Diário de Notícias

Reduzir a Expansão portuguesa a uma lenda negra e a uma sucessão de abusos não correspond­e aos factos; basta lembrar que em muitos locais os portuguese­s estavam como aliados ou até pagavam, como sucedia em Macau

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O cronista usou a palavra “nunca” amiúde e o navegador relata mesmo situações de espanto mútuo entre os portuguese­s e os africanos – estavam ambos a descobrir-se simultanea­mente. Logo em Os Lusíadas, Portugal é apresentad­o como o país dos Descobrime­ntos, e todos os regimes o defenderam depois. E no tempo de Salazar os maiores historiado­res deste tema (Jaime Cortesão eVitorino Magalhães Godinho) eram dois oposicioni­stas ao regime que sofreram o exílio devido à sua militância pela Liberdade. O Estado Novo limitou-se a prosseguir o que era feito sobre o tema há séculos; usou-o, é certo, para justificar a sua política colonial e a guerra, mas no seu tempo o tema também era estudado e desenvolvi­do internacio­nalmente por figuras relevantes da oposição democrátic­a, o que demonstra que não era apenas uma causa do regime.

Também a ideia de que “descobrime­nto” é uma palavra eurocêntri­ca é um exagero. Mesmo que tenha sido usada por alguns num sentido unilateral e que ao falarmos, por exemplo, de Descobrime­ntos portuguese­s estejamos a pôr o foco sobretudo na acção dos portuguese­s, a palavra “Descobrime­ntos” em geral, como era citada a propósito do museu, reflecte um encontro mútuo que foi o que aconteceu nos séculos XV e XVI. Quando os portuguese­s chegaram ao Japão, descobrira­m este país ao mesmo tempo que os japoneses descobrira­m os portuguese­s e a amplitude do planeta que lhes era totalmente desconheci­da. Maus usos de palavras não nos impedem de as reutilizar­mos com o seu verdadeiro sentido e, neste caso, na sua verdadeira amplitude.

Reduzir a Expansão portuguesa a uma lenda negra e a uma sucessão de abusos não correspond­e aos factos;

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