Diário de Notícias

Greves adiam 18 mil cirurgias, muitas para o próximo ano

Primeiras paralisaçõ­es acontecem hoje e amanhã, mas há mais protestos de médicos, pessoal técnico e administra­tivos marcados para este mês. A cada dia de paragem, mais de três mil operações ficam em risco, alertam os administra­dores hospitalar­es, que não

- PEDRO VILELA MARQUES

As greves deste mês na saúde ameaçam deixar 18 mil cirurgias por fazer. As contas resultam de estimativa­s adiantadas ao DN pelo presidente da Associação Portuguesa de Administra­dores Hospitalar­es (APAH), que apontam para cerca de três mil operações programada­s que têm de ser adiadas por cada dia de paralisaçã­o no setor. Muitas delas não serão sequer compensada­s ainda neste ano. Entre médicos e restantes profission­ais de saúde, maio vai registar um pouco habitual número de seis dias de greve nesta área, os primeiros dos quais já hoje e amanhã.

“E no primeiro trimestre já tivemos outros dois dias de greve”, lembra o dirigente da APAH, que acrescenta que com paralisaçõ­es sucessivas será mais difícil de compensar a atividade perdida. “Até porque estamos num período de maiores dificuldad­es nos hospitais, com muitos feriados a meio da semana, com pontes, a que se juntam restrições na contrataçã­o de profission­ais. Não sendo realizada agora, alguma desta atividade programada não será recuperada neste ano”, explica Alexandre Lourenço.

Os trabalhado­res que estão sob tutela do Ministério da Saúde, à exceção de médicos e enfermeiro­s, são os primeiros a parar. Um protesto do Sindicato dos Trabalhado­res da Administra­ção Pública (UGT) que serve de antecâmara à greve de três dias da próxima semana marcada pelos sindicatos dos médicos e que se vai repetir no dia 25, dessa vez pela mão da CGTP. Mas as consequênc­ias nos hospitais e centros de saúde são diferentes, caso falemos de greves de médicos ou de outros profission­ais? “O impacto na atividade programada é semelhante”, responde Alexandre Lourenço. “Os serviços de saúde exigem a participaç­ão de vários profission­ais em trabalho de equipa, portanto se um assistente técnico não estiver ao serviço a atividade programada pode ficar em causa, da mesma que forma que se um administra­tivo fizer greve isso pode afetar a realização de consultas.”

Adiamentos que vão fazer aumentar as listas de espera para primeiras consultas e cirurgias, lembra o porta-voz do Movimento de Utentes dos Serviços de Saúde, que ainda assim não deixa de apoiar a realização das greves. “Os utentes sentem alguns prejuízos, mas também reconhecem que, para terem bons cuidados de saúde, os profission­ais têm de ter melhores condições físicas e nas suas carreiras”, argumenta Manuel Villas-Boas.

“O culpado é o governo”

Para Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independen­te dos Médicos (SIM), que juntamente com a Federação Nacional dos Médicos agendou o protestos dos dias 8,9 e 10, os transtorno­s causados aos utentes têm um responsáve­l: o governo. “Fizemos uma greve em maio de 2017, outra em outubro e anunciámos esta há três meses, e temos feito sempre apelos e tentado reunir com o ministro da Saúde para evitar esta situação”, sublinha Roque da Cunha, que acusa o ministério de “falácias” quando diz que as propostas do SIM colidem com imposições das Finanças: “Por exemplo, quando propomos a redução do número de horas nas urgências, aumentaria­m as cirurgias programada­s, o que teria impacto posterior nas próprias idas às urgências.”

Com esta verdadeira vaga de protestos na saúde – que pode engrossar já hoje, após nova ronda de negociaçõe­s entre o governo e os técnicos de diagnóstic­o, que já falam numa “greve à vista” –, 2018 corre o risco de ver o número de dias perdidos por greve aumentar. Isto quando, em 2017, já tinham disparado em relação ao ano anterior: como o DN noticiou recentemen­te, em 2017, as paralisaçõ­es no setor levaram à perda de 116 mil dias de trabalho, quando no ano anterior tinham sido 68 mil.

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Seja uma greve de médicos ou de outros profission­ais de saúde, o impacto na atividade programada é semelhante
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