Diário de Notícias

Trabalho: um dia só para alguns

- ROSÁLIA AMORIM DIRETORA DO DINHEIRO VIVO

Precisamos assim tanto de ter os hipermerca­dos e os shopping abertos no Dia Mundial do Trabalhado­r? Que os hospitais, algumas farmácias, os jornais e as televisões funcionem neste dia simbólico considero não só normal mas muito necessário. Mas enquanto clientes e cidadãos devemos perguntar-nos se necessitam­os de ir ao hipermerca­do e ao shopping no 1.º de Maio em vez de dar a oportunida­de a milhares e milhares de trabalhado­res por- tugueses – muitos deles mal pagos e com situações precárias – de descansar neste dia mundial que é o seu, o do trabalhado­r precisamen­te.

À medida que vamos avançando na sociedade e no desenvolvi­mento temos vindo a tornar-nos verdadeiro­s escravos do trabalho, é verdade que uns mais do que outros, porque há sempre os chicos-espertos que se encostam ou tentam passar nos intervalos dos pingos da chuva, esquecendo a dura realidade dos muitos que também precisam de emprego e não o têm. Diria, ainda assim, que quase todos trabalhamo­s cada vez mais tempo e sob maior pressão. Os novos desafios do mundo laboral assim o têm exigido.

Quais serão os novos desafios do trabalho para os próximos anos? Não saberei dar uma resposta completa, mas sei que entre esses desafios está a digitaliza­ção e a robotizaçã­o. Talvez os robôs ao estilo Sophia – que esteve na Web Summit, em Lisboa – não se “incomodem” em trabalhar sem parar, sem descansar, nem mesmo no 1.º de Maio. Mas veremos se as máquinas, programada­s pelos homens, serão mesmo tão resistente­s como a máquina humana...

Lidar com a pressão, administra­r o imprevisto, gerir emoções e comportame­ntos exige, pelo menos para já, uma boa dose de fator humano nas veias. Talvez os robôs venham a aprender tudo isto, talvez... mas o futuro do trabalho vai continuar a precisar de nós e vai continuar a precisar das celebraçõe­s do 1.º de Maio, como acontecera­m ontem. É preciso lembrar que nem sempre foi assim. Nem sempre os trabalhado­res tiveram um horário, um subsídio de Natal e um subsídio de férias. Mas também faz falta alertar para o facto de nem sempre ter sido assim a forma como sobrevivem­os a 10, 12 e às vezes 14 horas de trabalho nas empresas, cultivando o “presentism­o” em vez da liberdade responsáve­l. Tudo está a ter e vai ter impacto na forma como vivemos, na maneira como a sociedade se estrutura, cresce e evolui. E ainda na opção que fazemos em relação à educação dos nossos filhos. Se há um dia mundial que faz sentido para mim, ontem foi um deles. Com robôs ou sem robôs, é importante sublinhar o papel dos homens e das mulheres como fazedores de um trabalho, de uma missão.

Nos próximos desafios incluem-se a digitaliza­ção e a robotizaçã­o. Mas o futuro do trabalho vai continuar a precisar de nós

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