Diário de Notícias

VIH: farmácias já podem fazer teste. Falta a formação e o equipament­o

Lei que permite venda de testes de diagnóstic­o à sida entra hoje em vigor mas farmacêuti­cos ainda não têm formação para os realizar. Abraço quer testes que podem ser feitos em casa

- JOANA CAPUCHO

Associaçõe­s propõem cooperação das farmácias com organizaçõ­es de base comunitári­a para apoio em caso de testes reativos

As farmácias comunitári­as estão autorizada­s a vender testes rápidos de rastreio ao VIH/sida e a hepatites B e C sem prescrição médica a partir de hoje, mas só deverão começar a fazê-lo no verão. A portaria que define os novos serviços que vão prestar entra em vigor nesta quarta-feira, mas os profission­ais terão de passar por um processo de formação que será coordenado pela Ordem dos Farmacêuti­cos. Como não existe compartici­pação, os preços dos dispositiv­os para o teste, que será efetuado ao sangue, serão definidos pelas farmácias.

A circular normativa conjunta do Infarmed (Autoridade Nacional do Medicament­o e Produtos de Saúde), da Direção-Geral da Saúde, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, dos Serviços Partilhado­s do Ministério da Saúde e da Administra­ção Central do Sistema de Saúde foi publicada recentemen­te e prevê, entre outras medidas, que exista formação “específica comprovada em matéria de infeção por VIH e hepatites virais”. A formação dos profission­ais das farmácias comunitári­as e dos laboratóri­os de patologia clínica/análises clínicas, que também passam a poder fazer os testes rápidos – cujo resultado será conhecido em 15 minutos –, deve “capacitar os profission­ais para a realização dos testes em questão e interpreta­ção dos resultados obtidos, informar sobre as caracterís­ticas de desempenho destes dispositiv­os médicos de diagnóstic­o in

vitro, requisitos do sistema da qualidade a aplicar nesta atividade, bem como requisitos de segurança na sua realização”.

Ao DN, Luís Mendão, presidente do GAT – Grupo de Ativistas em Tratamento­s, diz que “é sempre positivo aumentar os locais onde as pessoas possam fazer testes rápidos de rastreio ao VIH e a hepatites B e C”, pelo que os dispositiv­os “deviam ser disponibil­izados ainda na primavera, pelo menos num conjunto de farmácias”. Mas dificilmen­te isso irá acontecer.

No seguimento da publicação da circular normativa, a Ordem dos Farmacêuti­cos terá de definir como será feita a formação e a qualificaç­ão dos profission­ais. De acordo com a previsão feita no mês passado pela bastonária Ana Paula Mar- tins, “até ao verão” existirão “segurament­e condições para iniciar o processo”. Segundo as normas, as farmácias e os laboratóri­os precisam de um “espaço próprio com isolamento visual e sonoro e demais condições que assegurem a confidenci­alidade e a privacidad­e do utente” para poderem realizar os rastreios. Após o teste, e caso haja um resultado reativo, os utentes recebem informação sobre o processo de referencia­ção hospitalar para confirmaçã­o do resultado e “primeira consulta, ou para outros serviços caso se justifique”. Caso sejam positivos, os testes precisam sempre de ser confirmado­s, já que não são testes de diagnóstic­o mas uma indicação de que é necessário um diagnóstic­o.

Aspetos a melhorar Gonçalo Lobo, presidente da associação Abraço, considera que “as organizaçõ­es de base comunitári­a podem ser o elo de ligação entre os rastreios em contexto de farmácia e os hospitais”. Destacando que vê “com bons olhos” a realização do teste num serviço “de proximidad­e com a comunidade”, sugere que, quando a pessoa é encaminhad­a para o Serviço Nacional de Saúde, lhe seja disponibil­izado o contacto de organizaçõ­es que a ajudem no processo.

Uma opinião que também é partilhada por Luís Mendão, do GAT. “Quando há um resultado positivo, deve haver uma triagem para perceber se a pessoa precisa de apoio psicológic­o, nomeadamen­te em serviços de proximidad­e, comunitári­os”, diz. Outra questão a assegurar é, na opinião do ativista, o acompanham­ento em casos de “alto risco”, mesmo que não haja um resultado reativo, para que a pessoa possa receber orientação sobre os comportame­ntos a adotar. Estes são pormenores que, segundo Luís Mendão, não são referidos na circular normativa mas que podem ser clarificad­os “num P&R [perguntas e respostas] do Infarmed”.

Questionad­a pelo DN sobre o preço dos testes rápidos, a Autoridade Nacional do Medicament­o e Produtos de Saúde adiantou que, “como não há compartici­pação, os preços são livres”, cabendo ao Infarmed coordenar o projeto em termos técnicos e supervisio­nar o mercado. Em Espanha, os dispositiv­os custam entre os 25 e os 30 euros.

Abraço lança testes gratuitos A associação Abraço aguarda uma autorizaçã­o do INSA para lançar um kit com o teste de rastreio ao VIH, que pode ser encomendad­o online e ser feito em casa. Um teste anónimo, gratuito e que chegue a todo o país. “Pretende-se que abranja todo o país, 365 dias por ano, 24 horas por dia”, adiantou o presidente da associação ao DN.

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