Lula dá liberdade ao partido para escolher outro candidato
Antigo presidente diz, numa carta dirigida à presidente do PT, que “2018 é muito importante para a democracia”. Fernando Haddad, provável substituto, já estabelece canais à esquerda
Lula da Silva, antes de ser preso, no dia 7, junto à sede do Partido dos Trabalhadores, em São Bernardo do Campo, São Paulo JOÃO ALMEIDA MOREIRA São Paulo Lula da Silva deixou o PT “à vontade para tomar qualquer decisão” sobre as eleições de outubro. O presidente do Brasil (de 2003 a 2010), detido em Curitiba por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava-Jato desde o dia 7, disse, entretanto, que ficou muito satisfeito com as mais recentes sondagens, que o dão com 30% das intenções de voto, na frente da corrida ao Palácio do Planalto.
O tom contraditório da carta dirigida à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e cujo conteúdo integral não é conhecido, levou observadores a entendê-la como um sinal de desilusão de Lula com setores do partido. “Deixou clara a sua insatisfação”, defendeu a jornalista do jornal Folha de S. Paulo Cátia Seabra, “ao dizer que compreende a ausência nas visitas à cadeia de figuras do partido de estados longe do Paraná”, onde Lula está detido, e na frase seguinte deixar então o PT “à vontade” para escolher o candidato que pretenda.
No documento, divulgado parcialmente pelas redes sociais de Alexandre Padilha, antigo ministro da Saúde de Dilma Rousseff, o ex-sindicalista sublinha ainda “a importância de 2018 para o partido, para a esquerda e para a democracia”. “Eu, para mim, quero a minha liberdade”, prossegue Lula. “Há insinuações de que se eu ficar longe dos holofotes e se não criticar a condenação tenho mais hipóteses de ter uma votação judicial a meu favor, pois, querida Gleisi, o Supremo Tribunal Federal não tem que me absolver porque eu decido ser candidato ou porque eu decido ser bonzinho, tem que me absolver porque eu sou inocente.”
No mesmo dia em que a carta de Lula foi divulgada, a imprensa revelou um encontro de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo tido como principal alternativa ao antigo presidente nas eleições, com Ciro Gomes, candidato à presidência da República pelo também de esquerda PDT. E circulou até a notícia de que Ciro e Haddad tinham concordado em formar uma lista concorrente, com o primeiro como candidato ao Planalto e o segundo a vice-presidente.
Haddad negou a jornalistas que o teor do encontro tivesse sido esse. “Reuni-me com ele, assim como já me reuni com o [candidato do PSOL Guilherme] Boulos e com a Manuela [D’Ávila, a presidenciável do PCdoB], esse canal tem de estar desobstruído”, afirmou. “Os partidos de esquerda precisam de se respeitar, estamos conversando, mas cada um vai construir o próprio caminho”, concluiu.
Ao lado de Haddad nesta comunicação