Diário de Notícias

JON OLA SAND: “PENSÁMOS NUMA DIGRESSÃO, MAS É MUITO CARO”

- LINA SANTOS

Jon Ola Sand, 57 anos, é a pessoa que vai começar a preparar a próxima Eurovisão na noite de 12 de maio, quando o vencedor for conhecido na Altice Arena. O supervisor executivo da Eurovisão, em nome da EBU, encontra-se com o DN na Bubble Delegation (bolha de delegações), zona onde só entram os músicos das 43 delegações que concorrem à Eurovisão. Estava prestes a entrar na arena e tomar o seu lugar. Enquanto decorrem os ensaios, há uma semana, acompanha-os na plateia, garantindo que “todos ensaiam o mesmo tempo e recebem a mesma dose de atenção”. Uma pequena parte das suas tarefas. É supervisor executivo da Eurovisão desde 2011. O que faz exatamente? Na noite da final, quando conhecemos o vencedor, começo a preparar tudo com a estação de televisão. Como no ano passado, quando o Salvador Sobral ganhou. Passámos um ano com Portugal e a RTP. O meu papel é garantir que o host broadcaste­r está preparado, que segue a linha cronológic­a de trabalho, respondend­o a todos os requisitos, mas, ao mesmo tempo, que o projeto se adequa ao orçamento e à maneira de trabalhar sem pormos nenhuma obrigação nos seus ombros que não possam suportar. As questões financeira­s são o maior desafio em Portugal? É importante fazer três espetáculo­s de qualidade, encontrar o equilíbrio. Quando digo que o orçamento é o maior desafio é certo e errado, porque este modelo que vem de 1956 tem provado ser o certeiro. Todas as televisões participam com uma quota muito baixa e podem passar anos sem organizar o evento. E todos os anos recebemos sete horas de grande conteúdo. Se ganhamos, somos os anfitriões, com a solidaried­ade de todos. Como tem sido o trabalho em Lisboa? Produzi o espetáculo para a NRK, da Noruega, em 2010, sei os desafios que existem desse lado. A RTP tem feito um trabalho fantástico, têm uma grande equipa e desde o primeiro dia tomaram o assunto de forma séria. Nem todos o fazem. Pensam que é dali a um ano e vai correr tudo bem, que sabem fazer e não veem a consequênc­ias disto. Aqui não. Encontrara­m o melhor talento local, na RTP e em Portugal, contratara­m talento em outros países para o que era necessário e esta mistura provou ser boa. Se um país não tiver condições de organizar um evento destes dá-lhe menos atenção até que consigam garantir conhecimen­to? Sempre disse que acredito que podemos levar este evento a todas as estações de televisão e países. Temos ótimos contactos com todos os membros, não apenas no que diz respeito à Eurovisão. Trocamos informação, notícias, direitos desportivo­s. Conhecemo-los bem. Perguntamo­s como é que juntos podemos pôr de pé o evento. Como é o orçamento? Quanto é que podem gastar? Como se pode encontrar uma solução juntos? Portanto, tenho confiança de que o podemos fazer [em todos os países]. E será sempre completame­nte diferente! Se formos para a Alemanha é outra coisa, porque eles têm dinheiro e conhecimen­to. Nós [Noruega] recebemos a Eurovisão no ano a seguir e deci- dimos reduzir a escala e retirar tudo o que era led. Essa é a coisa boa da Eurovisão: nunca é igual. Viaja pela Europa e recebe o sabor de cada país, a sua tonalidade. Passa os seus dias na arena como um árbitro. Que tipo de indicações dá? Procuro garantir que cada país – grande ou pequeno – tem a mesma atenção da equipa de produção, que percebemos as suas ideias e fazemos tudo para as pôr em prática. Algumas atuações podem ser complicada­s, porque envolvem muita dança, outras são muito simples, é só luz, mas nós estamos cá para garantir que todos têm o mesmo tempo de ensaio, a mesma dose de dedicação. Algumas atuações parecem telediscos. Estamos a usar um sistema de edição muito rápido que é perfeito para este tipo de espetáculo­s e fomos a primeira grande produção a usá-la há uns dois anos. É ótimo porque podemos trazer nova tecnologia para Portugal e os realizador­es portuguese­s estão a trabalhar com ela, ganhando experiênci­a. Também serão especialis­tas de ponta. Era um eurofã? Para mim, como profission­al de televisão, é fantástico, não podemos fazer maior do que isto. E não podemos fazer projeto com mais impacto do que a Eurovisão. Adoro o evento, mas nunca fui um fã da Eurovisão. Sou fã dos fãs. Consideram a hipótese de fazer uma digressão pela Europa com os artistas? Pensámos em levar a Eurovisão em digressão, mas é muito caro. Com todos os artistas, o palco, a iluminação, e não tenho a certeza de que conseguirí­amos em termos de orçamento. Já falei com promotores de concertos e é caro. É preciso vender muitos bilhetes e não sei se seríamos capazes. Será que conseguem ultrapassa­r o número dos quase 200 milhões de espectador­es? É espetacula­r, é mais do que o Superbowl. Chegámos a uma espécie de limite, porque quando declinamos os números das televisões percebemos que eles têm as maiores audiências, têm os espectador­es mais novos e um share mais alto do que o habitual.

“A RTP tem feito um trabalho fantástico aqui, têm uma grande equipa e desde o primeiro dia tomaram o assunto de forma séria. Nem todos o fazem” “Essa é a coisa boa da Eurovisão: nunca é igual. Viaja pela Europa e recebe o sabor de cada país, a sua tonalidade”

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