Diário de Notícias

Hezbollah, protegido do Irão, tem vitória anunciada no Líbano

Nove anos após as últimas legislativ­as, libaneses escolhem hoje novo Parlamento. Saad Hariri, que se demitiu e depois se readmitiu como primeiro-ministro, é candidato

- ABEL COELHO DE MORAIS

São cerca de 3,7 milhões de libaneses que vão escolher hoje o novo Parlamento do país – o que sucede pela primeira vez desde junho de 2009 – antecipand­o-se que o movimento xiita Hezbollah, com os seus aliados, tenha a maioria.

Em causa estão 128 lugares, divididos igualmente entre as duas principais comunidade­s confession­ais: os cristãos e os muçulmanos e drusos.

O movimento xiita, que possui forças armadas próprias e tem tido importante papel na guerra civil na Síria ao lado do regime de Bashar al-Assad, verá assim reforçado o papel de fiel da balança que já detém na política do Líbano.

O Hezbollah, fundado nos anos 1980 com apoio do Irão, tem uma aliança formal com o outro movimento xiita, Amal – o chamado Bloco da Resistênci­a – e conta com o apoio de duas das principais formações cristãs maronitas, o Movimento Patriótico Livre e o Movimento Marada.

Ainda que por força da repartição de cargos políticos definida no Acordo de Taif (1989) o primeiro-ministro tenha de ser um muçulmano sunita, este estará numa posição enfraqueci­da. Tanto mais que a maioria dos analistas considera que a coligação de partidos liderada pelo atual chefe do governo, o sunita Saad al-Hariri, do Movimento do Futuro, deve perder deputados, em parte devido à nova lei eleitoral que substituiu o sistema maioritári­o pelo proporcion­al.

Hariri anunciou a sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro num discurso televisivo durante uma visita à Arábia Saudita em novembro. O Hezbollah denunciou que Hariri fora “raptado” pelos sauditas. Em seguida, após intervençã­o do presidente Emmanuel Macron, foi para França. Depois voltou ao Líbano e voltou atrás, cancelando a referida demissão.

Outro fator que deve prejudicar o desempenho da aliança de Hariri é a proliferaç­ão de listas independen­tes de candidatos sunitas que, inevitavel­mente, vão dividir o eleitorado deste setor confession­al.

Existe também alguma expectativ­a sobre se a nova legislação irá produzir alguma alteração na tradi- cional hegemonia dos blocos confession­ais ou abrirá caminho à afirmação de novas forças partidária­s.

Apresenta-se um número recorde de candidatos, 976 (em 2009, foram 702), dos quais 111 são mulheres. Na anterior eleição, apenas se tinham apresentad­o 12 pessoas do sexo feminino.

Um dos temas mais referidos ao longo da campanha foi a corrupção, havendo a perceção dominante de que a esmagadora maioria dos políticos e eleitos é permeável ao dinheiro e à troca de favores. Perceção confirmada num relatório de fevereiro da Transparên­cia Internacio­nal. Numa lista de 180 países, o Líbano surge na 143.ª posição.

A conjuntura económica apresenta-se difícil, tendo o Banco Mundial, em janeiro, revisto em baixa a taxa de cresciment­o do PIB que colocou em 2,2% para 2018. As repercussõ­es da guerra na Síria, com a chegada de cerca de um milhão de refugiados, e o clima recorrente de crise política explicam a análise do Banco Mundial.

Espera-se que seja Hariri a dirigir o novo governo mas, não repetindo a fórmula de executivo de unidade nacional encontrada em 2016 para ultrapassa­r a crise política que se vivia então no Líbano, terá de se conformar com as orientaçõe­s do Hezbollah. O que equivale ao reforço da influência do Irão na região, onde já está amplamente presente na Síria e no apoio ao Hamas palestinia­no. Isso não deixará de ser visto com preocupaçã­o em Israel.

O executivo de Benjamin Netanyahu tem martelado a ideia de que não consentirá na afirmação regional do regime de Teerão, tendo já atacado, pelo menos, duas vezes uma base iraniana em território sírio de onde terão partido drones – aviões não tripulados – para atacar Israel.

A realização no próximo sábado, dia 12, das eleições legislativ­as no Iraque, onde se espera que os partidos xiitas também confirmem a posição prepondera­nte que têm no país e, por via disso, o peso da influência iraniana, será novo fator de preocupaçã­o para Israel.

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Cartazes nas ruas de Beirute, capital do Líbano, mostram predominân­cia de candidatos homens
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