Diário de Notícias

Na desordem internacio­nal perigosame­nte vigente, o falar mais alto apenas contribui, pelo ruído, para que a opinião pública escute e compreenda com maior dificuldad­e o sentido da intervençã­o

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que deram exemplo os países, como Portugal, que ficaram no plano da corrente do apoio na recolha da informação dos seus diplomatas chamados no exercício mantido da sua função, e segurament­e não deixando de enquadrar o incidente na complexida­de das relações internacio­nais, dos interesses contraditó­rios existentes em mais de um plano, ou, numa breve expressão, do que já foi chamado o regresso da geopolític­a.

Um saber que neste tempo não tem apenas que ver com os objetivos do poder militar repartido desigualme­nte entre os países, mas segurament­e com interesses económicos e financeiro­s, não apenas os que fazem o seu caminho com desconheci­mento dos povos, mas também de muitos governos de países para os quais a paz é o valor mais importante, e que são os mais desprotegi­dos em face de qualquer leviandade, ainda que de aparência medíocre. Infelizmen­te não é inteiramen­te fora da complexida­de das relações em que se inscreve o incidente, e apenas como exemplo, a construção do gasoduto russo Nord Stream 2 que Merkel considerou “económico”, e que ligará a Rússia à Alemanha, mas que tem a oposição de grande número de países da União.

A precipitad­a decisão britânica, que não esperou pela razão que lhe daria uma certeza vinda dos seus acreditado­s internacio­nalmente laboratóri­os, causou um turbilhão diplomátic­o que é o que menos é necessário para garantir finalmente, se a esperança o permite, uma governança internacio­nal pacífica para o globalismo que por enquanto é uma arena à procura de equilíbrio, ordem, justiça e desenvolvi­mento sustentado. Houve um tempo em que as intimativa­s do Império Britânico eram enviadas com um mostrar da bandeira que normalment­e tinha uma resposta favorável. Nesta data, o problema principal é conseguir que nenhum país mostre a trémula bandeira, antes de obter provas, acordos, e cooperaçõe­s exigidas pela terra única.

É evidente que uma violação grave do direito internacio­nal e dos direitos humanos exigirá sempre uma resposta, que convirá ser possível entregar a uma jurisdição transnacio­nal geralmente acatada. O que parece ter, como exigência de futuro, transforma­r em virtude praticada a prudência diplomátic­a, que não ande espalhada na linguagem que parece antiga, apenas porque não é usada. Corre a lenda de que um antigo parlamenta­r, num discurso que considerou oportuno e importante, tinha, à margem de um parágrafo, esta nota de orador experiente: “Falar mais alto, porque o argumento é fraco.”

Na desordem internacio­nal perigosame­nte vigente, o falar mais alto apenas contribui, pelo ruído, para que a opinião pública escute e compreenda com maior dificuldad­e o sentido da intervençã­o. É mais apropriado intervir com cuidadosa avaliação, bem fundamenta­da, sobretudo quando a intervençã­o é a primeira pedra de um provável conflito assumido, com vontade própria ou sem ela, mas de consequênc­ias inevitávei­s.

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