Diário de Notícias

Diogo Alves, o serial killer galego do Aqueduto das Águas Livres

- BEGOÑA ÍÑIGUEZ CORRESP. RÁDIO CADENA COPE E DO JORNAL LA VOZ DE GALICIA

OAqueduto das Águas Livres de Lisboa, símbolo do desenvolvi­mento, avanço e esplendor do Portugal do século XVIII, guarda entre os seus arcos do vale de Alcântara, concretame­nte no topo do grande, de 65 metros de altura, trágicas lembranças do terror produzido pelas dezenas de assassínio­s, mais de 70, roubos e tropelias que um jovem com aspeto angelical e frieza extrema, Diogo Alves, cometeu na primeira metade do XIX. O brutal assassino, o primeiro serial killer galego, nasceu em 1810 numa pequena aldeia do concelho de Samos ( Lugo) do interior da Galiza, mas muito novo emigrou para Lisboa, onde serviu em casas de famílias abastadas, rompendo a tradição dos numerosos galegos que emigraram para Lisboa desde o final do século XVII.

Quase todos os galegos que chegaram a Lisboa, nos séculos XVIII e XIX, o fizeram para trabalhar na construção do inovador e revolucion­ário sistema, inspirado no que tinham construído os romanos no século III, que abasteceu os lisboetas com água até 1967, mas outros tornaram- se aguadeiros, já que 90% destes eram galegos. A água percorria 15 quilómetro­s, desde a Mãe da Água Velha, no concelho de Sintra, até chegar a Lisboa. O Aqueduto das Águas livres, construído entre 1731 e 1799, era o eixo principal do sistema formado pelo impression­ante depósito da Mãe de Água nas Amoreiras, as galerias subterrâne­as de mais de 30 quilómetro­s, pelas quais se transporta­va água até aos chafarizes, palácios e edifícios públicos, e a Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinho­s, perto de Santa Apolónia, a última a ser feita, em 1880, para abastecer de água a zona oriental.

Em 1836, Diogo Alves começou com o seu modus operandi brutal, depois de formar o seu próprio gang, roubar e falsificar várias chaves, para poder circular discretame­nte e à vontade pelas galerias subterrâne­as da Mãe de Água, aceder ao aqueduto, roubar e extorquir as suas vítimas para depois as atirar do topo do arco grande do aqueduto para que as autoridade­s não suspeitass­em dele e pensassem que se tratava de suicídio. Assim aconteceu inicialmen­te, já que “nessa altura havia grande instabilid­ade política em Portugal, devido à revolução liberal. Havia fome entre as classes sociais mais baixas, por isso não surpreendi­a que alguém se decidisse a terminar com a sua vida no vale de Alcântara”, explica um dos guias da EPAL, durante uma visita às galerias subterrâne­as que começam na Mãe de Água, nas Amoreiras, e vão até ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, no Príncipe Real. “Só quando, em 1837, o número de mortes no vale de Alcântara aumentou alarmantem­ente é que se começou a suspeitar de alguma coisa. Os cidadãos que atravessav­am diariament­e o aqueduto para ir dos subúrbios até às zonas abastadas da Lisboa da época começavam a ter medo”, conta o guia.

Diogo Alves nunca foi denunciado pelos homicídios das Águas Livres, já que o aqueduto depois de tantos crimes por resolver ficou fechado ao trânsito de pessoas, em 1837 e durante várias décadas. Foi por isso que, a partir de então, o galego não matou mais ninguém no aqueduto. Ajudado pela sua “quadrilha” continuou a roubar e a matar pessoas, como o massacre cometido na família de um conhecido médico da época. O suspeito foi entregue às autoridade­s, três anos depois, por alguém do seu próprio grupo e nunca foi aberta uma investigaç­ão contra ele pelas mortes no vale de Alcântara. Alves foi condenado à morte pelo massacre à família de um médico e decapitado em fevereiro de 1841, no Cais do Tojo de Lisboa, nesse mesmo ano, sendo um dos últimos a quem se aplicou a pena de morte em Portugal.

Depois de ser enforcado, a cabeça do criminoso foi entregue a prestigios­os médicos da época, da Escola Médico- Cirúrgica. Os investigad­ores queriam estudar o que se escondia por detrás daquela frieza e crueldade. A cabeça de Diogo Alves, conservou- se em perfeito estado, graças ao formol. Hoje permanece na Faculdade de Medicina de Lisboa. Chama a atenção o cabelo louro, os olhos claros e o rosto branco e fino, por detrás do que se escondia um homem sem nenhum tipo de escrúpulos, princípios ou compaixão pelas suas numerosas vítimas, que em muitos casos foram crianças.

Diogo Alves nunca foi denunciado pelos homicídios das Águas Livres, já que o aqueduto depois de tantos crimes por resolver ficou fechado ao trânsito de pessoas, em 1837 e durante várias décadas

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