Viseu ostenta biodiversidade, apesar das cinzas
As matas geridas pelo ICNF na região são povoadas, sobretudo, por pinheiro-bravo, pois nem todas as espécies se adaptam
Se a limpeza for feita, mesmo que o mato fique no terreno, ele está moído e impede a progressão intensa dos incêndios
Ambiente. Viseu apostou no reforço dos sapadores florestais e dos bombeiros municipais e está consciente da importância do anel verde que a rodeia. Tem um projeto de identificação de milhares de árvores. Apesar de estar inserida numa das regiões mais afetadas pelos incêndios, a cidade orgulha-se de ter um parque rico em biodiversidade, que atraiu muitos visitantes no último fim de semana.
Às portas da cidade de Viseu impera a biodiversidade. No parque que a autarquia gere, junto ao início da ecopista, onde noutros tempos passava o comboio que ligava a cidade de Viriato a Santa Comba Dão, existem alguns hectares povoados por salgueiros, carvalhos, amieiros e até castanheiros. “A natureza seleciona as espécies que têm condições para vingar num determinado espaço.
“Penso que todos nós tínhamos a ideia idílica de que podemos ter esta vegetação com este matizado de cores em todo o espaço florestal, mas isso é impossível. É possível aqui porque temos solos frescos, fundos e férteis”, explica Rui Pedro, técnico do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). As matas geridas pelo ICNF na região de Viseu são maioritariamente povoadas por pinheiro-bravo, uma vez que “em condições de montanha, serranas, com solos delgados e esqueléticos, com altitudes diferentes, nem todas as espécies se adaptam bem nesses locais”. Essa é, aliás, a razão pela qual nas áreas geridas pelo Estado as grandes plantações feitas nos anos 1960 incidiram, sobretudo, no pinheiro-bravo, acrescentou o representante do ICNF que foi entrevistado pelos repórteres da floresta das escolas da cidade (Básica do Viso, Básica Grão Vasco e Básica João de Barros), que participaram nas atividades no âmbito da iniciativa da Tranquilidade, em parceria com o JN, o DN e a TSF.
Tendo igualmente participado na caminhada organizada pelo projeto Prevenir e Educar por Uma Floresta Verde, Rui Pedro alertou para más práticas na floresta, mas também para bons exemplos de biodiversidade. “Este é um espaço bem próximo de Viseu, onde ainda se pode observar aquilo que são vestígios de uma floresta autóctone, com alguma biodiversidade, com espécies mais associadas às antigas florestas, e que gostamos de apreciar pela forma das copas e da sombra que nos dão e que, juntamente com o estrato arbustivo e herbáceo, é uma pérola”, explica.
No entanto, nem tudo foram boas notícias: “Infelizmente, há aqui alguns casos da presença humana com aspetos negativos, como os lixos que se observam em algumas zonas, e depois as questões naturais, com a presença de algumas espécies invasoras como as mimosas e as austrálias, mas que, neste caso, ainda estão perfeitamente controláveis, não constituindo uma ameaça significativa.”
Carlos Lopes, chefe da equipa de sapadores florestais da Cedrus – Associação de Produtores Florestais de Viseu, explicou a importância da limpeza dos matos, exemplificando com um caso concreto junto a uma linha de alta tensão, em que “o mato fica todo no terreno mas fica todo moído”, pelo que quando o incêndio atinge essa zona “pode progredir, mas com pouca intensidade”. Estas limpeza criam pontos de ancoragem que permite aos bombeiros, sapadores e à GNR “estabelecer uma estratégia de combate direto ao incêndio”.
Os alunos do Agrupamento Escolar Grão Vasco compareceram em massa na caminhada. Luís Nóbrega, diretor da escola, explica que esta adesão teve origem na “proposta, excelente de carácter pedagógico, que tem toda uma envolvência cívica e que para nós é fundamental”, do projeto Prevenir e Educar por Uma Floresta Verde. Marília Fernandes, diretora da Escola do Viso, lembra que a comunidade escolar viveu de perto a problemática dos incêndios do ano passado, não hesitando por isso em abrir as portas a este projeto, por considerar que as crianças “levam a mensagem para os adultos”.
A caminhada promovida pelo projeto Prevenir e Educar por Uma Floresta Verde contou com a orientação técnica de Sandra Pereira, do Gabinete Técnico-Florestal da Câmara Municipal de Viseu, que escolheu os locais, com bons e maus exemplos, para serem pedagogicamente explicados aos caminheiros que participaram na iniciativa.