Diário de Notícias

Obrigado, Facebook, por ires criar casais

- RICARDO SIMÕES FERREIRA JORNALISTA

Afutura nova ferramenta do Facebook para encontros amorosos, apresentad­a nesta semana por Mark Zuckerberg na já tradiciona­l conferênci­a F8, irá competir com plataforma­s como o Tinder, mas representa, em boa verdade, um regresso às origens da rede social. E é também uma jogada com potencial para ser genial, mas já lá vamos.

Apesar de o escândalo da Cambridge Analytica não ter tido verdadeiro impacto no nível de utilização da maior rede social do mundo (como aqui escrevi – www.dn.pt/i/9293249.html –, o número de utilizador­es até subiu no primeiro trimestre do ano), as ondas de choque do caso fazem-se sentir. Zuckerberg, perante o Congresso dos Estados Unidos, falou na hipótese da criação de uma versão paga do Facebook, sem publicidad­e, e agora na F8 anunciou ainda uma nova ferramenta para que cada um consiga mais facilmente controlar que dados são partilhado­s com que apps.

Depois, falou no referido novo serviço para arranjar encontros amorosos. Ou seja, enquanto com uma mão prometia dar mais controlo aos utilizador­es sobre as informaçõe­s que partilham na rede, com a outra aliciava-os a deixarem que os seus dados fossem ainda mais usados para os ligar a outras pessoas.

O que faz sentido: o Facebook nasceu em Harvard como uma forma de os estudantes do campus saberem quem estava “solteiro e disponível”, quem tinha acabado de sair de uma relação e, como tal, provavelme­nte a precisar de alguém para “mudar de ares”. Não se trata de o Facebook só agora passar a ter uma plataforma para engates – ele, na realidade, foi criado para facilitar encontros cujo objetivo final, como tanta coisa na vida, é o sexo. O resto foram construçõe­s sociais que se fizeram em cima do projeto inicial (aliás, tal como sempre se faz quando se trata de sexo).

De qualquer forma, Zuckerberg garante que o objetivo da nova funcionali­dade (que ainda não tem nome nem data oficial para arrancar) é arranjar-se relações duradouras, não apenas encontros esporádico­s. O que até é possível. Afinal, o Facebook sabe mais acerca de cada um de nós do que nós próprios. Cada clique que damos na rede alimenta o sistema e está mais do que demonstrad­o que os algoritmos são incrivelme­nte bons a traçar perfis a partir destes elementos. Usá-los para ligar pessoas “compatívei­s” é um passo lógico e só surpreende o facto de tal não se ter feito mais cedo.

Além disso, criar casais a partir daquilo que as pessoas dizem e fazem na internet tem uma vantagem genial: serão muitos (imensos mesmo) os casos em que se aplicará a velha expressão “Olha, só se estraga um lar!”

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Zuckerberg afirma que quer criar “relações duradouras”
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