O beijo na terra, a vénia ao Presidente e a final sonhada de João Sousa
Português eliminou Tsitsipas e procura hoje o terceiro título ATP, frente a Frances Tiafoe, jovem prodígio americano
Sousa é o primeiro português a chegar a uma final do Estoril Open, depois de Frederico Gil, em 2010, no antigo torneio português
O Conquistador tomou de assalto o Estoril Open 2018. Farto de emperrar na estreia, João Sousa neste ano cedo mostrou estar determinado em reescrever a história do torneio e só parou quando garantiu um lugar na final. Foi o que aconteceu ontem, depois de um dos melhores jogos da carreira, em que venceu Stefanos Tsitsipas (6-4,1-6 e 7-6), e com o apoio de Marcelo Rebelo de Sousa na bancada.
“Força, João”, atirou Marcelo uma e outra vez, sempre que o português passava à frente dele para servir. Por isso, assim que o jogo acabou, João Sousa soltou o grito da vitória, deu um beijo no pó de tijolo e fez uma vénia ao Presidente da República, retribuindo o apoio. O entusiasmo de Marcelo foi extensivo a toda a bancada do Estádio Millennium, deliciada com o espetacular desempenho do primeiro português a disputar a final do Estoril Open desde Frederico Gil, em 2010.
Sousa não viu essa final, mas sonhava fazer melhor. Hoje, o melhor português de todos os tempos e n.º 68 do ranking mundial pode voltar a fazer história no ténis. Frente a Frances Tiafoe (15.30, TVI 24), o tenista de Guimarães vai lutar pelo terceiro título ATP e tentar repetir os feitos de Kuala Lumpur (2013) e Valência (2016).
“Não existem palavras para descrever este momento, é incrível. É uma sensação única”, disse o português, ainda no court, agradecendo ao público: “É especial por alcançar uma final deste nível, em casa, no meu país e a jogar a um nível altíssimo. O ambiente esteve fantástico, como esteve nos últimos dias, e deu-me força para alcançar a tão desejada final.”
Neste ano, nem o peso da responsabilidade fez tremer o vimaranense de cognome Conquistador, tal as conquistas alcançadas para o ténis português – chegou à final depois de eliminar Medvedev, Pedro Sousa, Kyle Edmund e Stefanos Tsitsipas, naquele que foi talvez o mais empolgante jogo desta edição do Estoril Open.
Seguro, venceu o primeiro set por 6-4, depois de um break ao sétimo jogo que o catapultou para o triunfo no primeiro parcial. Mas, tal como na véspera, deu o segundo set como perdido aos 6-1 para o grego. O terceiro parcial viria a ser o mais equilibrado e a ser resolvido no tiebreak, onde João Sousa teve a frieza e a capacidade necessária para aproveitar os erros de Tsitsipas e festejar a vitória (7-6) e a presença na final.
“O primeiro foi dos melhores sets que fiz na minha carreira em terra batida”, explicou Sousa, entusiasmado, ele que, menos duas horas depois estava novamente a entrar em campo com Leonardo Mayer. Sousa tentava chegar à final também em pares, mas perdeu para a dupla britânica, Cameron Norrie e Kyle Edmund (6-2 7-6), que hoje luta pelo título. O sonho americano de Tiafoe João Sousa preferia jogar a final com o amigo Pablo, mas foi Frances Tiafoe que ontem ganhou esse direito em dois sets (6-2 e 6-3). Filho de imigrantes fugidos da guerra civil na Serra Leoa na década de 1990, Tiafoe personifica a imagem do sonho americano.
Cresceu num clube de ténis de Maryland, onde o pai trabalhava como vigilante. Era lá que Frances vivia com os pais e um irmão gémeo e foi lá que se começou a interessar pelo ténis. “Aproveitava para usar os espaços à noite, quando não estavam ocupados. Jogava com raquetas em segunda mão, contra a parede, a imitar os gestos dos miúdos mais velhos e a imaginar que jogava contra Federer ou Nadal”, contou Tiafoe ao The Players Tribune, ele que tem como ídolo Del Potro e procura a segunda vitória ATP da carreira, depois de Delray Beach (EUA), em fevereiro.