Diário de Notícias

A rede social que liga três milhões de expatriado­s à cidade e entre si

Há quem diga que é uma mistura de Facebook e LinkedIn, mas com a particular­idade de organizar eventos e atividades offline para os membros. É uma rede social que fornece aos expatriado­s informação útil sobre as cidades para onde vão viver, bem como fóruns

- JOANA CAPUCHO

“É uma espécie de incubadora para mentes internacio­nais que tenham vivido no estrangeir­o, ou que simplesmen­te queiram conhecer estrangeir­os. Podemos encontrar grupos e subgrupos para praticamen­te qualquer interesse.” Há dez anos inscrita na InterNatio­ns, Mira Novakova, dinamarque­sa, de 39 anos, encontrou na plataforma um “habitat natural”, já que sempre procurou rodear-se “por um ambiente internacio­nal”.

Mira é uma dos cerca de três milhões de membros inscritos na InterNatio­ns, aquela que diz ser a maior plataforma do mundo de expatriado­s. Registou-se há cerca de dez anos, quando saiu da Dinamarca, e continua a usá-la desde então. Está há dois em Lisboa, onde tem participad­o em vários eventos oficiais organizado­s pelos embaixador­es portuguese­s da InterNatio­ns, geralmente em hotéis ou restaurant­es.

“A beleza disto é que se pode encontrar pessoas com interesses específico­s ou simplesmen­te aproveitar para pôr a conversa em dia com amigos. A atmosfera é sempre agradável e podemos encontrar pessoas diferentes, que partilhem a sua experiênci­a internacio­nal”, diz Mira. A trabalhar no mercado imobiliári­o e de energias renováveis, revela que além de ter conhecido “amigos fantástico­s”, a plataforma já lhe proporcion­ou vários “contactos profission­ais”.

Ao DN, Malte Zeeck, fundador e co-CEO da InterNatio­ns, explica que “nos últimos dez anos, a plataforma passou de um nicho de mercado nas redes, fundada por amigos que viviam no estrangeir­o, para a comunidade número um para expatriado­s e mentes globais. São três milhões de membros e 390 comunidade­s”. O objetivo principal, explica, “é tornar a vida dos expatriado­s muito mais fácil”.

Por cá, existem comunidade­s em Lisboa (17 300 membros, a maioria portuguese­s, britânicos, brasileiro­s, franceses e americanos), Porto (4500) e Cascais (3100). Não há planos para a abertura de outras, mas os responsáve­is não excluem a hipótese de poderem surgir no futuro. Em todo o mundo, há 37 mil portuguese­s inscritos na InterNatio­ns.

Com a ajuda da plataforma, indica Malte Zeeck, “os expatriado­s são capazes de, rapidament­e, reconstrui­r redes sociais e profission­ais de muitas maneiras: durante eventos locais e atividades, podem conhecer outros expatriado­s e residentes; os fóruns online permitem colocar questões livremente sobre a expatriaçã­o e participar em discussões; e o site contém uma grande variedade de artigos com informação útil sobre a nova cidade e a vida de expatriado em geral”.

Facebook e LinkedIn juntos

A InterNatio­ns dá suporte a quem vai viver e trabalhar para uma cidade nova. Rodrigo Ferreira, de 44 anos, contactou com a plataforma durante a sua expe-

no estrangeir­o, como expatriado. Há três anos, quando regressou a Lisboa, surgiu a oportunida­de de ser embaixador, um trabalho voluntário que desenvolve desde então. “É uma forma de devolver o apoio que recebi em diferentes momentos”, diz ao DN.

Segundo Malte Zeeck, existem mil embaixador­es espalhados pelas comunidade­s. “São voluntário­s responsáve­is por organizar eventos oficiais. E funcionam também como o nosso contacto oficial para os expatriado­s nas suas comunidade­s”, explica. Só em Lisboa, existem cerca de 20 eventos por mês, já que, além dos oficiais, os grupos de interesses (teatro, gastronomi­a, yoga, entre muitos outros) podem organizar eventos livremente.

Na opinião de Rodrigo, a InterNatio­ns “é como uma mistura entre o Facebook e o LinkedIn, com a vantagem de ter o face-to-face, a possibilid­ade de conhecer pessoas pessoalmen­te”. A ideia, prossegue, “é permitir às pessoas que estão fora que se conectem com outras pessoas, troquem experiênci­as e contactos para resolverem problemas como a integração na sociedade, conhecer a cidade, tratar de burocracia­s”. Para além do “networking profission­al”, que “é um componente importante”.

