Diário de Notícias

Revolução de veludo arménia deixa opositor à beira do poder

Após duas semanas à frente das manifestaç­ões, ex- jornalista Nikol Pachinian tem o caminho livre para ser eleito amanhã primeiro- ministro. O objetivo é convocar eleições livres

- S USANA S A LVA DOR

Depois de terem conseguido afastar o ex- presidente e recém- eleito primeiro- ministro Serge Sarkissian, os arménios continuam nas ruas para garantir uma segunda vitória: a eleição do opositor Nikol Pachinian para a chefia do governo. “Vamos continuar as manifestaç­ões até que o candidato do povo chegue ao poder”, disse ontem um manifestan­te à AFP. O caminho parece livre, já que o partido de Sarkissian, que tem a maioria no Parlamento e renunciou a apresentar uma alternativ­a, confirmou que não irá travar a eleição do ex- jornalista se toda a oposição apoiar a sua candidatur­a.

Mais de duas semanas depois do início dos protestos, Pachinian, de 42 anos, não quer que os arménios desistam. “Estou a pedir a todos os cidadãos da Arménia para irem para as ruas a 1 de maio, desde manhã cedo, e inundarem todas as ruas e praças, incluindo em redor da Assembleia Nacional”, afirmou. Deputado desde 2012, e atual líder da aliança Saída, já era uma das vozes críticas da presidênci­a de Sarkissian quando esteve à frente de um dos jornais de maior circulação da Arménia, The Armenian Times.

Eleito presidente em 2008, após um ano como primeiro- ministro, Sarkissian, antigo militar de 63 anos, aproximou o país de 2,9 milhões de pessoas da Rússia, aderindo à União Económica Euro- Asiática. Moscovo tem também duas bases militares na pequena república do sul do Cáucaso independen­te desde 1991, que mantém um conflito com o vizinho Azerbaijão por causa do Nagorno- Karabakh e um diferendo com a Turquia pelo que considera um genocídio durante a Primeira Guerra Mundial. Mas não foram as questões externas que causaram os protestos.

Os manifestan­tes criticam o facto de Sarkissian não ter conseguido diminuir a pobreza e a corrupção no país e acusavam- no de querer agarrar- se ao poder. Depois de uma reforma constituci­onal aprovada no final de 2015, o cargo de presidente passou a ser meramente cerimonial – o ex- embaixador no Reino Unido Armen Sarkissian ( sem parentesco com o antecessor) tomou posse a 9 de abril. O poder ficou então nas mãos do primeiro- ministro, com Serge Sarkissian a ser eleito para a chefia de governo por parte dos deputados – o seu Partido Republican­o tem 58 dos 105 lugares na Assembleia Nacional.

Desde o primeiro momento que Pachinian assumiu a liderança dos protestos, que começaram a 13 de abril. Após uma semana nas ruas, e depois de uma reunião da qual Sarkissian saiu ao final de poucos minutos acusando o opositor de o querer “chantagear”, o ex- jornalista foi detido juntamente com duas centenas de manifestan­tes. Uma detenção que desencadeo­u críticas da União Europeia.

Entretanto, a 23 de abril, após 11 dias de protestos, Sarkissian anunciava a demissão. “No atual cenário, há várias soluções, mas não vou escolher nenhuma delas. Não é o meu estilo. Estou a deixar a liderança do país e o cargo de primeiro- ministro da Arménia”, disse num comunicado. Nesse mesmo dia, soldados desarmados tinham- se juntado aos manifestan­tes nas ruas. Pachinian foi entretanto libertado, iniciando depois uma digressão pelo país ao encontro dos seus apoiantes. A Assembleia Nacional marcou uma sessão extraordin­ária para dia 1 de maio para eleger o novo primeiro- ministro, com Karen Karapetian ( do Partido Republican­o) a assumir o cargo interiname­nte.

Mas, depois de negociaçõe­s com os partidos opositores, Pachinian surge como o único candidato. Ainda mais depois de o partido maioritári­o anunciar que não iria propor qualquer nome. “Ao não apresentar candidato, evitamos o confronto e um aumento nos riscos para a segurança”, disse um porta- voz do partido. “Não estamos a propor ninguém em nome do interesse nacional.” Após negociaçõe­s com Pachinian, o líder parlamenta­r republican­o, Vahram Baghdassar­ian, disse que o partido não ia “impedir a eleição do candidato do povo” se as três fações opositoras o apoiassem.

O objetivo do ex- jornalista quando chegar ao poder é convocar eleições antecipada­s. “Queremos garantir que essas eleições serão realmente livres, transparen­tes e verdadeira­mente democrátic­as”, disse num dos protestos. “De outra forma, essa votação não teria qualquer significad­o”, acrescento­u.

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Opositores convocados por Nikol Pachinian voltaram ontem a sair às ruas em Erevan
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Nikol Pachinian, de 42 anos, é o único candidato a primeiro- ministro

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