Moussa Marega, o triunfo de um herói improvável
Numa época quase sem investimento, emergiram figuras que o dragão já conhecia. Algumas bem surpreendentes, como Marega ou Herrera, que Sérgio Conceição elevou a ídolos do universo azul e branco – o avançado africano é a grande impressão digital deste títu
RUI FRIAS Moussa Marega não começou o campeonato a titular, mas demorou apenas três minutos a anunciar-se como a improvável figura portista desta época. A 9 de agosto de 2017, a receção ao Estoril marcava o arranque do trajeto para o novo FC Porto de Sérgio Conceição, num dragão com expectativa renovada, ainda que desconfiado após um defeso em crise que não tinha trazido reforços mediáticos mas “apenas” um par de regressos de figuras com passado pouco feliz no clube. Entre essas, Marega.
O primeiro onze do campeonato expunha uma dupla de ataque com Soares e Aboubakar e decerto muitos adeptos terão tragado em seco quando o brasileiro teve de deixar o relvado, lesionado, aos 32 minutos, cedendo o lugar a Marega. Três minutos depois, o maliano, que não tinha deixado muitos amigos nas bancadas na anterior passagem pelo Dragão, abriu o marcador do FC Porto na Liga e acabaria o jogo com dois golos. Sim, o primeiro golo do título teve o selo de Marega – e só mais tarde se perceberia o quão justo tinha sido o destino.
O avançado que chegara atrasado na pré-época e tinha ouvido Sérgio Conceição avisá-lo de que teria “de correr atrás” não parou de correr em campo. E encaixou na perfeição no futebol idealizado pelo técnico portista para recuperar o trono da Liga portuguesa. Um futebol de profundidade, agressivo, rápido, em diagonais e incisivo na frente. Marega representava tudo isso. E, por isso, mesmo com os defeitos técnicos antigos, rapidamente se tornou imprescindível no Dragão. Ganhou a titularidade a partir desse jogo inaugural e cimentou-a. Com golos, sim, e muitos (melhor marcador da equipa, com 22), mas sobretudo com a capacidade física para causar desgaste rápido nas defesas contrárias.
A entrega quase desmedida traiu-o fisicamente por duas ocasiões, com ruturas musculares – aos 13 minutos do jogo com o RB Leipzig, na Liga dos Campeões, depois de um sprint que valeu o canto que abriria a vitória portista, já sem o maliano em campo; e a oito minutos do final na vitória sobre o Sporting no Dragão, no campeonato. Dessa última vez, em março, ficou um mês e meio a recuperar para poder aparecer no jogo decisivo frente ao Benfica, na Luz. Depois, na Madeira, foi ele a desbloquear a vitória frente ao Marítimo, a um minuto do fim, com o golo que deixou o FC Porto com o título na mão, confirmando-se como a figura de uma época que marca o fim de um jejum portista que durava há quatro longos anos.
Não por acaso, as únicas derrotas da equipa do FC Porto no campeonato (Paços de Ferreira e Belenenses) aconteceram no período em que o maliano esteve lesionado. Aos 27 anos, Marega conquistou até os rivais. Jorge Jesus, por exemplo, elogiou-o por duas vezes, durante a maratona de duelos entre Sporting e FC Porto: “É um jogador que sempre referenciei”, disse numa ocasião. Noutra: “Marega dá muita profundidade à equipa do FC Porto e tem influência.” E conquistou definitivamente o coração dos adeptos, que agora cantam, rendidos, “Oh, Marega...”