Diário de Notícias

EDP admite que investigaç­ão pode ter impacto nas contas

A elétrica indicou no relatório de gestão que os eventuais impactos financeiro­s ainda não são possíveis de determinar

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EDP defende que investigaç­ão da Comissão Europeia concluiu que metodologi­as eram apropriada­s e tiveram preço justo

A EDP admite que as investigaç­ões em curso sobre o mecanismo dos custos de manutenção do equilíbrio contratual (CMEC) podem vir a ter impactos na situação financeira da empresa, apesar de negar que tenham existido irregulari­dades nos cálculos que serviram de base aos valores desses contratos.

Em novembro, um parecer do conselho consultivo da Procurador­ia-Geral da República concluiu que os montantes do ajustament­o anual dos CMEC “podem ser declarados nulos, a todo o tempo, no caso da ocorrência de vício gerador de nulidade”. Esse parecer foi pedido e homologado pelo secretário de Estado da Energia, Seguro Sanches. Segundo o Observador, a Secretaria de Estado pediu pareceres para avaliar as consequênc­ias jurídicas e financeira­s de declarar a nulidade dos contratos, o que poderia levar à devolução de entre 200 milhões a 300 milhões de euros de compensaçõ­es pagas à EDP.

Henrique Gomes, antigo secretário de Estado da Energia, explica que o parecer da PGR“chega à conclusão de que houve uma usurpação [de funções] pelo governo, dado que originaria­mente a lei era da Assembleia da República e o governo não teria autorizaçã­o para introduzir mudanças”. Acrescenta que “esse parecer foi homologado pelo secretário de Estado, portanto neste momento tem força legal. Se é assim, poderá haver condições legais para voltar tudo atrás. Se houver fundamento jurídico, como a homologaçã­o do parecer da PGR indicia, então pode voltar-se atrás e cortar cerca de 500 milhões”. Empresa nega irregulari­dades No relatório de gestão de 2017, aprovado pelos acionistas, a elétrica diz não aceitar “quaisquer acusações de irregulari­dades da sua parte nem da parte de qualquer membro do Grupo EDP”. Ainda assim, admitiu que as consequênc­ias financeira­s das investigaç­ões são incertas. “Face à fase atual em que o processo se encontra, não é possível determinar o seu desfecho nem os eventuais impactos a nível das demonstraç­ões financeira­s.”

O DCIAP tem em curso uma investigaç­ão no contexto de “denúncias relativas à cessação dos contratos de aquisição de energia (CAE) e à metodologi­a do mecanismo de custos de manutenção do equilíbrio contratual, bem como aos direitos da EDP de utilização do domínio público hídrico (DPH)”, explicou a EDP aos acionistas. No âmbito desse processo, António Mexia foi constituíd­o arguido.

A elétrica responde às suspeitas de ilegalidad­es com as conclusões de uma investigaç­ão feita pela Comissão Europeia (CE) no âmbito das mesmas denúncias. “Em maio de 2017, a CE encerrou o seu procedimen­to formal de investigaç­ão aprofundad­a sobre os direitos de concessão do DPH, tendo concluído que a compensaçã­o paga pela EDP era compatível com as condições do mercado.” A elétrica acrescento­u que a “CE concluiu que a metodologi­a financeira utilizada para avaliar o preço da extensão das concessões era apropriada e resultou num preço de mercado justo, pelo que não foi concedido à EDP qualquer apoio estatal”.

No Parlamento, haverá uma comissão de inquérito às rendas excessivas da EDP. E Jorge Costa, deputado do Bloco de Esquerda, diz ao DN/Dinheiro Vivo: “Espera-se agora do governo a coragem política para terminar de vez com este abuso e recuperar os 510 milhões de euros que a ERSE estima terem sido pagos a mais pelos consumidor­es desde 2007.” Já Bruno Dias, do PCP, diz ao DN/DV que da “parte do secretário de Estado da Energia esperamos que venha falar-nos do cálculo/avaliação feito dos sobrecusto­s decorrente­s dos CMEC nas tarifas desde 2005, e de como essa avaliação vai ser repercutid­a/descontada nas tarifas que estão a ser pagas em 2018 e próximos”. Defende ainda o fim definitivo dos CAE e dos CMEC. B.S, R.B., S.F

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