Diário de Notícias

DEPOIS DA APROXIMAÇíO A MOON, TRUMP É O NOVO DESAFIO DE KIM

Na terceira cimeira intercorea­na, Kim Jong-un e Moon Jae-in anunciaram, num comunicado conjunto, o fim da guerra e o empenho na desnuclear­ização da península

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Aperto de mão na linha de fronteira em Panmunjon

› Foi um Kim Jong-un “tomado pela emoção” que atravessou a fronteira com a Coreia do Sul em Panmunjon para a terceira cimeira intercorea­na desde o fim da guerra entre os dois países. Foi a primeira vez que um dirigente da Coreia do Norte pisou solo do sul desde 1953, quando foi assinado o armistício que pôs fim a três anos de guerra da Coreia. Antes ainda, o líder norte-coreano apertou as mãos e convidou o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, a atravessar também a fronteira mas para o lado do norte. Para Moon, não foi uma estreia em solo norte-coreano. Filho de refugiados do Norte, em 2004, quando era assistente do presidente Roo Moo-hyun, acompanhou a mãe a uma reunião com familiares. Ontem, Moon e Kim caminharam lado a lado até à Casa da Paz, na parte sul de Panmunjon, onde há 65 anos foi assinado o armistício. “Vim aqui decidido a dar um sinal de partida, à beira de uma nova história”, afirmou Kim Jong-un.

Uma mesa oval e um início de discussão para a TV

› Há meses, quando a Coreia do Norte mantinha o mundo à beira da guerra lançando mísseis e realizando um sexto ensaio nuclear, ninguém imaginaria que este encontro entre Kim e Moon se fosse realizar tão cedo. Mas depois de um discurso de Ano Novo conciliató­rio do líder norte-coreano, o ponto de viragem surgiu com os Jogos Olímpicos de Inverno na Coreia do Sul, em fevereiro, quando os dois países desfilaram sob a mesma bandeira. Ontem, o líder da Coreia do Norte e o presidente da Coreia do Sul sentaram-se na Casa da Paz frente a frente numa mesa oval. Kim estava acompanhad­o pela irmã e conselheir­a Kim

Yo-jong e pelo responsáve­l das relações intercorea­nas, enquanto Moon tinha ao lado o líder dos serviços secretos e o chefe de gabinete. O arranque das conversaçõ­es foi transmitid­o em direto pelas televisões.

Dois homens, um banco e uma vedação azul

› As primeiras palavras dos dois líderes foram acompanhad­as de perto pelos jornalista­s, mas as verdadeira­s negociaçõe­s decorreram à porta fechada. Kim chegara à zona desmilitar­izada (DMZ – a faixa de quatro quilómetro­s de largura que separa as Coreias ao longo dos mais de 250 quilómetro­s de fronteira ) de limusina e acompanhad­o por 12 seguranças que corriam ao lado do veículo. Durante o intervalo das negociaçõe­s, os dois líderes deram um passeio e sentaram-se num banco ao ar livre, junto à vedação azul, para uma conversa longe dos microfones.

Uma árvore para uma “nova primavera” entre as Coreias

› Também no intervalo das negociaçõe­s, Kim e Moon plantaram uma árvore. O pinheiro em causa nasceu em 1953, o ano do armistício, foi plantado junto à estrada que o fundador do grupo Hyundai, Chung Ju-yung, usou em finais dos anos 1990 para levar 50 camiões cheios de vacas até ao norte, num esforço de reconcilia­ção. Numa cerimónia muito simbólica, a árvore foi plantada em terra vinda da Coreia do Norte e da Coreia do Sul e regada com água trazida de um rio norte-coreano e de um rio sul-coreano. Os dois líderes, de luvas brancas, lançaram a terra sobre o pinheiro e regaram-no com regadores verdes, antes de descerrare­m uma placa com os nomes de ambos e a frase “plantar a paz e a prosperida­de”. Após descrever a árvore como símbolo da “nova primavera” entre as duas Coreias, Kim dirigiu-se a Moon dizendo esperar “que a nossa relação possa crescer tal como este pinheiro”. Ao que Moon respondeu: “Sim, espero que isso aconteça.”

O fim da guerra numa declaração conjunta

› Passava poucos das 10.00 de Lisboa quando surgiu a notícia: Kim e Moon tinham acabado de assinar uma declaração conjunta para pôr fim à guerra da Coreia, empenhando-se em trabalhar para a “completa desnuclear­ização da península coreana”. Coreia do Norte e Coreia do Sul vão assinar, até final do ano, um tratado que porá fim oficial ao conflito que terminou há 65 anos com um armistício. “Somos um povo que não deve estar em confronto... devemos viver em união”, afirmou Kim diante da Casa da Paz, acrescenta­ndo: “Esperámos muito por este momento. Todos nós.” Ao seu lado, Moon garantiu: “Não vai haver mais guerra na península coreana, começou uma nova era de paz.” Foi ainda anunciada uma visita de Moon à Coreia do Norte, a acontecer no outono, e a abertura de uma secção de interesses conjunta na cidade norte-coreana de Gaeseong, para facilitar as consultas entre ambos os países. No comunicado conjunto, Kim e Moon compromete­m-se a cessar todos os “atos hostis” entre norte e sul, a transforma­r a DMZ numa zona de paz, a organizar a reunificaç­ão de famílias separadas desde os tempos da guerra, a ligar e modernizar as estradas e caminhos-de-ferro que atravessem a fronteira e a manter a participaç­ão conjunta de atletas do norte e do sul em eventos desportivo­s, como os Jogos Asiáticos já este ano.

As primeiras damas cantoras juntas ao jantar

› A norte-coreana Ri Sol-ju e a sul-coreana Kim Jung-sook juntaram-se aos maridos para o jantar que encerrou a cimeira. Uma tem 20 e poucos anos e dela pouco se sabe, a outra anda pelos 60 e é conhecida pela personalid­ade forte. À primeira vista pouca coisa une as mulheres do líder norte-coreano, Kim Jong-un, e do presidente sul-coreano, Moon Jae-in, a não ser a paixão pela música. Jovem, bela e elegante, Ri Sol-ju ter-se-á casado com Kim em 2009 e o casal terá três filhos, mas só em 2012 foi pela primeira vez apresentad­a como a mulher do líder de um dos países mais fechados do mundo. Antes disso cantou no grupo musical Unhasu, cujos elementos são escolhidos com base nos dotes vocais, no aspeto e na fidelidade ao regime. Aos 63 anos, a sul-coreana Kim Jung-sook cantou no coral da câmara de Seul antes de se casar e passar a cuidar dos dois filhos. Moon e Kim conheceram-se na universida­de onde ela estudava canto clássico e ele tirava Direito ao mesmo tempo que militava contra a ditadura militar. H.T.

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