Diário de Notícias

Viseu ostenta biodiversi­dade, apesar das cinzas

- MIGUEL MIDÕES

As matas geridas pelo ICNF na região são povoadas, sobretudo, por pinheiro-bravo, pois nem todas as espécies se adaptam

Se a limpeza for feita, mesmo que o mato fique no terreno, ele está moído e impede a progressão intensa dos incêndios

Ambiente. Viseu apostou no reforço dos sapadores florestais e dos bombeiros municipais e está consciente da importânci­a do anel verde que a rodeia. Tem um projeto de identifica­ção de milhares de árvores. Apesar de estar inserida numa das regiões mais afetadas pelos incêndios, a cidade orgulha-se de ter um parque rico em biodiversi­dade, que atraiu muitos visitantes no último fim de semana.

Às portas da cidade de Viseu impera a biodiversi­dade. No parque que a autarquia gere, junto ao início da ecopista, onde noutros tempos passava o comboio que ligava a cidade de Viriato a Santa Comba Dão, existem alguns hectares povoados por salgueiros, carvalhos, amieiros e até castanheir­os. “A natureza seleciona as espécies que têm condições para vingar num determinad­o espaço.

“Penso que todos nós tínhamos a ideia idílica de que podemos ter esta vegetação com este matizado de cores em todo o espaço florestal, mas isso é impossível. É possível aqui porque temos solos frescos, fundos e férteis”, explica Rui Pedro, técnico do Instituto de Conservaçã­o da Natureza e Florestas (ICNF). As matas geridas pelo ICNF na região de Viseu são maioritari­amente povoadas por pinheiro-bravo, uma vez que “em condições de montanha, serranas, com solos delgados e esquelétic­os, com altitudes diferentes, nem todas as espécies se adaptam bem nesses locais”. Essa é, aliás, a razão pela qual nas áreas geridas pelo Estado as grandes plantações feitas nos anos 1960 incidiram, sobretudo, no pinheiro-bravo, acrescento­u o representa­nte do ICNF que foi entrevista­do pelos repórteres da floresta das escolas da cidade (Básica do Viso, Básica Grão Vasco e Básica João de Barros), que participar­am nas atividades no âmbito da iniciativa da Tranquilid­ade, em parceria com o JN, o DN e a TSF.

Tendo igualmente participad­o na caminhada organizada pelo projeto Prevenir e Educar por Uma Floresta Verde, Rui Pedro alertou para más práticas na floresta, mas também para bons exemplos de biodiversi­dade. “Este é um espaço bem próximo de Viseu, onde ainda se pode observar aquilo que são vestígios de uma floresta autóctone, com alguma biodiversi­dade, com espécies mais associadas às antigas florestas, e que gostamos de apreciar pela forma das copas e da sombra que nos dão e que, juntamente com o estrato arbustivo e herbáceo, é uma pérola”, explica.

No entanto, nem tudo foram boas notícias: “Infelizmen­te, há aqui alguns casos da presença humana com aspetos negativos, como os lixos que se observam em algumas zonas, e depois as questões naturais, com a presença de algumas espécies invasoras como as mimosas e as austrálias, mas que, neste caso, ainda estão perfeitame­nte controláve­is, não constituin­do uma ameaça significat­iva.”

Carlos Lopes, chefe da equipa de sapadores florestais da Cedrus – Associação de Produtores Florestais de Viseu, explicou a importânci­a da limpeza dos matos, exemplific­ando com um caso concreto junto a uma linha de alta tensão, em que “o mato fica todo no terreno mas fica todo moído”, pelo que quando o incêndio atinge essa zona “pode progredir, mas com pouca intensidad­e”. Estas limpeza criam pontos de ancoragem que permite aos bombeiros, sapadores e à GNR “estabelece­r uma estratégia de combate direto ao incêndio”.

Os alunos do Agrupament­o Escolar Grão Vasco comparecer­am em massa na caminhada. Luís Nóbrega, diretor da escola, explica que esta adesão teve origem na “proposta, excelente de carácter pedagógico, que tem toda uma envolvênci­a cívica e que para nós é fundamenta­l”, do projeto Prevenir e Educar por Uma Floresta Verde. Marília Fernandes, diretora da Escola do Viso, lembra que a comunidade escolar viveu de perto a problemáti­ca dos incêndios do ano passado, não hesitando por isso em abrir as portas a este projeto, por considerar que as crianças “levam a mensagem para os adultos”.

A caminhada promovida pelo projeto Prevenir e Educar por Uma Floresta Verde contou com a orientação técnica de Sandra Pereira, do Gabinete Técnico-Florestal da Câmara Municipal de Viseu, que escolheu os locais, com bons e maus exemplos, para serem pedagogica­mente explicados aos caminheiro­s que participar­am na iniciativa.

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Até ao final de maio, o DN, o JN e a TSF vão acompanhar a iniciativa da Tranquilid­ade para as florestas

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