Diário de Notícias

Para os Pet Shop Boys, chegar ao topo é “canja”

A reedição do catálogo de álbuns de Neil Tennant e Chris Lowe chega agora aos seus três discos fundadores – Please, Actually e Introspect­ive. Trata-se de pop desempoeir­ada, cheia de clássicos, para voltar a ouvir com prazer. E acompanhad­os de extras

- Miguel Marujo POR

Reedição tripla chegou às lojas: Please, Actually e Introspect­ive trazem de volta a boa batida da dupla Neil Tennant e Chris Lowe.

Os rapazes que uma noite entraram num bar do Porto e se encantaram com uma canção de Zeca Afonso, ao ponto de tentarem se inspirar nela, desde o início que encolheram os ombros com o sucesso. No seu primeiro single, essa pequena pérola que é West End Girls, os Pet Shop Boys diziam que chegar a número 1 no top britânico “é canja”.

Era o tempo do primeiro álbum, Please, apresentad­o ao mundo em 1986, onde Neil Tennant e Chris Lowe foram buscar dez canções já escritas mas, no final, deram-se conta de que o alinhament­o contava uma história. “Eles fogem na primeira canção (Two Divided by Zero), eles chegam à cidade (West End Girls), eles querem fazer dinheiro (Opportunit­ies), eles apaixonam-se (Love Comes Quickly), mudam-se para os subúrbios (Suburbia), saem à noite para dançar (Tonight Is Forever), há violência na cidade (Violence) e sexo casual (I Want a Lover), alguém tenta engatar um tipo (Later Tonight). Acaba por funcionar de algum modo”, descreveu Neil.

E funcionou mesmo. Please éo cartão de apresentaç­ão para os corpos se deixarem contaminar pela dança e surge de novo, 32 anos depois, nas lojas com a revisitaçã­o que o duo britânico está a promover de toda a sua obra.

O catálogo completo dos álbuns de estúdio de 1985 a 2012, editados pela Parlophone, para uma releitura que tem trazido muitos inéditos e remisturas. Já houve Nightlife (1999), Release (2002) e Fundamenta­l (2006), que abriram este catálogo luxuoso, seguidos de Yes e Elysium, todos reeditados com o nome de Catalogue: 1985-2012 e sempre acompanhad­os de material extra, reunido sob o nome comum de Further Listening.

Com Please chegam agora também Actually, de 1987, e Introspect­ive, de 1988, o disco que melhor venderia, tal como Neil e Chris antecipava­m no primeiro disco em Opportunit­ies (Let’s Make Lots of Money), onde se ouve de entrada os versos “I’ve got the brains/ You’ve got the looks/ Let’s make lots of money.”

Neil e Chris foram recuperar canções que já tinham gravado e escrito uns tempos antes para o seu primeiro (grande) disco, mas deixaram outras de fora, que viriam a conhecer a luz do dia em Actually, como It’s a Sin, Rent ou One More Chance. Para outra canção que sairia no segundo álbum, What Have I Done to Deserve This?, os Pet Shop Boys ainda tinham de convencer a sua cantora preferida, Dusty Springfiel­d, a cantar em dueto com Neil. E percebe-se pelos títulos que estamos na presença de álbuns essenciais do cânone musical dos anos 1980.

Em Instrospec­tive, os dois acabaram por ensaiar um processo criativo distinto. Numa época em que os singles de três, quatro minutos eram estendidos em versões mais complexas, eventualme­nte às mãos de outros músicos e DJ, Neil e Chris tiveram uma abordagem distinta, propondo-se a compor canções com sete, oito minutos, editando depois versões curtas para lançar como singles. Já Always on My Mind, que tinha sido um sucesso como single autónomo e ainda não tinha sido escolhido para nenhum dos álbuns, surge emIntrospe­ctive com uma nova roupagem, como Always on My Mind/In My House, e uma “secção”, como lhe chama Neil, a apontar supostamen­te ao acid house que por esses dias aquecia as pistas de dança.

É verdade que aquilo que nos é dado a ouvir a mais nestes três discos, nos discos Further Listening, não tem o mesmo sabor de muitas das surpresas que pudemos escutar nas anteriores reedições deste Catalogue, ficando-se a maior parte das vezes por releituras das canções que são hoje clássicos da pop mais desempoeir­ada.

Outro detalhe notado pelos próprios boys é o grafismo de cada uma das capas. Please ousou deixar a capa toda em branco, com duas pequenas fotografia­s de Neil e Chris ao centro – uma desproporç­ão que se acentua na capa do vinil. Em Actually, os dois estão de fato enquanto Neil boceja. Instrospec­tive é um conjunto de riscas de cores, a partir de um livro que explicava como se misturavam essas cores. “O nosso álbum que mais vendeu não tem uma fotografia de nós na capa. É interessan­te, não achas?”, questionou-se Chris.

Trinta anos depois sabemos que estes três discos tiveram o look e brains necessário­s para os Pet Shop Boys vingarem para lá do circuito de clubs britânicos ou de San Francisco, onde as suas remisturas de 12 polegadas tiveram algum sucesso. Chegar a número 1 não era coisa que lhes mudasse as vidas – felizmente foi moldando as nossas.

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Voltar ao passado/presente de Tennat e Lowe em três discos
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