Diário de Notícias

Escrevo esta homenagem particular à Catalunha num 23 de abril, Dia do livro, Dia de Sant Jordi, padroeiro da Catalunha. Dia de Shakespear­e e de Cervantes, que escreveu de Barcelona muitas vezes e no final de Dom Quixote assegura que é “das mais belas cida

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lor- aquesta meva pobra, bruta, trista, dissortada pátria. [Pois sou também muito cobarde e selvagem – e amo demasiado com uma dor desesperad­a – esta minha pobre, suja, triste e desditosa pátria.]” Essas músicas, essas letras, faziam-nos sentir de um tempo e de um país; queríamo-nos iguais, próximos, ainda que cada qual no seu idioma.

Um dos mais saudosos intelectua­is, escritores e jornalista­s catalães, Manuel Vazquez Montálban, dizia que “contra Franco vivíamos melhor”. Não era verdade, mas não deixava de ser uma adequada e maliciosa boutade nostálgica. Eram aqueles tempos em que o antifranqu­ismo nos mantinha próximos. Depois conhecemos a transição e as reivindica­ções do Estatuto de Autonomia, que fizemos nossas. Chegaram a “modernidad­e”, os Jogos Olímpicoss de Barcelona, a Expo de Sevilha e a movida madrilena. Éramos diferentes, mestiços, nacionalis­tas ou não, de esquerda ou não, mas éramos – quero crer que somos – um país de complement­ários. Tão diversamen­te rico. Tão plural, aberto e pouco excludente. A maioria estava com aquilo de Renan, “excluir toda a exclusão”. Desejamos vertebrar Espanha, sabemos, como dizia Ortega y Gasset, que “toda a unidade nacional não é uma coexistênc­ia inerte, é um sistema dinâmico”. Certo é que não se convive para estar juntos, mas sim para fazer algo juntos. E para entoar o mea culpa, para aceitar os erros da história, para os conhecer e evitar repeti-los, voltamos às palavras do autor de A España Invertebra­da: “Castela transforma-se no mais oposto de si mesma: torna-se desconfiad­a, tacanha, sórdida, azeda. Já não se preocupa em potenciar a vida das outras regiões (sic): com ciúme delas, abandona-as a si mesmas e começa a não se inteirar do que nelas se passa.” Isto foi escrito no princípio dos anos vinte. Continuou-se a cometer error até aos nossos dias, se bem que a realidade, as liberdades, a autonomia da Espanha de hoje nada têm que ver com os tempos de Ortega. Sinceramen­te, se agora o espírito dos castelhano­s merece censura pelo particular­ismo, também a merecem a Catalunha e o País Basco. Continua a ser válido e necessário aquele desejo do pensador: “A ideia das grandes coisas por fazer forja a unificação nacional.”

E creio que a maioria desse país de todos os demónios – e de muitos santos e alguns anjos – que é o meu continua contra as exclusões. Esse é o país que queremos aproximar a partir do Instituto Cervantes, o da língua dos poetas, de Verdaguer, Foix, Maragall – que se queixava poeticamen­te irritado que não os tínhamos escutado na sua própria língua –, Salvat Papasseit, Riba, Espriú o Margarit. O país de Albéniz,

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