Sócrates. O ataque começou no PS mas há quem diga não
António Costa forçado, durante visita ao Canadá, a comentar casos de Manuel Pinho e de Sócrates. Mas dentro do governo surgiu quem tente defender o ex-líder do PS
Duas semanas depois de ter sido noticiado, no Observador, que Manuel Pinho recebeu valores do BES enquanto foi ministro da Economia, António Costa comentou o caso.
Em Otava, no Canadá, onde se encontra em visita oficial, o primeiro-ministro e secretário-geral do PS disse, questionado sobre os casos de Pinho e de Sócrates, que, “a confirmarem-se” as suspeitas, isso será “uma desonra para a democracia”. “Se essas ilegalidades vierem a confirmar-se, serão certamente uma desonra para a nossa democracia. Mas se não se confirmarem é a demonstração de que o nosso sistema de justiça funciona”, afirmou António Costa, com a sua prudência habitual.
Ao mesmo tempo, porém, pôs pressão sobre o sistema de justi- ça: “Não há nada pior para a democracia do que haver suspeições que não estão confirmadas em sentenças transitadas em julgado. Aquilo que desejo é que o nosso sistema de justiça funcione, confio que funcione, e que se apure o que houver a apurar.”
Sublinhou também que eventuais ilícitos do governo de Sócrates (e de Manuel Pinho) no setor energético não podem pôr em causa a substância das políticas energéticas há muito seguidas. “Temos de manter a política energética que dê prioridade às energias renováveis e não há qualquer eventual facto criminal praticado por este ou por aquele que possa comprometer o sucesso de uma política. Não confundamos as opções políticas com aquilo que podem ter sido os comportamentos – comportamentos que a justiça, que é independente em Portugal, terá todas as condições para esclarecer e para dirimir.”
As críticas a Pinho e Sócrates dentro da hierarquia oficial do PS começaram anteontem, com declarações de Carlos César (“ficamos enraivecidos”), Fernando Medina (“é insustentável”) e João Galamba ( “envergonha qualquer socialista”).
Tais declarações obrigaram quem permanece fiel a Sócrates a tentar pôr um travão na escalada. Foi o caso, ontem, de Capoulas Santos. O ministro da Agricultura disse, numa entrevista à Rádio Renascença, sentir-se “muito desconfortável” por ver “políticos ou qualquer outro cidadão a serem julgados na praça pública”. O “mais lamentável” é verificar que “têm acontecido julgamentos na praça pública” e, “durante anos consecutivos, fugas de informação que deviam estar no segredo de justiça”, o que “não serve a justiça, a democracia ou o Estado de direito”.
Tal como Costa – mas de forma mais explícita – pôs pressão na justiça: “O poder judicial deve, agora, com celeridade, punir quando houver casos que devem ser punidos.” PSD aprova inquérito mas... Ontem o PSD informou o BE que vai aprovar a comissão de inquérito proposta pelos bloquistas às relações entre a EDP e o Estado (com um âmbito que irá de 2004 aos dias de hoje). Os sociais-democratas querem porém que Sócrates seja envolvido: “A iniciativa do BE (...)não pode resultar no encobrimento de outros decisores políticos (alguns até com maiores responsabilidades)”, disse o líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, numa carta ao seu homólogo do BE, Pedro Filipe Soares.
“Se essas ilegalidades vierem a confirmar-se, serão certamente uma desonra para a nossa democracia. Mas se não se confirmarem, é a demonstração de que o nosso sistema de justiça funciona” ANTÓNIO COSTA PRIMEIRO-MINISTRO “Têm acontecido julgamentos na praça pública [...] durante anos consecutivos, fugas de informação que deviam estar no segredo de justiça. [Isto] não serve a justiça, a democracia ou o Estado de direito” CAPOULAS SANTOS MIINISTRO DA AGRICULTURA “Aquelas práticas de pagamentos a decisores políticos (e as nefastas consequências em decisões públicas) suscitarão seguramente uma averiguação no plano criminal e uma ponderação interna no PS.” FERNANDO NEGRÃO LÍDER PARLAMENTAR DO PSD “Todas as situações que envolvam comportamentos irregulares, danosos, comportamentos criminais comprovados, sempre que se confirmem, constituem para nós um motivo de revolta” CARLOS CÉSAR LÍDER PARLAMENTAR DO PS