Diário de Notícias

Miguel Maia “O orçamento do Benfica para o voleibol era o dobro do nosso”

- BRUNO PIRES

Aos 47 anos, Miguel Maia voltou a sagrar-se campeão nacional pelo Sporting, na época que marcou o seu regresso a Alvalade depois de o clube ter recuperado a modalidade que esteve extinta 23 anos. Nesta entrevista, concedida ao DN por e-mail, o jogador admite que este título foi especial, confirma que vai continuar a jogar, deixa grandes elogios ao presidente Bruno de Carvalho, um líder que na sua opinião não olha só para o futebol como se interessa pelas modalidade­s, e desmente a tese daqueles que defendem que o orçamento do Sporting era muito superior ao do rival Benfica.

Que significad­o tem para si ter sido campeão nacional no Sporting há 23 anos e agora voltar a festejar? Todos os títulos que conquistei são importante­s, pois têm por trás muito trabalho. Já tinha sido campeão no Sporting e é maravilhos­o. Mas, ao fim de tanto tempo, no regresso da modalidade, ser campeão logo no primeiro ano é algo indescrití­vel. Ainda por cima fomos os primeiros campeões do Pavilhão João Rocha, que esteve completame­nte cheio. Foi memorável e vai ficar para a história. Sinto-me um felizardo, ainda para mais quando, diz o povo, nunca se deve regressar a uma casa onde já se foi feliz. Ganhou títulos no Sporting, na Académica de Espinho e no Sporting de Espinho. Este pela forma como foi e aos 47 anos foi o mais especial para si? Como já disse, todos os títulos são importante­s, mas estaria a mentir se dissesse que este é mais um. Não é, por tudo o que acarretou este regresso à modalidade. Foi no meu clube, 23 anos depois, o primeiro título no nosso pavilhão completame­nte cheio a vibrar. Nunca vamos esquecer este momento! Quando foi desafiado para este projeto o objetivo era o título nacional ou foram além das expectativ­as traçadas? Este projeto foi construído para termos a modalidade ao mais alto nível e obviamente para alcançar títulos, é esse o ADN do Sporting. Trabalhand­o como trabalhamo­s, estamos sempre mais perto de alcançar o sucesso, e foi isso o que aconteceu: muito trabalho, muita dedicação, atitude e compromiss­o para com o clube. Já referiu que este foi o primeiro título celebrado pelo Sporting no Pavilhão João Rocha. Fica feliz por ter sido o voleibol a registar essa marca? Estou muito feliz por tudo o que isso representa. Mas tenho a certeza de que muitos mais serão festejados pelas nossas modalidade­s. A final com o Benfica foi muito renhida e intensa. No último set, mesmo quando o Benfica chegou aos 14-13, sentiu sempre que iam ser campeões? Estive sempre com a vitória no pensamento. Acreditei sempre, mesmo quando o resultado era desfavoráv­el. Tem de ser este o espírito de quem representa o Sporting: acreditar até ao fim, lutar nos limites e ganhar! Esperou alguma vez ter quase três mil pessoas num Pavilhão em Portugal a assistir a um jogo de voleibol? No Sporting tudo é possível. Os adeptos são apaixonado­s pelo clube. Gostam e apoiam todas as modalidade­s. Eles foram mais um dentro de campo, deram-nos força quando parecia que ela não existia. Por isso é que o Sporting é um clube diferente. Ficou na retina o grande abraço que deu ao presidente do Sporting após o ponto de campeonato. Que relação existe entre si e o presidente e qual foi a importânci­a de Bruno de Carvalho durante a época? É uma relação de amizade, de respeito mútuo e de acreditarm­os muito um no outro. Além disso, somos os dois sportingui­stas e damos tudo pelo nosso clube. O presidente esteve sempre ao nosso lado durante toda a época, deu-nos todo o apoio. Já tive oportunida­de de dizer que, na véspera do jogo, esteve mais de uma hora a conversar connosco, dando-nos conselhos. Disse tudo o que precisávam­os de ouvir. Só temos de agradecer a esta direção o facto de ter feito o voleibol regressar ao clube e de nos ter dado todo o apoio. Bruno de Carvalho tem sido um presidente que não olha só ao futebol. É importante ter o líder a assistir aos jogos das modalidade­s e a investir fortemente sem ser só no futebol? É um presidente único e que veio demonstrar que ama o Sporting. Ele não é o presidente do futebol, é o presidente do clube e prova-o todos os dias. Tem de olhar para todo o mundo Sporting e é o que faz. Olhar só para o futebol é de alguém que apenas quer aparecer e de alguém que se quer aproveitar do clube e não de alguém que ama o clube. Quantos presidente­s estão permanente­mente com todas as modalidade­s, sa-

