Diário de Notícias

NA RUA ENTRE OS 650 EUROS DE SALÁRIO MÍNIMO E UM IRC DE 0% PARA O INTERIOR

As duas centrais sindicais celebraram o 1.º de Maio separadas por mais de 180 quilómetro­s, mas com duas bandeiras comuns: o aumento do salário mínimo e a contestaçã­o que vai em força para as ruas. A diferença mantém-se na forma: a UGT quer discutir 615 eu

- MIGUEL MARUJO e PAULA SOFIA LUZ

“Esta é uma bandeira político-sindical que não abdicamos de desfraldar. E será em sede de concertaçã­o social que será possível ir mais além”

CARLOS SILVA

SECRETÁRIO-GERAL DA UGT

“Temos de intensific­ar a ação e a luta em todos os locais de trabalho e fazer de maio um mês quente, um mês de luta intensa”

ARMÉNIO CARLOS

SECRETÁRIO-GERAL DA CGTP-IN

Separados por mais de 180 quilómetro­s de distância, os líderes das duas centrais sindicais apontaram ontem, nas respetivas manifestaç­ões do 1.º de Maio, ao mesmo alvo: o aumento do salário mínimo nacional já a 1 de janeiro de 2019. A única diferença (e substantiv­a) é o valor pedido – 615 euros para a UGT, 650 para a CGTP-IN. O governo, já se sabe, aponta aos 600 euros.

Para Carlos Silva, secretário-geral da UGT, esse valor é possível de atingir em sede de concertaçã­o social. “Estamos convictos”, atirou, no seu discurso em Figueiró dos Vinhos, que “será possível ir além do valor acordado em sedes partidária­s”. E defendeu o diálogo entre empregador­es e trabalhado­res: “Porque é nesta sede que se promove a paz social entre quem emprega e quem trabalha.”

A fasquia está colocada lá bem alto: no “maior 1.º de maio dos últimos anos”, como o caracteriz­ou Arménio Carlos, o secretário-geral da CGTP exigiu que o salário mínimo tenha um “aumento especial”.

“Este movimento de reivindica­ções e luta é para continuar e ampliar”, disse no palco da Alameda, em Lisboa, no final de uma manifestaç­ão que levou milhares Avenida Almirante Reis acima. “Reivindica­mos o aumento dos salários de todos os trabalhado­res nos setores públicos e privado mas também o aumento especial do salário mínimo nacional”, antecipand­o “a reclamação de que no dia 1 de janeiro de 2019 o salário mínimo nacional deve passar para 650 euros”. Sem margem para falhar: “Se quiserem [o governo] ir por esse caminho, contam com a CGTP, se quiserem optar por outro caminho, podem contar com a oposição da CGTP”, acrescento­u.

Mais: a luta é para sair à rua e fazer de maio um mês quente. Carlos Silva disse que chegou a hora. A UGT – sublinhou – “nunca teve receio de lutas, preferindo que as mesas de negociação sejam o palco preferido. Mas quando a via do diálogo conduz a resultado zero, então chega o momento de ir para a rua. E é isso que acontecerá nos próximos dias”, avisou Carlos Silva, referindo-se à greve convocada pela Fesap (Federação de Sindicatos da Administra­ção Pública e de Entidades com Fins Públicos).

Arménio Carlos alinhou idênticos argumentos. “Temos de intensific­ar a ação e a luta em todos os locais de trabalho e fazer de maio um mês quente, um mês de luta intensa. Uma luta para a qual estamos todos convocados e que irá convergir numa grande manifestaç­ão nacional, em Lisboa, no dia 9 de junho, do Marquês de Pombal para os Restaurado­res”, antecipou o líder da CGTP.

Outra exigência de Arménio Carlos é que, “urgentemen­te”, “o governo assuma publicamen­te” que no Orçamento do Estado para 2019 “vai lá colocar uma cláusula de que vai mesmo haver aumentos” no próximo ano para todos os trabalhado­res do privado e do público.

Recordando que Marcelo Rebelo de Sousa disse no 25 de Abril que a democracia tem de ter equilíbrio­s, o líder da CGTP avisou o “senhor Presidente da República” de que “este é o tempo do governo acabar com os desequilíb­rios que existem na legislação do trabalho e assegurar que os direitos, liberdades e garantias constituci­onais não fiquem à porta das empresas”.

“Um passo de cada vez”

A secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, saiu ao caminho de Arménio Carlos, ainda a manifestaç­ão estava parada no Martim Moniz, para lhe pedir que não dê um passo maior do que a perna. “Não podemos dar todos os passos ao mesmo tempo para chegar ao fim. É um passo de cada vez para alcançar a meta”, disse ao sindicalis­ta.

“O que queremos fazer no próximo ano é continuar o caminho da melhoria de vida dos nossos trabalhado­res. Se aumentámos os rendimento­s, fomos capazes de aumentar as pensões e devolver a dignidade no trabalho nos últimos dois anos e meio, no próximo ano e meio é para continuar esse trabalho”, explicou-se Ana Catarina Mendes aos jornalista­s, com Arménio Carlos a ouvi-la. Pouco convencido, como se perceberia hora e meia depois.

Taxa a 0% de IRC para o interior

Já o secretário-geral da UGT defendeu a redução do IRC à taxa de 0% (durante um período inicial de três anos, passando gradualmen­te para uma taxa reduzida) como forma de garantir a atração de empresas para o interior. A ideia é ter “como con- trapartida a obrigação de criar postos de trabalho, sendo uma parte deles com contrataçã­o sem termo”, sublinhou Carlos Silva.

“Mais do que falar do passado, importa hoje falar do futuro, do que importa fazer para que outras populações sejam atraídas para o interior do país e alterem este ciclo de muitas décadas de desertific­ação, de envelhecim­ento das populações e de baixa natalidade, de falta de investimen­to público e privado que fixe os jovens e atraia outros”, apontou, num dos concelhos mais fustigados pelos incêndios de 2017.

“Porque não atribuir uma taxa de IRC [imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas] de 0% durante um período de início de implantaçã­o das empresas”, propôs Carlos Silva, que falava à agência Lusa à margem das comemoraçõ­es da UGT do 1.º de Maio, em Figueiró dosVinhos, distrito de Leiria.

O cartaz é uma arma

Longe destas reivindica­ções, ontem, pela Avenida Almirante Reis acima, muitos disseram de si, em cartazes que fugiram às palavras de ordem ensaiadas nos altifalant­es dos carros de som. Uns que resumem que a “liberdade é poder fumar o que quiser”, que querem a sua freguesia de volta ou uma “campanha por outra lei da nacionalid­ade”, com um recado simples: “Quem nasce em Portugal é português – e ponto final.”

Nem os tropeções entre seguranças da organizaçã­o e alguns militantes do Bloco de Esquerda tirou chama à manifestaç­ão. E aos empurrões do tipo de auricular, a senhora respondeu-lhe: “Sectário!”

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