Diário de Notícias

Partidos admitem alterações à “lei Uber” vetada por Marcelo

Presidente invoca falta de equilíbrio do diploma face ao setor do táxi

- S USE TE FRANCISCO

O diploma que regulament­a o transporte em veículos descaracte­rizados a partir de uma plataforma eletrónica ( o chamado TVDE, que abrange operadores como a Uber, a Cabify ou a Taxify) foi devolvido ao Parlamento sem promulgaçã­o pelo Presidente da República, e os partidos preparam- se agora para adequar o texto às preocupaçõ­es manifestad­as por Marcelo Rebelo de Sousa. A proposta ontem vetada foi aprovada na Assembleia da República com os votos de PS, PSD e CDS.

Pelo PS, Luís Testa, coordenado­r dos socialista­s na comissão parlamenta­r de Economia, diz que a bancada socialista vai agora analisar o veto presidenci­al para que a atividade daquelas operadoras “seja regulament­ada com base nas preocupaçõ­es manifestad­as” pelo Presidente da República. Uma das quais, defende, foi uma preocupaçã­o de primeira hora na elaboração deste diploma. “O PS sempre expressou essa necessidad­e de acautelar interesses de atividades conexas”, diz o deputado, numa referência ao setor do táxi.

No texto em que fundamenta a não promulgaçã­o, Marcelo Rebelo de Sousa levanta “duas reservas políticas de fundo” ao documento aprovado na Assembleia da República. Por um lado, “ao abranger só uma das entidades concorrent­es”, o Parlamento “perde a oportunida­de de, ao mesmo tempo, rever, em conformida­de, o regime legal da outra entidade ( os táxis)”. Ou seja, “perde a oportunida­de de tratar de forma global e com maior equidade o que assim poderia e deveria ter sido tratado”.

Apesar de “reconhecer o esforço” do governo e dos partidos para tentar encontrar uma solução equilibrad­a, Marcelo diz que esse objetivo “não foi plenamente atingido”. Isto porque os táxis mantêm contingent­es ( limitação ao numero de veículos), o que não se aplicará aos TVDE. E porque os táxis estão obrigados a praticar tarifas fi- xas, uma imposição legal que não abrange empresas como a Uber. “Duas diferenças económico- financeira­s de peso” – em desfavor do setor do táxi – que não têm contrapont­o noutras medidas. Para Marcelo a contribuiç­ão a que ficam obrigadas as operadoras de TVDE “acabou por ficar, no seu valor concreto, nas mãos das autoridade­s administra­tivas, e com um patamar mínimo simbólico”.

Além do PS, também o CDS mostra disponibil­idade para avançar com alterações ao diploma. À Lusa, o deputado centrista Hélder Amaral reagiu com “alguma surpresa” ao veto de Belém, mas admitiu que o partido “vai tentar ser mais claro e preciso”. Pelo PSD, Emídio Guerreiro, vice- presidente da bancada parlamenta­r, foi mais recuado, afirmando que o PSD tomará uma decisão depois “analisar os argumentos do Presidente”.

A decisão de Marcelo mereceu ontem o elogio da Federação Portuguesa do Táxi e da Associação Nacional dos Transporte­s Rodo - viários em Automóveis Ligeiros ( ANTRAL), desde o início críticas deste diploma. Do lado oposto, fonte oficial da Uber afirmou que a empresa ficará a aguardar pela “breve aprovação de um quadro regulatóri­o moderno e transparen­te para a mobilidade nas cidades portuguesa­s, que traga a devida clareza jurídica à atividade de mais de cinco mil motoristas.” Já a Cabify disse que vai colaborar com a Assembleia de República para “uma regulação progressis­ta” do setor.

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Marcelo diz que a contribuiç­ão que a lei exige ao TVDE é “simbólica”

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