Diário de Notícias

São oito esboços inéditos de Paula Rego numa sala. Na que se segue há mais quatro numa parede e três em frente. E quadros nunca vistos

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dois à direita], mas ao vê-lo outra vez acho que tem que ver com a maneira como ela era nessa época. São quadros com uma cor muito luminosa e agora, ao revê-los, gosto bastante.” Repete: “São espampanan­tes.”

Refere que tinha 9 anos e pergunta-se-lhe se eram quadros absurdos. “Para mim nada era absurdo, pois a minha vida era repleta de muitos absurdos. Portanto, nunca ficava surpreendi­do”, diz. Nova questão: alguma vez pediu à sua mãe para o retratar? “A única coisa que a mãe fez, exatamente nessa época, foi tirar-me alguns desenhos. Depois, cortava-os e inseria-os nos quadros como se fosse uma colagem. Tenho um com uma cara que desenhei.” Qual a razão dessa atitude: “Ela estava interessad­a na arte das crianças. Lera o que Picasso disse: todas as crianças são artistas; o problema é quando ficam adultos. Por isso, Picasso ficou sempre criança e também Paula Rego ainda é uma criança.” Insistirá à frente: “A Paula Rego agora é uma criança.” Dezenas de inéditos Nick Willing não está só na visita guiada e pedem-lhe para se integrar no grupo que vai começar a ver a exposição. A curadoria é de Catarina Alfaro, que tem imaginado sucessivas e inesperada­s exposições na Casa das Histórias nos últimos anos, e de Leonor de Oliveira. Ambas vão explicando as dezenas de quadros que estão dependurad­os nas paredes que, cronologic­amente, vêm desde os anos 1960, mas logo surge um inédito e Alfaro que chama a atenção para a particular­idade de ser uma das obras mais recente. Willing não se contém: “O estilo da mãe está mais expression­ista!” Cai o silêncio, só interrompi­do com outra explicação do filho, desta vez sobre como Paula Rego faz os bonecos que utiliza em alguns quadros: “Usa rede para segurar o barro, faz a cara com um molde de gesso, pinta-a como se fosse uma pessoa pequena e veste-a com a roupa que melhor conta a história que quer retratar. Às vezes, troca as cabeças aos bonecos.” Não fica por aí e escolhe a mulher rodeada por bonecos para mostrar que a mãe “precisa sempre de ter uma pessoa no quadro para mostrar a emoção”. Antes de a visita continuar, avisa para algo que é um presságio, depreende-se: “Olhem aqui a morte a espreitar atrás da mulher. Agora, a morte – que é sempre uma mulher – aparece em muitas das suas obras.”

NickWillin­g repete várias vezes o espanto perante a obra da mãe conforme a visita avança. Decerto, acontecerá o mesmo aos visitantes a partir de hoje nestas oito salas. CONTOS TRADICIONA­IS E CONTOS DE FADAS

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