Procura de vida noutros planetas vence CanSat
Final nacional de construção de satélites do tamanho de latas terminou ontem. Vencedores vão à final europeia com microssatélite que mede variáveis para encontrar vida
Segundo lugar ganhou um estágio na empresa Edisoft e terceiro lugar ganhou uma ocupação científica à escolha
“Há momentos em que corre tudo bem e ontem [ sábado] foi um desses dias.” É assim que o professor de Física e Química Dário Zabumba descreve a prestação da sua equipa de alunos do Colégio Guadalupe, no concelho de Seixal, que venceu a final nacional do CanSat Portugal – a competição para escolas secundárias e profissionais para a construção de um satélite do tamanho de uma lata de refrigerante ( daí o nome Can ( lata, em inglês) Sat ( de satélite). A Gsat vai ser a representante portuguesa na final europeia da competição da Agência Espacial Europeia ( ESA), que neste ano também vai ter lugar na ilha de Santa Maria, nos Açores.
Depois de três dias em que as 16 equipas estiveram a terminar e a acertar os detalhes dos seus satélites, para os lançarem no sábado e apresentarem os resultados finais ontem de manhã, o júri deliberou e a Gsat acabou por ser a equipa vencedora. Um feito inédito para o grupo de cinco alunos, quatro dos quais estreantes na competição e um “trirrepetente”. E que encheu também de orgulho o professor que esteve presente nas cinco edições do CanSat, sempre com grupos diferentes. A lata lançada pela equipa pretendia descobrir se há vida noutros planetas: “A eterna pergunta”, como a classificaram os alunos na apresentação final, sempre feita em inglês. Os sensores que instalaram mediram todas as variáveis de acordo com o esperado e, como foi lançado na Terra, “naturalmente encontrou condições propícias à existência de vida”, concluíram os cientistas desta missão, enquanto o professor na plateia da Biblioteca Municipal de Vila do Porto ( Santa Maria, Açores) ia filmando a prestação. Ter tudo pronto foi o segredo O segredo da vitória: “Foi importante ter um professor motivado, mas acho que correu tudo bem por causa dos testes. Nós testámos tudo antes de vir para cá. Acho que isso deu resultado. Tínhamos tudo pronto e testado antes de virmos”, nas palavras de Lara Alves, de 15 anos, que tiveram a concordância dos dois Guilhermes da equipa, do Duarte e do Diogo.
Agora que conquistaram o primeiro lugar, aguarda- os defenderem o título nacional na competição europeia, marcada para os dias 28, 29 e 30 de junho e 1 de julho. Neste ano também na ilha de Santa Maria. O grupo garante que não vai mudar nada, a não ser tornar a sua lata satélite mais “fancy”.
Além do primeiro lugar foram também entregues as medalhas de prata e de bronze. O segundo lugar coube à equipa Satfree, do Colégio Valsassina, em Lisboa. O grupo viu o seu estudo sobre a resistência da mosca da fruta ao impacto de um lançamento ser distinguido e conquistaram um estágio de uma semana na empresa Edisoft ( que tem a concessão da base da ESA na ilha de Santa Maria) e que é parceira do CanSat Portugal.
O terceiro lugar coube à equipa Alph@ pelos resultados conseguidos na sua missão de estudar a força de impacto no solo durante a queda do satélite e fazer uma trajetória 3D graças a um GPS. Como prémio, os alunos da Secundária José Gomes Ferreira, de Lisboa, ganharam uma ocupação científica à escolha durante as férias.
O júri decidiu ainda entregar uma menção honrosa à equipa Rhocan, da escola profissional de estudos técnicos de Lisboa que escolheram como missão identificar e seguir os aviões em voo, de forma a que não se perca a sua localização em caso de acidente em zonas mais remotas.
Mariano Gago lembrado Antes da revelação dos vencedores, o presidente do júri, o professor e consultor da ESA Manuel Paiva, elogiou a participação de escolas técnicas, a melhoria de ano para ano da qualidade das propostas e ainda recordou o antigo ministro da Ciência José Mariano Gago por ter sido sob a sua tutela que Portugal assinou a entrada na ESA. Presente na edição deste ano, o atual ministro da Ciência e Tecnologia, Manuel Heitor – cujo percurso como cientista foi também elogiado por Manuel Paiva –, incentivou os jovens a prosseguirem carreiras no espaço, especialmente “nas indústrias do novo espaço”, ou seja, no desenvolvimento dos micro e nanossatélites e os lançadores para esses satélites. E referiu a aprovação há dois meses da nova estratégia nacional para o espaço, que vai apostar nas tecnologias para os novos mercados ( aplicação em agricultura, segurança ou pesca), nos microssatélites e nos microlançadores de satélites, onde Santa Maria se pode afirmar como plataforma de lançamento.
Já a presidente da Ciência Viva, que coordena o CanSat em Portugal, Rosalia Vargas, mostrou- se visivelmente satisfeita pelo entusiasmo demonstrado pelos estudantes. Sublinhando que “Portugal, em matéria de educação e cultura científica, está no top 5 mundial”. Um trabalho feito graças aos 22 centros Ciência Viva do país. A jornalista viajou a convite da Ciência Viva