz respeito a questões de direitos humanos, ao contrário, por exemplo, do Reino Unido. É pragmatism­o? Com a China não se ganha nada em ficar calado. Há que ser consistent­e. Mas não é um erro apenas de Portugal. Vários países acreditam que manter uma posição recuada ou não discutir abertament­e os seus valores e princípios lhes trará vantagens.

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