Obrigado, Facebook, por ires criar casais
Afutura nova ferramenta do Facebook para encontros amorosos, apresentada nesta semana por Mark Zuckerberg na já tradicional conferência F8, irá competir com plataformas como o Tinder, mas representa, em boa verdade, um regresso às origens da rede social. E é também uma jogada com potencial para ser genial, mas já lá vamos.
Apesar de o escândalo da Cambridge Analytica não ter tido verdadeiro impacto no nível de utilização da maior rede social do mundo (como aqui escrevi – www.dn.pt/i/9293249.html –, o número de utilizadores até subiu no primeiro trimestre do ano), as ondas de choque do caso fazem-se sentir. Zuckerberg, perante o Congresso dos Estados Unidos, falou na hipótese da criação de uma versão paga do Facebook, sem publicidade, e agora na F8 anunciou ainda uma nova ferramenta para que cada um consiga mais facilmente controlar que dados são partilhados com que apps.
Depois, falou no referido novo serviço para arranjar encontros amorosos. Ou seja, enquanto com uma mão prometia dar mais controlo aos utilizadores sobre as informações que partilham na rede, com a outra aliciava-os a deixarem que os seus dados fossem ainda mais usados para os ligar a outras pessoas.
O que faz sentido: o Facebook nasceu em Harvard como uma forma de os estudantes do campus saberem quem estava “solteiro e disponível”, quem tinha acabado de sair de uma relação e, como tal, provavelmente a precisar de alguém para “mudar de ares”. Não se trata de o Facebook só agora passar a ter uma plataforma para engates – ele, na realidade, foi criado para facilitar encontros cujo objetivo final, como tanta coisa na vida, é o sexo. O resto foram construções sociais que se fizeram em cima do projeto inicial (aliás, tal como sempre se faz quando se trata de sexo).
De qualquer forma, Zuckerberg garante que o objetivo da nova funcionalidade (que ainda não tem nome nem data oficial para arrancar) é arranjar-se relações duradouras, não apenas encontros esporádicos. O que até é possível. Afinal, o Facebook sabe mais acerca de cada um de nós do que nós próprios. Cada clique que damos na rede alimenta o sistema e está mais do que demonstrado que os algoritmos são incrivelmente bons a traçar perfis a partir destes elementos. Usá-los para ligar pessoas “compatíveis” é um passo lógico e só surpreende o facto de tal não se ter feito mais cedo.
Além disso, criar casais a partir daquilo que as pessoas dizem e fazem na internet tem uma vantagem genial: serão muitos (imensos mesmo) os casos em que se aplicará a velha expressão “Olha, só se estraga um lar!”