Diário de Notícias

GNR VAI ENFRENTAR O VERÃO COM MENOS 200 MILITARES

Segurança. O governo, em resposta a uma pergunta do PSD, assume o défice de efetivos mas invoca os cerca de 900 que estão em formação e estágio para disfarçar a redução. Mas estes só estarão operaciona­is depois de setembro

- VALENTINA MARCELINO

“De repente, vi populares desorienta­dos a meterem-se nos carros em direção às chamas e não estava nenhum GNR”

No dia dos incêndios de Pedrógão Grande estavam no posto da GNR apenas três militares, um no posto e dois num carro-patrulha. Este cenário de falta de efetivos policiais – que se repetia noutros dois concelhos afetados pelos fogos (Figueiró dosVinhos e Castanheir­a de Pera) – foi apontado, na altura, pela Associação dos Profission­ais da Guarda (APG) como uma das maiores falhas na proteção da população. Passado quase um ano, o presidente da APG, César Nogueira, não retira uma vírgula e reforça a sua preocupaçã­o para este verão, quando sabe que a GNR vai contar com menos 201 militares no terreno do que no ano passado, segundo dados assumidos pelo Ministério da Administra­ção Interna (MAI).

“Quem faz a prevenção e tem de proteger as populações de qualquer incidente natural, como os fogos, ou criminal é quem está nos postos territoria­is, mas o que nos mostra a realidade é que o interior estava e continua sem guardas suficiente­s”, sublinha César Nogueira. “O que existia no verão passado será pior neste ano, pois não houve reforço nos postos territoria­is”, critica este dirigente associativ­o.

Questionad­o pelo PSD sobre esta falta de efetivos da GNR, principalm­ente em zonas de maior risco de incêndios, o MAI refere que, excluindo os militares em funções no Grupo de Intervençã­o, Prevenção e Socorro (GIPS) e no Serviço de Proteção de Natureza e Ambiente (SEPNA), que têm funções específica­s, “a 1 de janeiro de 2017 e em 1 de janeiro de 2018, o efetivo militar da GNR contabiliz­ava, respetivam­ente, 21 458 e 21257 guardas”. Ou seja, menos 201. Questionad­os pelo DN sobre o número total de efetivos, incluindo GIPS e SEPNA, o ministério e a GNR revelam que há, ainda assim, uma descida de 98. O gabinete do ministro Eduardo Cabrita diz que a este va- lor de 2018 devem ser acrescenta­dos “945 militares no curso de formação de Guardas”, nas escolas de Portalegre e Figueira da Foz, mais 190 militares “que iniciaram funções no serviço operaciona­l, provenient­es de messes e bares”. Mas César Nogueira diz que não se pode contar ainda com estes militares, pelo menos, neste verão. “Dos cerca de 900, há 320 que estão em estágio, o que quer dizer que, mesmo estando no terreno e obrigatori­amente sempre acompanhad­os por outros guardas em plenas funções, não têm qualquer autoridade. Não podem identifica­r uma pessoa nem sequer regular o trânsito. O estágio só termina em setembro. Quanto aos restantes 600, só começaram o curso há perto de um mês e nunca estarão operaciona­is antes do final do ano. Em relação aos 190, desconhece­mos. Sabe-se que foram raros os casos de militares de messes e bares que transitara­m para as patrulhas.”

Duarte Marques, deputado do PSD, lembra-se de que “os relatórios sobre as tragédias apontavam precisamen­te a falta de operaciona­is da GNR no terreno e em particular nos concelhos mais desertific­ados do interior”. Denuncia que “diversos concelhos do país, em particular do interior, não têm uma única brigada disponível aos fins de semana, ficando algumas destas responsáve­is pela patrulha de três ou mais concelhos”.

Entende que “esta situação de falta de militares da GNR põe em causa a segurança das pessoas e bens, vindo este desvio de homens e mulheres para os GIPS agravar ainda mais uma situação que já era deficitári­a”.

O presidente da Câmara Municipal do Sardoal subscreve e fala das experiênci­as “assustador­as” que testemunho­u na sua terra no verão passado por causa da falta de efetivos da GNR. “Aqui existe uma única patrulha para três concelhos (Sardoal, Abrantes e Mação). Num dos incêndios que tivemos, de repente, vi populares a correr desorienta­dos de um lado para o outro a meterem-se nos carros em direção às chamas. Vi Pedrógão. E não havia um único GNR a proteger as pessoas. Uma outra vez, tivemos de chamar a PSP para coordenar o trânsito, pois a situação estava a ficar caótica”, conta Miguel Borges. “A verdade é que já não temos uma GNR preventiva que dê segurança às pessoas. Só uma GNR reativa e com horas de atraso”, conclui o autarca.

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 ??  ?? No interior do país há zonas com uma patrulha para cobrir três concelhos, como Sardoal, Abrantes e Mação
No interior do país há zonas com uma patrulha para cobrir três concelhos, como Sardoal, Abrantes e Mação

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