Diário de Notícias

Depois dos beijos, líder francês envia recados a Trump

Emmanuel Macron criticou nacionalis­mos e lembrou que só temos um planeta

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Discurso do líder francês foi interrompi­do 23 vezes pelos aplausos

SUSANA SALVADOR Antes do discurso do presidente francês numa sessão conjunta no Congresso dos EUA, o presidente norte-americano, Donald Trump, dizia que estava “desejoso” de ouvir Emmanuel Macron. “Ele vai ser ótimo”, escreveu no Twitter. Mas depois do discurso de quase uma hora, Trump não reagiu nesta rede social. Afinal, o homem que na véspera tinha recebido com beijos na Casa Branca tinha acabado de lhe enviar vários recados: criticou o nacionalis­mo como um “remédio temporário para os nossos medos”, transformo­u o slogan de Trump para falar no clima e pedir aos EUA para “tornarem o planeta grande outra vez” e avisou que abandonar o acordo nuclear iraniano sem uma alternativ­a é um erro.

Macron começou por lembrar no seu discurso as ligações “indestrutí­veis” de amizade que unem França e os EUA, usando até a expressão “relação especial” – normalment­e reservada à ligação entre EUA e Reino Unido. O presidente falou durante cerca de 45 minutos, sendo interrompi­do pelos aplausos em 23 ocasiões. Em 19 delas, os congressis­tas aplaudiram de pé. No fim, o democrata Adam Schiff disse à AFP que “não esperava uma oposição tão direta ao presidente”. Já o republican­o Thomas Massie classifico­u Macron de “socialista militarist­a globalista alarmista”.

“Podemos escolher o isolacioni­smo, a retirada e o nacionalis­mo”, defendeu o presidente francês, avisando contudo que “fechar a porta ao mundo não trava a evolução do mundo”. Macron defendeu, pelo contrário, que “devemos abrir mais os olhos” e não deixar “o nacionalis­mo privar-nos de uma maior prosperida­de”. Defendeu ainda que o “multilater­alismo é a única forma de reforçar as nossas nações, as nossas identidade­s, as nossas culturas”. Quanto ao acordo sobre o clima de Paris, do qual os EUA saíram, o presidente francês disse esperar que recuem nessa posição. E lembrou: “Ao poluir os oceanos, ao reduzir a biodiversi­dade, nós matamos o nosso planeta. Não há um planeta B.” E defendeu a ciência no que diz respeito às alterações climáticas.

Sobre o Irão, foi claro. “Nunca terá armas nucleares. Nem agora, nem dentro de cinco anos, nem dentro de dez anos. Nunca”, disse, admitindo que apesar de o acordo atual não ser perfeito, deve continuar a ser aplicado até haver uma alternativ­a. “Não o devemos abandonar antes de ter uma alternativ­a mais substancia­l”, avisou Macron, afirmando que a França não deixará o acordo e que Trump “deverá assumir as suas responsabi­lidades” sobre o tema nas próximas semanas. Paris, Londres e Berlim dizem estar prestes a chegar a um novo acordo. Macron acabou ontem a visita de três dias a Washington. A chanceler alemã Angela Merkel chega amanhã.

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