Bragança tem a maior mancha de carvalho-negral do país
Os caminheiros observaram zonas com indícios da presença de animais selvagens, como javalis, veados e corsos. A disponibilidade de água potável e a qualidade do ar que temos depende muito das florestas bem preservadas e com biodiversidade.
Trás-os-Montes. Em território do lobo-ibérico, nas serras de Montesinho e da Nogueira, a floresta natural convive com a floresta plantada durante o Estado Novo. Bragança tem uma vasta área qualificada onde impera a biodiversidade. No último fim de semana realizou-se uma caminhada pedagógica pela serra e alunos do ensino básico e secundário aprenderam mais sobre florestas.
A cidade de Bragança repousa aos pés da serra da Nogueira, onde existe a maior mancha de carvalho-negral em Portugal, e uma das maiores da Europa. Bem perto, a serra de Montesinho é o ponto mais alto da região. Ambas são exemplos onde a floresta natural convive com a floresta plantada. Exemplos de biodiversidade apreciados pelos caminheiros que, no domingo, participaram na caminhada pedagógica do projeto Prevenir e Educar por Uma Floresta Verde, da Tranquilidade, DN, JN e TSF, e que se realizou num circuito circular na serra da Nogueira.
“Uma floresta é muito mais do que um conjunto de árvores; numa floresta a sério, há uma biodiversidade e uma diversidade de plantas muito grande”, alertou José Luís Rosa, técnico do ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e Florestas.
Durante o percurso, os caminheiros puderam ainda observar zonas com indícios da presença de animais selvagens, nomeadamente de javalis, veados e corsos, através das pegadas e dos excrementos dos animais. “Animais que são presas de uma espécie protegida, e que existe nesta área, que é o lobo ibérico.” “Estamos na casa do lobo”, enfatizou, acrescentando que a importância de prevenir e proteger a natureza reside num chavão: “Uma espécie que se extingue é um património genético que se vai embora.” E neste sítio especial, considerado como um “santuário natural”, Rede Natura 2000, com 109 mil hectares, José Luís Rosa foi quem deu voz às explicações.
A disponibilidade de água potável para bebermos e a qualidade do ar que temos depende muito deste tipo de áreas, assegura o responsável, o que demonstra a importância da floresta: “Se fecharem os olhos, mesmo sem verem nada, percebem que estão num espaço natural. Há pássaros a cantar.” E ao som da felosa-de-bonelli, pássaro muito comum na serra da Nogueira, arrancou a caminhada, que, na primeira paragem, fez a distinção entre uma floresta plantada e uma floresta que se regenera naturalmente, como é o caso da floresta de carvalho-negral.
Em fim de semana de Feira das Cantarinhas, a cidade de Bragança conviveu também com o projeto de sensibilização para as florestas. Os alunos, que durante dois dias estiveram a explorar medidas de prevenção e educação por uma floresta verde, estiveram ao longo do dia de sábado na Praça Camões, no centro da cidade, a serem repórteres por um dia e a entrevistar entidades ligadas à proteção das florestas.
O Sepna da GNR é apenas um exemplo dessas entidades. A equipa bragantina, composta por seis elementos, cobre o território dos concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Vinhais. Só no concelho de Bragança existem três postos de vigia contra incêndios: “Temos um na serra da Nogueira, outro na serra de Montesinho, o ponto mais alto do nosso concelho, e depois temos em Deilão. São estes três, mas depois temos outros a nível distrital”, explica António Morais, da GNR.
A partir de amanhã, o Prevenir e Educar por Uma Floresta Verde estará em Terras de Bouro, no Gerês. Como tem sido habitual vai começar por visitar algumas escolas do concelho.
Em Bragança esteve nos agrupamentos de escolas Abade Baçal, Miguel Torga e Emídio Garcia. Cristina Montes, adjunta da diretora da Escola Básica e Secundária Miguel Torga, refere que o Prevenir e Educar por Uma Floresta Verde é um projeto com importância pedagógica, reforçando que este é um exemplo de como deveria ser a aprendizagem do século XXI “porque vai ao encontro daquilo que é pretendido no ensino atual, que infelizmente não conseguimos aplicar todos os dias em todas as aulas”. Cristina Montes acrescenta que “isto é que é uma aula ativa”, porque “eles estão a aprender fazendo e não há melhor aprendizagem do que essa”.