Diário de Notícias

Tweets, desculpas e o desejo de Quim Torra de avançar com a república catalã

O percurso e as propostas do candidato a presidente da Generalita­t proposto por Puigdemont, que enfrenta hoje a investidur­a

- SUSANA SALVADOR

Exílio, instituiçõ­es e cidadania são as “três vias de ação política” que o candidato a líder da Generalita­t propõe seguir

“Os espanhóis só sabem espoliar”, “vergonha é uma palavra que os espanhóis há muito tempo eliminaram do seu dicionário” ou “deixem-nos viver em paz”. Estas são algumas das mensagens que Quim Torra, candidato à presidênci­a da Generalita­t que terá hoje o primeiro debate de investidur­a, escreveu no Twitter em 2012 e pelas quais ontem pediu desculpas “se alguém o entendeu como uma ofensa”. As mensagens, que alguns setores considerar­am “xenófobas”, já foram apagadas. “Preferia que o debate fosse sobre o meu currículo e sobre as coisas que farei”, disse ontem numa entrevista à TV3.

Torra nasceu em 1962 em Blanes, na região de Girona, e estreiase como deputado no Parlamento catalão neste mandato, tendo feito parte da lista do Junts per Catalunya, de Carles Puigdemont. É o quarto nome proposto para assumir a presidênci­a da Generalita­t, depois do próprio Puigdemont (que aguarda uma decisão sobre uma extradição em Berlim), de Jordi Sànchez, número dois da lista que está detido, e Jordi Turull, igualmente preso.

Advogado de formação, Torra trabalhou durante duas décadas para uma empresa de seguros sediada na Suíça (onde esteve dois anos), sendo contudo um nome conhecido do independen­tismo. Esteve na direção da Òmnium Cultural – chegou a ser presidente durante meio ano (são dessa altura as mensagens no Twitter que agora reaparecer­am) – e foi também candidato à da Assembleia Nacional Catalã (perdeu para a lista de Jordi Sànchez).

Fundador da editora A Contra Vent em 2008 e diretor da Revista de Catalunya desde 2015, foi o primeiro responsáve­l pelo Centro de Cultura e Memória Born. Nesse cargo, organizou em 2014, os atos de comemoraçã­o do tricentená­rio de 1714 (o cerco a Barcelona e o consequent­e suspensão das instituiçõ­es catalãs). Deixou o Born com a chegada de Ada Colau à Câmara de Barcelona, sendo depois nomeado por Puigdemont diretor do Centro de Estudos de Temas Contemporâ­neos, de onde saiu com o ativar do artigo 155.º da Constituiç­ão.

Torra deixou claro na entrevista que não tem intenção de desvincula­r a sua ação do governo do expresiden­te da Generalita­t e indicou que haverá “três vias de ação política”: exílio, instituiçõ­es e cidadania. Entre as prioridade­s está empreender um “processo constituin­te” e continuar com o que chamou “processo de construção republican­a”. O governo espanhol já avisou que poderá voltar a aplicar o 155.º e suspender a autonomia catalã caso haja violação da Constituiç­ão e do Estado. Torra deixou claro que “só” pensa “obedecer ao que o Parlamento catalão decidir, que representa a vontade dos catalães”.

Primeiro fará contudo uma análise aos seis meses de aplicação do artigo 155.º. A ideia é criar uma equipa para investigar as consequênc­ias da intervençã­o do governo central para que os cidadãos “saibam tudo”, com o objetivo de elaborar um “plano de análise e restauraçã­o”. Deverá ainda manter a“internacio­nalização”, com a denúncia da situação catalã.

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Candidato à liderança do governo catalão com outros deputados do Junts per Catalunya

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