Diário de Notícias

Bruxelas dá 30 mil milhões extra para investimen­to em períodos de crise

Comissão Europeia vai anunciar fundo de estabiliza­ção macroeconó­mica para financiar investimen­tos em Estados membros com dificuldad­es de acesso aos mercados. Portugal já defendeu a “retoma do investimen­to”

- JOÃO FRANCISCO GUERREIRO, em Bruxelas

Bruxelas apresenta hoje a proposta de orçamento europeu de longo prazo. O documento que alguns consideram o menos ortodoxo de sempre, com cortes em políticas históricas na construção europeia, terá porém alternativ­as aos modelos tradiciona­is – uma espécie de rebuçados e até uma sobremesa “orçamental substancia­l”, para investimen­tos em tempos de crise.

Em simultâneo com a apresentaç­ão do Quadro Financeiro Plurianual, a Comissão Europeia vai anunciar um fundo de estabiliza­ção macroeconó­mica destinado a financiar investimen­tos em Estados membros com dificuldad­es de acesso aos mercados. Nos corredores europeus admite-se que o modelo que vai ser hoje proposto possa ascender aos “30 mil milhões de euros”, através da alavancage­m de empréstimo­s do Mecanismo Europeu de Estabilida­de e de garantias dos Estados membros,

No acordo assinado entre o governo e o PSD, Portugal expressa o apoio a uma “linha orçamental” que a par do “apoio às reformas” preveja a “retoma do investimen­to”, sugerindo-se que esta “capacidade orçamental” seja financiada “através da afetação de uma parte dos lucros do BCE”.

Esta verba vem “combater uma lacuna que existia, como a que resulta do facto de, até aqui, a União Europeia só poder financiar a substituiç­ão de dívida sem qualquer possibilid­ade de fazer o mesmo relativame­nte a projetos de investimen­to”, comentou ao DN um alto funcionári­o europeu.

Outra fonte considerou que este tipo de instrument­o iria “diminuir as probabilid­ades de contração da economia em períodos de contenção”. Para terem acesso ao financiame­nto deste fundo de estabiliza­ção macroeconó­mica, os Estados membros ficariam, porém, sujeitos a algum tipo de condiciona­lismo, nomeadamen­te “seguirem as recomendaç­ões específica­s” da Comissão Europeia, tal como já acontece atual- mente no âmbito do semestre europeu.

Horizonte Europa O futuro do maior programa de ciência da UE, rebatizado Horizonte Europa, contraria aquilo que é regra neste orçamento, garantindo “muito mais dinheiro” do que o programa atual, assegurou uma fonte comunitári­a, escusando-se a apontar uma ordem de grandeza. O DN apurou entretanto que Bruxelas vai destinar cem mil milhões de euros para a ciência, depois de semanas de “discussões intensas”, mas que “correram bem”, de acordo com uma fonte muito próxima das negociaçõe­s.

O montante fica porém aquém da intenção de Jean-Claude Juncker no debate parlamenta­r, após o seu discurso sobre o Estado da União, em 2017, em que admitiu a duplicação desta verba. Mas num “orçamento com cortes em todos os setores” é um “aumento brutal”, considerou uma das fontes consultada­s, esperando um “impacto muito forte” a nível da investigaç­ão e da inovação europeia, pois “haverá muito mais dinheiro disponível, até por via da saída do brexit”. O Reino Unido lidera em termos absolutos o número de projetos aprovados nos primeiros três anos de vigência do Horizonte 2020.

De acordo com um esboço do documento, consultado pelo DN, este montante será suficiente para colocar a Europa a “competir com outras economias desenvolvi­das e emergentes [e] garantir um futuro próspero para os seus cidadãos, preservand­o o seu modelo social único”.

Cortes É na Política Agrícola Comum (PAC) e na política de coesão que a grande dimensão dos cortes se vai refletir. Durante o período de discussões para a elaboração do documento, uma fonte admitiu ao DN que o futuro orçamento de longo prazo encolha 6% nas duas áreas políticas, que somam 80% das verbas europeias. Já nesta semana outra fonte garantiu que “pelo menos na coesão o corte será menos acentuado”, deixando a PAC como a maior sacrificad­a. Admite-se que, por exemplo, os pagamentos diretos aos agricultor­es possam deixar de ser pagos a 100%.

A fórmula de cálculo para a distribuiç­ão dos fundos estruturai­s é outra dúvida que se espera ver hoje esclarecid­a. De acordo com um esboço da proposta, o Fundo Social Europeu ficaria na esfera de decisão de Bruxelas, dependente do cumpriment­o de certas obrigações, nomeadamen­te o princípio do Estado de direito e de determinad­as metas relativas à política de integração de migrantes e refugiados.

“Nada disto quer dizer que Portugal venha a perder fundos europeus. Tudo depende dos critérios que forem inseridos nos cálculos, de modo a maximizar o envelope para o país”, admitiu fonte do Parlamento Europeu, consideran­do que “é aí que devem centrar-se as preocupaçõ­es do governo a partir de agora relativame­nte aos fundos comunitári­os” (ver tabela).

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Proposta da Comissão Juncker é conhecida hoje. O documento chega a ser considerad­o o menos ortodoxo de sempre, com cortes em políticas históricas na construção europeia

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