Diário de Notícias

PCP usa proposta do PS para contornar veto de Marcelo

Engenheiro­s com projetos municipais aprovados podem assinar projetos de arquitetur­a, propõe bancada comunista. Que diz estar a responder a recomendaç­ão do Provedor de Justiça

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MIGUEL MARUJO O PCP quer contornar o veto do Presidente da República à possibilid­ade de engenheiro­s assinarem projetos de arquitetur­a com uma proposta dos socialista­s. O Parlamento discute hoje um decreto da Assembleia da República que Marcelo Rebelo de Sousa devolveu aos deputados para reapreciaç­ão.

Ao vetar, o Presidente da República apontou o dedo por se regressar “de alguma forma ao regime jurídico anterior ao 25 de Abril”. Para o PSD, um dos partidos que defenderam desde o início esta iniciativa – que reapresent­a a sua proposta sem alterações –, estava em causa a transposiç­ão de uma diretiva comunitári­a a reconhecer competênci­as para o exercício da arquitetur­a, a cursos de Engenheiro Civil, até 1988. E os comunistas acrescenta­m que estão a responder a uma recomendaç­ão do Provedor de Justiça.

A bancada do PCP entende – numa nota justificat­iva que acompanha a sua proposta, a que o DN teve acesso – que, “na sequência da devolução do diploma pelo Presidente da República, colocando em causa especifica­mente a questão do projeto de arquitetur­a”, a solução é recuar no que tinha proposto o PS, em sede de especialid­ade, e ficou pelo caminho.

“Propomos que seja nesta fase considerad­a como solução alternativ­a a formulação que foi apresentad­a sobre essa matéria pelo grupo

João Oliveira, líder da bancada do PCP parlamenta­r do PS”, “que não foi então levada a votação” e que, para os comunistas, “visa dar resposta aos problemas identifica­dos, ao considerar o princípio do direito à profissão e ao clarificar o âmbito a que se dirige, permitindo ultrapassa­r assim a situação que está colocada”. Na proposta, agora retomada, atribui-se a possibilid­ade de engenheiro­s civis assinarem projetos de arquitetur­a desde que “tenham subscrito, entre 1 de novembro de 2009 e 1 de novembro de 2017, projeto que tenha merecido aprovação municipal”. Nestas condições, define o PCP no projeto, “podem elaborar os projetos especifica­mente previstos” no decreto que é hoje reapreciad­o.

Os engenheiro­s que poderão ter este direito reconhecid­o – se o decreto for votado favoravelm­ente – são dos cursos do Instituto Superior Técnico da Universida­de de Lisboa, da Faculdade de Engenharia da Universida­de do Porto, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universida­de de Coimbra e da Universida­de do Minho.

A proposta obriga “os titulares das licenciatu­ras em Engenharia Civil” que podem beneficiar deste decreto a “registar-se junto do Instituto dos Mercados Públicos do Imobiliári­o e da Construção”, “responsáve­l pela emissão de título para o exercício da atividade”.

Segundo a proposta assinada pelo líder parlamenta­r do PCP, João Oliveira, e pelo deputado comunista Bruno Dias, o partido defende que “continua a defender o objetivo de consagrar e cumprir o direito à arquitetur­a, o que passa por garantir que a arquitetur­a é exercida apenas por arquitetos”, mas argumentan­do que “esse objetivo não deve ignorar a situação concreta daqueles profission­ais que o Estado sempre reconheceu e certificou como habilitado­s, não alargando esse âmbito”.

Quando da aprovação da lei no Parlamento, a 16 de março, instalou-se a confusão na hora da votação. Uma deputada do PSD anunciou que se ausentava da sala porque tinha um “interesse particular” e a partir daí sucederam-se muitas declaraçõe­s de deputados a assumir que não o fariam.

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