Diário de Notícias

Irão pressionad­o entre israelitas e EUA. Rússia tenta obter dividendos

Entre um ataque israelita e a saída dos EUA do acordo nuclear, o regime iraniano está sob pressão. Putin exerce influência

- CÉSAR AVÓ

A calma regressou à fronteira israelo-síria na sexta-feira, após a troca de fogo entre rockets disparados contra os montes Golã, ocupados por Israel, e mísseis israelitas contra alvos iranianos na Síria. Mas a tensão permanece, numa altura em que a guerra na Síria, a saída dos EUA do acordo internacio­nal sobre o programa nuclear iraniano e a abertura da embaixada norte-americana em Jerusalém na segunda-feira são uma conjugação de fatores incendiári­os.

Vladimir Putin não perdeu a oportunida­de para reforçar o papel de potência no terreno. Manteve contactos com o presidente turco, Recep Erdogan, e com a chanceler alemã, Angela Merkel, e sublinhou a “importânci­a essencial” da manutenção do acordo. O presidente russo irá encontrar-se com a líder alemã no dia 18, em Sochi. Mas se Moscovo joga pelo lado iraniano quanto ao acordo nuclear, a sua posição relativa à influência de Teerão na Síria não é tão clara. Há quem afirme, como Yossi Mekelberg, da Chatham House, que o Kremlin “não está satisfeito com o ganho de poder e de influência do Irão” na Síria e que o ataque aéreo israelita a alvos iranianos foi feito com o acordo tácito russo. Benjamin Netanyahu, o governante do Estado hebraico, assistiu às cerimónias do Dia da Vitória e reuniu-se com Putin.

Ontem, o ministro israelita da Defesa, Avigdor Lieberman, deslocou-se aos montes Golã e aconselhou o líder da Síria, Bashar al-Assad, a “expulsar os iranianos”. “Ponha Qasem Soleimani e a Quds daí para fora”, disse. Soleimani é o comandante da Brigada Quds, o braço das operações no exterior dos Guardas da Revolução. Noutro desenvolvi­mento relacionad­o com a Quds, o secretário do Tesouro norte-americano impôs sanções a seis indivíduos e três entidades acusados de canalizar milhões de dólares para a milícia presente na Síria e no Líbano.

Por sua vez, o governo iraniano condenou a intervençã­o militar israelita, negou a responsabi­lidade pelo lançamento dos 20 rockets – “pretextos inventados e sem fundamento” – e devolveu as culpas a Israel e EUA. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeir­os acusou aqueles países de apoiarem grupos terrorista­s que fazem guerra por procuração. “Os principais defensores desses grupos estão a atacar e a invadir os território­s sírios, numa tentativa de vingar os sucessivos fracassos dos seus terrorista­s e inclinar a balança a seu favor”, declarou Bahram Qassemi.

Se em termos militares não é de prever um recrudesci­mento entre o Irão e Israel nas próximas horas, a linguagem usada por alguns dirigentes não ajuda à pacificaçã­o. É o caso do ayatollah Ahmad Khatami, que desafiou tudo e todos: “Vamos expandir as capacidade­s dos nossos mísseis apesar da pressão do Ocidente. E que Israel saiba que, se agir de forma insensata, Telavive e Haifa serão transforma­das em ruínas e totalmente destruídas.”

Prova da mensagem dúplice de Teerão, cujo regime reflete as tensões entre a linha dura religiosa e militar e os reformista­s, o presidente Hassan Rouhani já tinha anunciado que quer manter em vigor o acordo assinado em 2015 com os restantes membros permanente­s do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha.

Amanhã, o chefe da diplomacia iraniana (e negociador do acordo nuclear), Javad Zarif, inicia em Pequim uma viagem que tem paragens em Moscovo, na segunda-feira, e em Bruxelas, na quarta. Na capital belga, Zarif vai encontrar-se com os homólogos francês, alemão e britânico – Jean-Yves Le Drian, Heiko Maas e Boris Johnson –, além da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

Demissão na agência da ONU

O chefe das inspeções da Agência Internacio­nal de Energia Atómica, Tero Varjoranta, demitiu-se ontem. O finlandês encarregad­o de verificar o cumpriment­o do Tratado de não Proliferaç­ão Nuclear não tornou público o porquê da sua saída. A demissão ocorreu no mesmo dia em que o diretor-geral daquela agência da ONU anunciou um encontro com o presidente russo. O japonês Yukiya Amano vai ser recebido por Putin em Sochi na segunda-feira.

REAÇÕES “Tenho uma mensagem para Assad: ‘Expulse os iranianos. Eles só fazem mal e a sua presença [na Síria] só causa danos e problemas’” AVIGDOR LIEBERMAN MINISTRO DA DEFESA DE ISRAEL “Vamos expandir a capacidade dos nossos mísseis. E que Israel saiba que, se agir de forma insensata, Telavive e Haifa serão totalmente destruídas” AHMAD KHATAMI AYATOLLAH DO IRÃO

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A linha dura do regime convocou manifestaç­ões para protestar contra a decisão dos Estados Unidos, como esta em Teerão

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