Diário de Notícias

Governo corta 100 milhões nas rendas excessivas da EDP

Executivo decidiu seguir a recomendaç­ão do regulador e fixar em 154 milhões o valor do ajustament­o final dos CMEC na próxima década. EDP reclama o pagamento de 256 milhões

- B Á R B A R A S I LVA

A elétrica reclama o pagamento de 256 milhões mas o executivo decidiu seguir a recomendaç­ão do regulador e não ir além de 154 milhões, a pagar até 2027. EDP deverá avançar para tribunal.

ERSE fala de 510 milhões de rendas excessivas pagas à EDP, mas as contas que agora estão a ser feitas pela DGE devem apontar para um valor mais baixo

A decisão chega com quase seis meses de atraso, mas o governo decidiu finalmente o valor que a EDP irá receber até 2027 pela parcela variável dos polémicos contratos CMEC ( custos para a manutenção do equilíbrio contratual), que asseguram rendas fixas a várias centrais da empresa: 154,1 milhões de euros ( cerca de 15 milhões por ano), seguindo assim à letra a recomendaç­ão que já tinha sido feita pela Entidade Reguladora dos Serviços Energético­s ( ERSE) no seu estudo de setembro de 2017. A este valor soma- se ainda uma parcela fixa total de 675 milhões de euros.

De acordo com o despacho, a que o DN/ Dinheiro Vivo teve acesso ( homologado pelo secretário de Estado da Energia, Seguro Sanches, no passado dia 25 de abril), trata- se de um corte de 102,4 milhões face ao valor apurado pelo grupo de trabalho constituíd­o pela REN – Redes Energética­s Nacionais e pela EDP, que apontava para um valor do ajustament­o final dos CMEC na ordem dos 256,5 milhões, o que significa que a EDP poderá agora avançar para tribunal contra o Estado, tal como já tinha prometido fazer. Tanto a EDP como a ERSE foram notificada­s desta decisão do governo na sexta- feira, 27 de abril. “O montante do ajustament­o final apurado e fundamenta­do pela ERSE traduz- se num CMEC positivo de 154,1 milhões de euros”, pode ler- se no documento assinado pelo secretário de Estado, que acrescenta ainda: “A interpreta­ção defendida e utilizada pela ERSE no apuramento do montante do ajustament­o final tem pleno acolhiment­o na lei.”

No entanto, este valor de 154,1 milhões a pagar à EDP na próxima década poderá ainda ser revisto e reduzido na sequência da “auditoria (...) a respeito do risco de sobrecompe­nsação e à identifica­ção e apuramento do efeito financeiro das situações considerad­as inovatória­s ponderadas nos CMEC, que não existiam nos CAE”, sublinha o documento no final. Destas “situações inovatória­s” fazem parte, por exemplo, as obras de benfeitori­a ambiental realizadas na Central de Sines ao longo dos anos, entre outras.

Neste momento, a ERSE e a Direção- Geral de Energia ( DGE) estão a fazer as contas à homologaçã­o anual dos CMEC entre 2007 e 2017, para apurar este mesmo impacto financeiro, a pedido da Secretaria de Estado da Energia, e na sequência de um parecer do Conselho Consultivo da Procurador­ia- Geral da República, que admite que os contratos CMEC possam ser nulos caso tenham sido introduzid­as alterações ao quadro legal aprovado em 2004, sem passar por uma lei da Assembleia da República. Apesar de o governo ter pedido esta informação no espaço de 30 dias, o DN/ Dinheiro Vivo sabe que a DGE já pediu um adiamento do prazo, sem qualquer previsão de data de entrega das contas finais. “Não se afigura provável que aqueles procedimen­tos terminem num curto prazo”, confirma o despacho, avisando ainda que o valor do ajusta- mento final dos CMEC “poderá vir a ser objeto de posterior acerto, em função dos resultados”.

No seu estudo de setembro, a ERSE fala de 510 milhões de euros de rendas excessivas pagas à EDP ( valor já contestado pela empresa), mas fonte conhecedor­a do processo confirmou que o valor que a elé- trica poderá ter de devolver é substancia­lmente inferior, e situa - se entre os 200 e os 300 milhões de euros. Na última década, os CMEC já pesaram 2,5 mil milhões de euros nas faturas dos consumidor­es.

O despacho que agora veio a público esvazia ainda as conclusões do grupo de trabalho da EDP e da REN. “O cálculo do ajustament­o final é da competênci­a da ERSE. (...) Parece que a EDP Produção pretende inverter os papéis transforma­ndo a ERSE em mera colaborado­ra do grupo de trabalho que foi constituíd­o, precisamen­te, para com ela colaborar.” A EDP contestou as conclusões da ERSE e a metodologi­a usada no estudo para apurar o valor do ajustament­o final, mas o despacho agora aprovado diz que as questões levantadas pela empresa “não suscitam questões de legalidade que obstem à homologaçã­o do montante”.

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António Mexia, CEO da EDP, foi constituíd­o arguido no âmbito da investigaç­ão judicial aos CMEC

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