Diário de Notícias

Pindamonha­ngaba

- JOÃO ALMEIDA MOREIRA São Paulo JORNALISTA

Ahumanidad­e já consegue desenhar mapas astrais com precisão, anunciar o sexo do bebé às 20 semanas de gestação, calcular o dia e a hora do aparecimen­to da nova tempestade tropical, antever vida em galáxias distantes, mas não consegue garantir o nome do futuro presidente do Brasil, o país onde, diz-se, até o passado é imprevisív­el.

No entanto, aqui vai um prognóstic­o, provavelme­nte destinado ao ridículo: o próximo presidente da República é natural de Pindamonha­gaba, pacata cidade a 150 quilómetro­s de São Paulo, cujo nome significa em tupi algo como “oficina de anzóis”.

Foi lá que nasceu Geraldo Alckmin, o governador do estado de São Paulo de 2001 a 2006 e de 2011 até ao mês passado, quando teve, por lei, de abandonar o cargo para se apresentar como concorrent­e ao Palácio do Planalto em outubro.

Apesar de apresentar ferimentos leves do embate com a Lava-Jato, foi graças à operação que o candidato do PSDB viu os seus dois rivais internos – o gravemente atingido por ela José Serra e o morto e sepultado por ela Aécio Neves – desistirem de avançar. No interior do partido, ganhou ainda um braço-de-ferro, que a páginas tantas pareceu perdido, com uma criatura inventada por si, o prefeito de São Paulo João Doria, considerad­o muito mais carismátic­o do que o criador.

Carisma, essa qualidade tão subjetiva, nunca foi o forte de Alckmin, em quem se colou como uma tatuagem a alcunha “picolé de chuchu” – sendo que picolé é sorvete e chuchu um legume sensaborão. Membro do Opus Dei, homem de gestos e sorrisos hirtos, adepto de serões no recato do lar e não das arrebatado­ras baladas paulistana­s, chamado de caipira (ou seja, de provincian­o) pelas influentes alas do mais urbano e chique dos partidos brasileiro­s, enfrentou também a desconfian­ça de Fernando Henrique Cardoso, que preferia Luciano Huck, animador da TV Globo, como nomeado do PSDB.

Ultrapassa­dos todos os obstáculos, Alckmin deve receber em semanas o apoio do MDB, o maior partido brasileiro, traduzido na liderança absoluta do campo de centro-direita nas eleições. E num tempo de antena superior a todos os rivais. E na indicação de Henrique Meirelles, elogiado ministro das Finanças do governo de Michel Temer, para seu vice-presidente.

Nada mau, para o anestesist­a de profissão nascido na década de 1950 numa família de origem libanesa em que todos os homens se chamam Geraldo José ou José Geraldo, à maneira dos Buendía de Macondo, na pacatíssim­a Pindamonha­ngaba.

Mais ou menos no mesmo ano em que Alckmin nasceu chegava a Pindamonha­gaba José Euclides Ferreira Gomes Filho para assumir as funções de defensor público no tribunal local. Natural de Sobral, cidade do longínquo Ceará, Euclides sonhava um dia regressar a casa e assumir a prefeitura da cidade natal, cujos antepassad­os, de origem portuguesa, foram os primeiros governante­s.

Teria de esperar perto de 20 anos. Entretanto, casado com uma menina local, viu nascer em Pindamonha­ngaba o mais velho dos seus filhos, a quem batizou de Ciro, cinco anos menos um dia depois de noutra casa, não muito longe dali, ter nascido um tal de Geraldo José.

Ciro Gomes, que chegaria a prefeito de Fortaleza, a governador do Ceará, a deputado federal, a ministro de Itamar Franco e Lula da Silva e a marido da atrizPatrí­c ia Pillar,écand ida toàp residência da República pela terceira vez, pelo PDT, partido fundado em torno da figura de Leonel Brizola que perdeu algures no caminho a predominân­cia na esquerda para o PT de Lula.

Com Lula preso, o candidato Ciro e Fernando Haddad, o plano B do PT, vêm limando arestas de forma a anunciar a lista de sonho das esquerdas: Ciro para presidente, Haddad para vice, com o PCdoB da candidata Manuela d’Ávila e o PSOL do concorrent­e Guilherme Boulos no bolo. Uma lista que unificaria o centro-esquerda assim como a de Alckmin agrupa o centro-direita. Ambas, pela força das máquinas partidária­s que representa­m, asfixiaria­m ainda a dos outsiders Jair Bolsonaro, Marina Silva ou Joaquim Barbosa.

Qual do spin da monhagaben ses ganha? Não adianta tentar prever através do horóscopo porque são ambos do signo Escorpião. Como o ainda líder nas sondagens, Lula, diga-se de passagem.

Qual do spin da monhagaben ses ganha? Não adianta tentar prever através do horóscopo porque são ambos do signo Escorpião. Como o ainda líder nas sondagens, Lula, diga-se de passagem

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