Donald Trump entra em contradição no caso Stormy Daniels
Giuliani revelou que o presidente pagou à atriz porno através do advogado. E Trump confirmou-o. Violação da lei eleitoral em causa
O presidente dos Estados Unidos reconheceu ter pago 130 mil dólares a Stormy Daniels, protagonista de filmes pornográficos, em troca do seu silêncio, embora mantenha que o acordo foi realizado “para parar as acusações falsas e extorsionárias sobre um caso”. A revelação deu-se horas depois de o novo advogado de Donald Trump, Rudolph Giuliani, ter afirmado que o presidente endossou a quantia ao advogado pessoal, Michael Cohen.
Estas declarações entram em contradição com anteriores. No mês passado, a bordo do avião presidencial, os jornalistas perguntaram a Trump se tinha conhecimento do pagamento a Stormy Daniels. Após ter negado, perguntaram-lhe por que razão o seu advogado fez o pagamento, ao que respondeu para perguntarem a Michael Cohen. Por fim, os repórteres perguntaram-lhe se sabia com que dinheiro havia sido feito o acordo. “Não, não sei”, disse então.
Stephanie Clifford [nome verdadeiro de Stormy Daniels] revelou em março, numa entrevista ao 60 Minutes da CBS, que teve um encontro sexual com Donald Trump em 2006. Nesse mesmo mês, anunciou ter dois processos contra o presidente: um por difamação, o outro para quebrar o acordo de não divulgação.
Segundo o entendimento do advogado de Clifford/Daniels, Michael Avenatti, as revelações da cliente não violaram o acordo porque este não foi assinado por Trump.
No dia 26 de abril, em entrevista telefónica à Fox News, Trump confirmou que Cohen é o seu representante legal “como neste caso louco da Stormy Daniels”, e que não fez nada de errado. “Não houve fundos da campanha para isso... o que teria sido um problema”, concluiu.
Também na Fox, na quarta-feira à noite, o antigo mayor de Nova Iorque e agora conselheiro jurídico de Trump, ao dizer que “não houve violação financeira da campanha” revelou que os 130 mil dólares foram pagos através de uma empresa de advocacia e que o presidente pagou mais tarde. E em jeito de explicação para o pagamento, deixou no ar: “Imagine se o caso fosse tornado público no dia 15 de outubro de 2016, a meio do último debate com Hillary Clinton?”
Ao New York Times, Rudolph Giuliani acrescentou que a quantia total ascendeu a um valor entre 460 mil e 470 mil dólares, para cobrir outras despesas. Esse valor está a ser pago em prestações mensais de 35 mil dólares, e é oriundo da conta familiar de Trump, disse.
Também esta declaração entra em contradição com a de Michael Cohen, datada de fevereiro: “Numa transação privada, em 2016, usei os meus próprios fundos para facilitar um pagamento de 130 mil dólares à senhora Stephanie Clifford. Nem a Trump Organization nem a campanha de Trump participaram na transação com a senhora Clifford, nem me reembolsaram pelo pagamento, direta ou indiretamente.” No mesmo comunicado escreveu que o pagamento está dentro da lei e que o dinheiro não era originário de contribuições da campanha eleitoral.
Influenciar as eleições
Mas não é essa a opinião da organização não governamental Common Cause, que interpôs uma queixa no Departamento de Justiça e na Comissão Eleitoral Federal. Alega a organização – que tem um milhão de associados – que como advogado pessoal de Trump, Cohen era um agente do então candidato Trump. E, como tal, o pagamento de outubro de 2016 a Stormy Daniels, quando esta considerava trazer a público o seu caso com Trump, é para a Common Cause “um esforço para influenciar as eleições na forma de dinheiro secreto”.
Segundo a lei eleitoral norte-americana, qualquer dinheiro gasto para influenciar uma eleição em nome de um candidato é uma contribuição em espécie para aquele candidato. Essa contribuição está sujeita a um limite de 2700 dólares e deve ser divulgada.
As declarações de Giuliani caíram como mel na sopa para o lado de Stormy Daniels. “O nosso caso ficou exponencialmente mais forte. Não se trata de sexo... trata-se de um encobrimento”, afirmou Avenatti.
Noutra frente do caso, a NBC revelou que agentes do FBI tinham Michael Cohen sob escuta em abril, quando o seu escritório foi alvo de buscas, e que foi intercetado pelo menos um telefonema entre o jurista e a Casa Branca.