Diário de Notícias

UE corre perigo de ser atingida pela “perversão da comunicaçã­o”

“A comunicaçã­o pode reforçar ou destruir a União Europeia?” Este é o tema em debate no Grande Auditório da Culturgest

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CONFERÊNCI­A A informação é o que “permite a vida em comunidade e assegura a democracia e o debate de ideias”, mas cada vez mais é notório que pode ser “utilizada de formas extremamen­te perversas”. Essa “perversão da comunicaçã­o” representa um perigo real para a União Europeia (UE), especialme­nte porque esta está a avançar para formas mais centraliza­das de decisão, disse o presidente do Instituto Europeu, Eduardo Paz Fernandes.

“A comunicaçã­o pode reforçar ou destruir a UE?” é o tema da terceira conferênci­a do ciclo “Os desafios da União Europeia”, que decorre hoje, Dia da Europa, no Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa. O principal orador será Cees Hamelink, professor emérito de Comunicaçã­o e Política da Universida­de de Amesterdão. O primeiro painel contará com vários membros dos media, incluindo o projeto independen­te É Apenas Fumaça, enquanto o segundo focará temas de segurança. O objetivo “é ver quais são os caminhos para conservar aquilo que de melhor há na informação e nas novas tecnologia­s e tentar defender contra o resto”, disse ao DN o presidente do Instituto Europeu, que organiza a conferênci­a.

“A informação é sempre extremamen­te positiva. É a existência de informação nas sociedades que permite a vida em comunidade e assegura a democracia e o debate de ideias”, referiu Eduardo Paz Fernandes, lembrando que “nas sociedades que abafam a informação a vida é, obviamente, muito pior”.

Contudo, explicou o presidente do Instituto Europeu, “chegámos a uma fase em que percebemos que a informação pode ser utilizada de formas extremamen­te perversas”. E menciona as fake news (notícias falsas) ou a problemáti­ca que se tornou especialme­nte visível a partir das eleições norte-americanas “da possibilid­ade de utilizar as novas tecnologia­s de informação para introduzir alterações naquilo que seria a expressão normal da vontade das pessoas”.

Mas o problema não é exclusivo dos EUA e a UE também corre risco. “Temos uma potência profundame­nte iliberal que tenta intervir ativamente sobre a União Europeia no sentido da desestabil­ização. Não há provas, mas há suspeitas, de que tenha estado associada a tentativas de manipulaçã­o na França, na Itália, e no brexit, que foi talvez o primeiro balão de ensaio”, afirmou Paz Fernandes, referindo-se à Rússia. “Portanto, se a UE for avançar para formas mais centraliza­das de decisão, maior é o perigo de ser atingida por essa perversão da comunicaçã­o”, acrescento­u.

Mas o que pode ser feito? “O caso Facebook é exemplar de duas coisas. Primeiro, da terrível manipulaçã­o que é possível conseguir a partir da utilização de dados que deviam ser confidenci­ais. E da forma como a ausência de qualquer regulação pública permite a estas empresas fazerem utilizaçõe­s perversas”, disse o responsáve­l. “Mas, por outro lado, o Facebook é um instrument­o muito útil que traz muita felicidade à vida de muitas pessoas”, referiu, lembrando ser “muito curioso” que face ao escândalo da Cambridge Analytica, de venda de dados privados, “ter surgido um movimento para sair do Facebook que praticamen­te não teve seguidores”. S. S.

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