Relativame­nte a outras redes sociais, Rodrigo Ferreira diz que a grande mais-valia da InterNatio­ns é que “não vive só no online”, tem a vantagem “de promover o contacto direto”. Segundo o embaixador, “há muitas pessoas assíduas nos eventos, o que transmite a vontade de estarem presentes, de se relacionar­em”. Além disso, salienta o facto de “qualquer membro poder ter a iniciativa de organizar os seus próprios eventos” e de a plataforma “facilitar informação cultural e socioeconó­mica sobre as cidades”.

Não é uma comunidade para estudantes. Em Lisboa, por exemplo, a média de idades dos utilizador­es ronda os 40 anos. E 27% são portuguese­s. “Alguns estiveram fora e regressara­m, como eu. Outros têm intenção de ir para fora e estão a preparar a sua saída”, refere Rodrigo, que trabalha na área de marketing. Nota que há uma tendência para, numa primeira instância, as pessoas “se juntarem por nacionalid­ades”, mas há também “a necessidad­e de conhecer pessoas de todas as nacionalid­ades e ter outras experiênci­as”.

E assim surgem amizades

Leonardo Silva, de 35 anos, engenheiro eletrotécn­ico, conheceu a InterNatio­ns há seis anos, em Bruxelas, onde existe uma comunidade grande de expatriado­s inscritos. Tornou-se membro, e é embaixador há três, na cidade de Lisboa. Destaca a ajuda que os expatriado­s podem ter para tratar de “questões burocrátic­as, fiscais ou de alojamento”, assim como “a componente de networking social”. “Seja nos eventos maiores ou nos mais pequenos (idas ao teatro, ao cinema, voleibol na praia, danças, provas de vinhos), o foco é que as pessoas que acabaram de chegar a um país se encontrem, o que leva também a situações de amizade.”

Assim surgem relações de “namoro, empresaria­is, parcerias”. “Conheci a minha esposa, que é montenegri­na, num evento em Lisboa”, revela Leoriência nardo. Encontros que costumam acontecer “em hotéis de quatro ou cinco estrelas, bares, restaurant­es”. Eventos after-work drinks, em que são servidas bebidas e aperitivos.

Os membros que pagam mensalidad­e – Albatross Membership – têm, segundo o embaixador, uma tarifa mais reduzida nos eventos, assim como acesso a mais mensagens, por exemplo. Mas a plataforma está também disponível de forma gratuita.

Mentes abertas

Questionad­o sobre o perfil dos utilizador­es, Malte Zeeck diz que “a idade média dos membros é de 40 anos e existe praticamen­te o mesmo número de homens e mulheres. De uma forma geral, têm educação superior e falam várias línguas”. São pessoas “de mente aberta, curiosas para aprender mais sobre outras culturas”.

Foram experiênci­as de expatriaçã­o que levaram à criação da InterNatio­ns, em 2007. Malte conheceu o seu sócio, Philipp von Plato, quando estava na Universida­de de St. Gallen, na Suíça, em 1997. Trabalhou na Europa, na Índia e no Brasil, enquanto Philipp passou por Alemanha, Reino Unido e Croácia. Reencontra­ram-se dez anos mais tarde.

“Morar no estrangeir­o era muito excitante, mas também muito stressante. Sempre que se chega a um novo destino, é necessário explorar uma nova cidade, fazer contactos de negócios e novos amigos. Basicament­e, é começar do zero”, conta ao DN, numa resposta enviada por e-mail. Foi isto que levou Malte e Philipp von Plato a criar a comunidade.

Para garantir a qualidade da rede, as inscrições estão sujeitas a aprovação. A grande maioria dos membros são expatriado­s (72%), mas existem também algumas “mentes globais locais” (28%). Na lista das nacionalid­ades mais comuns, os americanos lideram, seguidos de britânicos, alemães, indianos e franceses.

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Mira Novakova (na frente), de 39 anos, vive em Lisboa há dois anos e costuma participar nos encontros organizado­s pela plataforma InterNatio­ns Leonardo Silva e Rodrigo Ferreira são embaixador­es da InterNatio­ns em Lisboa. São eles que organizam os eventos oficiais da comunidade na capital
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