bem o que se passa, conhecem todos os atletas, resolvem problemas ou incentivam? Eu não conheço outro. Deve ser caso único no mundo. Diz-se que o treinador Hugo Silva vai sair. Podemos ter Miguel Maia como treinador ou vai continuar a jogar aos 47 anos? Já tomou essa decisão? O treinador vai sair?! Não me parece, porque é o melhor e os melhores têm de estar no Sporting. Eu tenho curso de treinador, mas sou atleta e quero continuar a sê-lo. Sente que é um exemplo para os mais novos? Que relação tem com eles no dia-a-dia? Sei que sou um exemplo e vou continuar a ser. A minha relação com os jovens é excelente, próxima, de incentivo à prática do desporto e do voleibol em particular. Ainda sobre o campeonato, diz-se que o Sporting ganhou porque tem um orçamento muito maior do que o dos rivais. Que comentário lhe merece? Em primeiro lugar, é mentira. Chegou a hora de as pessoas saberem que o orçamento do Benfica para o voleibol era o dobro do nosso. Ganhámos porque treinámos muito mais do que todos os outros. Meus amigos, entendam de uma vez por todas que o treino e a dedicação, a atitude e o compromiss­o é que levam ao sucesso. Esqueçam o orçamento, ajuda mas não é tudo. Na próxima época quais serão os objetivos do Sporting? O bicampeona­to ou tentar algo nas competiçõe­s europeias? Os objetivos serão ganhar títulos em Portugal e chegar às provas europeias. Continuar a dar tudo para dignificar o símbolo que temos ao peito. Como desportist­a, certamente gosta também de futebol. Quem foi o jogador do Sporting que mais o marcou e qual aquele de que mais gosta atualmente? Sim, sou um apaixonado por futebol. Existem muitos que me marcaram no Sporting. Douglas, Silas, André Cruz, Balakov, Jardel, Liedson, Acosta, Jordão, Manuel Fernandes, Futre, Figo, Peixe, Paulo Sousa, Damas e muitos outros. Deste plantel, destaco Bruno Fernandes, William Carvalho, Rui Patrício, Mathieu e Acuña. Já agora... gostava de ver Ricardinho na equipa de futsal do Sporting na próxima época? Tenho ouvido e lido muita coisa na comunicaçã­o social. Não sei o que é verdade ou mentira, portanto esse é um assunto sobre o qual não me devo pronunciar.

“O presidente esteve sempre ao nosso lado durante toda a época, deu-nos todo o apoio [...] Quantos presidente­s estão permanente­mente com todas as modalidade­s, sabem o que se passa, conhecem todos os atletas, resolvem problemas ou incentivam? Eu não conheço outro”

“O treinador vai sair?! Não me parece, porque é o melhor e os melhores têm de estar no Sporting. Eu tenho curso de treinador, mas sou atleta e quero continuar a sê-lo”

“Já tinha sido campeão no Sporting e é maravilhos­o. Mas, ao fim de tanto tempo, no regresso da modalidade, ser campeão logo no primeiro ano é algo indescrití­vel”

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