Diário de Notícias

Putin toma posse amanhã. Navalny entre os mil detidos em protestos

Um dia de manifestaç­ões contra a tomada de posse de Putin, sob a bandeira “Não é o nosso czar”, foi organizado pelo movimento do ativista anticorrup­ção Alexei Navalny. Como nos últimos anos, a polícia reprimiu os protestos

- CÉSAR AVÓ

O principal opositor do regime russo, Alexei Navalny, e mais de mil dos seus apoiantes foram detidos ontem durante as manifestaç­ões em todo o país, dois dias antes da posse de Vladimir Putin para um quarto mandato presidenci­al. “Abaixo o czar!” e “A Rússia será livre!” foram algumas das palavras de ordem nos ajuntament­os não autorizado­s pelas autoridade­s.

“O velhinho Putin pensa que é um czar. Mas não é o nosso czar e é por isso que temos de ir para a rua no dia 5 de maio”, escreveu Navalny no Twitter na sexta-feira. E na mesma mensagem fez menção ao facto de alguns seguidores terem sido detidos.

O ativista anticorrup­ção foi preso pouco depois da sua chegada à manifestaç­ão em Moscovo, enquanto a multidão gritava “vergonha” em ucraniano, em referência a um famoso slogan da revolta pró-europeia em Kiev, em 2014. Naval- ny já tinha sido preso em janeiro e em três ocasiões no ano passado.

Segundo a organizaçã­o OVD-Info, especializ­ada em verificar as detenções, pelo menos 1029 partidário­s de Navalny foram detidos pela polícia. Na capital contabiliz­aram 574 e em Chelyabins­k, nos montes Urais, 164. “As detenções foram feitas de forma brutal”, disse uma fonte da organizaçã­o, citada pela AFP. Há registo de vários feridos – pelo menos um foi hospitaliz­ado.

A OVD-Info notou ainda que muitos adolescent­es estão entre os manifestan­tes presos. “Navalny apelou no YouTube para não nos deixarmos ser roubados nas eleições em silêncio. Putin é um ladrão. Ele forçou o voto do povo”, disse Katia, uma manifestan­te de 15 anos em Moscovo.

“Cada geração tem sua própria revolução. A minha é agora. Vou dizer aos meus filhos como eu libertei a Rússia de Putin, o ladrão que pensou que era czar”, disse Anton, manifestan­te de 22 anos. Em Moscovo, a polícia usou gás lacrimogén­eo para dispersar o protesto, mas centenas de partidário­s da oposição reuniram-se na Praça Pushkin, no centro da capital russa.

Também houve registo de confrontos entre manifestan­tes da oposição e militantes pró-Kremlin, que se reuniram igualmente no centro de Moscovo.

Em São Petersburg­o, a segunda maior cidade do país, milhares de pessoas marcharam na Avenida Niévski, o centro da antiga capital imperial, aos gritos de “Putin, ladrão!” e “Putin rua”.

Alguns manifestan­tes tentaram bloquear o tráfego de carros antes da intervençã­o da polícia. Os manifestan­tes atiraram ovos e garrafas à polícia e em troca receberam gás lacrimogén­eo.

Vladimir Putin vai tomar posse para um quarto mandato na presidênci­a da Rússia amanhã. A vitória nas eleições de março coloca-o à frente do país até 2024, depois de mais de 18 anos de poder como chefe de Estado ou de governo. Oposição e observador­es indepen- dentes denunciara­m fraudes nas eleições presidenci­ais de 18 de março. Putin obteve mais de 76% dos votos.

Alexei Navalny anunciou a sua candidatur­a às eleições em 2016, mas não foi autorizado a concorrer. Em dezembro do ano passado, a Comissão Eleitoral da Rússia impediu a candidatur­a porque foi condenado a cinco anos de prisão, com pena suspensa, por fraude.

O advogado e ativista, que desde o primeiro minuto disse que o processo era político, apelou para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. O órgão com sede em Estrasburg­o concluiu que Navalny não teve direito a um julgamento justo, pelo que o Supremo Tribunal russo anulou a sentença de 2013 e reenviou o processo para o tribunal de Kirov. Mas este, em fevereiro de 2017, repetiu o veredicto inicial.

Navalny apelou para o boicote nas presidenci­ais. A União Europeia reagiu ao afastament­o do político russo, tendo lançado “sérias dúvidas” sobre o processo eleitoral.

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A juventude respondeu ao apelo de Alexei Navalny, de 41 anos. O ativista foi preso pouco depois de chegar à manifestaç­ão na Praça Pushkin

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