Príncipes amados que se tornam noviços budistas
Evento é ponto alto em celebração anual dos Shan, grupo étnico que vive na Birmânia, mas também na China, no Laos e na Tailândia
Sombrinhas douradas cobertas de missangas e flores fazem sombra a rapazes, alguns apenas com 7 anos, sentados aos ombros dos pais numa procissão que atravessa a cidade montanhosa de Mae Hong Son, junto à fronteira norte da Tailândia.
Vestidos com roupas em que o rosa-choque e o verde dominam, com ornamentos elaborados na cabeça, os lábios e as maçãs do rosto pintados para o dia mais importante das suas curtas vidas, cerca de 50 rapazes avançam ao som de tambores, címbalos e gongos.
O evento é um ritual de passagem para iniciar os rapazes como noviços, o ponto alto de uma celebração anual dos Shan, um grupo étnico que vive sobretudo na vizinha Birmânia, mas também se espalha por China, Laos e Tailândia.
“Fui submergido pela felicidade e fiquei muito entusiasmado com a cerimónia”, disse Kasen Kongtui, de 58 anos, um comerciante tailandês que patrocinou a participação de um amigo da família de 12 anos, Poo Sit, da Birmânia. “Ele disse-me: ‘Avô, quero tornar-me noviço.’ Então nós ajudámos”, explicou Kasen à Reuters. “Fi-lo pelo mérito.”
Para cumprir o sonho de ter um filho a participar neste evento de prestígio, os pais fazem poupanças durante muito tempo, outros aceitam donativos de familiares para pagar os custos e os mais pobres até podem mandar os filhos para viverem com famílias mais ricas.
O ritual de Poy Sang Long, como é conhecida a celebração, representa a infância do fundador do budismo, Siddharta Gautama, que nasceu príncipe há cerca de 2600 anos. Terá desistido de uma vida de esplendores reais para viver como homem santo após testemunhar a doença e a morte no exterior do seu palácio.
A ordenação dos rapazes traz honra às suas famílias, e o evento decorre durante uma semana na estação seca antes do tradicional ano novo tailandês, quando a maior parte dos aldeões estão em casa para as festas e as crianças têm férias escolares.
Para estes “príncipes amados” das famílias Shan, a cerimónia decorre em vários momentos, desde raparem a cabeça, com o cabelo cortado a ser envolto em folha de lótus pelas suas mães, até ao banho em águas perfumadas.
Vestem-se de branco e têm padrões deslumbrantes desenhados nos seus rostos e cabeças com thanaka, uma pasta cosmética amarela que se pensa ter propriedades protetoras.
Daí até ao final do festival, os rapazes vão adquirir um estatuto semidivino e não podem tocar no chão ou caminhar sozinhos.
A parada tem lugar no dia seguinte, precedendo um período mais contemplativo no terceiro dia, quando os rapazes visitam as casas de familiares para rezarem com eles.
Chegados ao fim da semana, os noviços vivem num templo durante um ou dois meses durante as férias escolares, para estudarem as escrituras budistas.
“Gosto de ter a cabeça rapada, diz August, um rapaz de 8 anos vestido de vermelho e dourado, com um chapéu ornamentado com flores cor-de-rosa e brilhantes, enquanto descreve a sua parte favorita do ritual.
“Quando vi os meus amigos a fazer isto, decidi tornar-me noviço. Quero ser a representação de Buda. Quero ser uma boa pessoa.”
A ordenação dos rapazes traz honra às suas famílias. Muitas poupam durante muito tempo para cumprir este sonho