Estaladas e insultos derrubam procurador do #MeToo
Eric Schneiderman negou as acusações de quatro mulheres mas demitiu-se. Apoiava o movimento contra agressões e abusos sexuais
Procurador-geral de Nova Iorque demitiu-se. Entre as vítimas estão duas ex-namoradas
SUSANA SALVADOR Publicamente, como procurador-geral de Nova Iorque, Eric Schneiderman era uma das vozes em defesa do movimento #MeToo, através do qual milhares de mulheres denunciaram ter sido vítimas de abusos e agressões sexuais. Mas em privado, segundo revelaram à revista The New Yorker quatro mulheres (entre elas duas ex-namoradas que aceitaram dar a cara), era capaz de as agredir, estrangular ou insultar, por vezes depois de já ter bebido. Schneiderman rejeitou as acusações mas demitiu-se poucas horas depois de o artigo ser publicado.
“Na privacidade de relações íntimas envolvi-me em role-playing [o assumir de personagens] e outras atividades sexuais consensuais. Nunca agredi ninguém. Nunca tive sexo não consensual, que é uma linha que nunca ultrapassaria”, afirmou em comunicado. “Apesar de estas alegações não estarem ligadas à minha conduta profissional ou às ações do meu gabinete, elas vão efetivamente impedir-me de liderar o trabalho neste momento crítico”, acrescentou o ex-procurador de 64 anos, que estava no cargo desde 2010 e tinha grandes hipóteses de ser reeleito no final deste ano.
Schneiderman, um democrata, não se limitou a dar voz pelas vítimas de abusos sexuais. Em fevereiro, acusou a empresa do produtor Harvey Weinstein de não ter protegido as suas funcionárias (no total, mais de 70 mulheres já disseram ter sido vítimas). Foram as denúncias contra Weinstein, reveladas também pela The New Yorker, que estiveram na génese do movimento #MeToo, que acabou por atingir outros homens da indústria do entretenimento, mas também políticos ou empresários.
No poder judicial, Schneiderman era um dos opositores mais ativos de Donald Trump, interpondo inúmeras ações contra a administração em temas como o clima ou a imigração. Razão por que muitos republicanos festejaram a sua demissão. A conselheira do presidente, Kellyanne Conway, escreveu no Twitter: “Apanhado”, junto a uma mensagem em que Schneiderman dizia que “ninguém estava acima da lei” e que “continuaria a lembrar Trump e a sua administração disso”. Acusações Michelle Manning Barish é uma das mulheres que vêm a público denunciar Schneiderman, dizendo que nos últimos meses a sua “angústia e raiva” cresceram à medida que ele assumia um papel relevante no movimento #MeToo. Michelle conta como, quatro semanas após começarem a relação, Schneiderman a esbofeteou e estrangulou. “Não foi um jogo sexual que acabou mal”, disse. “Foi completamente inesperado e chocante. Não consenti com nenhuma agressão.” A relação acabaria por durar dois anos, com altos e baixos e mais episódios de violência.
Outra namorada, a ativista, autora e produtora Tanya Selvaratnam, nascida no Sri Lanka, contou à revista que ele começou a esbofeteá-la na cama. “Primeiro era como se estivesse a testar-me. Depois começou a ser com mais força”, contou, reiterando que “não era consensual” mas “abusivo”. Além disso, exigia que ela o tratasse por “senhor” e começou a chamar-lhe “escrava castanha”. Outras duas mulheres não quiseram identificar-se, tendo uma delas sido agredida quando rejeitou os seus avanços.