Fascínio da imagem fixa
De 1962, do francês Chris Marker, é um dos filmes centrais do ciclo 24 Imagens – Cinema e Fotografia
DESTAQUE Como se escreve no programa de maio da Cinemateca, o filme La Jetée (1962), de Chris Marker, é “central em qualquer ciclo que relacione o cinema e a fotografia”. Isto porque se trata de um objeto concebido a partir de uma ideia “insensata”: nada mais nada menos que contar uma breve história cinematográfica (28 minutos de duração) através de... fotografias! Mais do que isso: utilizar imagens com componentes mais ou menos realistas para encenar a cidade de Paris num tempo de ficção científica, pós-apocalítico.
Pela sua lógica experimental, o filme está necessariamente ligado às convulsões criativas da Nova Vaga francesa. O certo é que Marker (falecido em 2012, aos 91 anos), sempre foi um criador algo marginal, avesso à filiação num qualquer “movimento”. Nesta perspetiva, La Jetée ficou como um filme singularíssimo, explorando o fascínio da imagem fixa como quem celebra uma dimensão pré-histórica do próprio cinema – afinal de contas, os corpos não precisam de se mover para sentirmos a sua atividade e, mais do que isso, a sua contagiante energia vital.
Programado para sessões nos dias 7 e 15 de maio do ciclo “24 Imagens”, La Jetée será acompanhado La Jetée ficou como um filme singularíssimo por duas raridades, igualmente empenhadas em demonstrar que, nas fotografias, a fixidez é também uma ideia de movimento: O Dia de Um Estivador Precário (1966), de Hubert Fitche e Leonore Mau, e Ulysse (1982), de Agnès Varda. O filme de Varda, em particular, antecipa outras experiências da cineasta com as imagens fixas, incluindo o recente Olhares Lugares (2017), realizado em colaboração com JR, um fotógrafo e artista visual. J.L.