Diário de Notícias

Um derivado de Star Wars para relaxar Cannes

FESTIVAL Fora de competição, Han Solo – Uma História de Star Wars chega a Portugal para a semana. Uma desilusão total

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Um festival precisa de filmes que o grande público também queira ver. A concessão de Cannes este ano foi apresentar fora de competição o novo spin-off da saga Star Wars, Han Solo – Uma História StarWars, de Ron Howard, a história do jovem piloto Han Solo, interpreta­do por Alden Ehrenreich e sem imitações de Harrison Ford.

Não se ouviram apupos nem tão pouco aplausos. “Apenas mais um episódio lateral desta saga” era o que se escutava mais. Han Solo – Uma História StarWars provocou indiferenç­a apesar de na sessão oficial a Disney ter conseguido aquilo para que veio: estardalha­ço mediático, com as estrelas no tapete vermelho ladeadas de Storm Troopers e o próprio ator que faz de Chewie em personagem. Seguiu-se fogo-de-artifício numa daquelas festas que param a Croisette e para a qual nenhum jornalista é convidado.

Colocar em Cannes um filme destes acarreta riscos: a imprensa pode danificá-lo, mas a armação do marketing tem sempre efeitos de alavanca global. Na verdade, confirma-se que a decisão da Disney em oferecer aos fãs todos os anos um filme é de um exagero terrível e um excelente porta-estandarte para o lema “não há fome que não dê em fartura”. E o filme de Ron Howard tem realmente a pequenez de um mero derivado, narrando a forma como Han Solo, jovem mercenário da Galáxia, conhece o companheir­o Chewie, e consegue tornar-se piloto da nave Millenium Falcon, numa missão que o põe pela primeira vez em contacto com membros da Rebelião.

Aliás, todo o coração sentimenta­l da história assinada por Lawrence Kasdan anda às voltas (muitas vezes com tonturas disparatad­as) da amizade entre o herói solitário e a criatura peluda. É talvez o único gancho com o qual o espectador pode sentir alguma afinidade. De resto, sobra muita fórmula, uma realização anónima e sequências de batalha na plenitude da banalidade. Na verdade, este Star Wars é o corolário da Disneyfica­ção da saga. Se vai ser um megassuces­so? Com o marketing da Disney, é complicado que não o seja, mas, dê para onde der, vai ficar com uma nódoa negra para os afetos de quem cresceu a idolatrar este escapismo criado por George Lucas.

Entretanto, na Quinzena dos Realizador­es, os ecos a Mandy, de Panos Cosmatos, são muito positivos. Este filme com Nicolas Cage é já uma das sensações do festival e restaura a fé no cinema de terror americano. Uma Quinzena onde se reivindica o direito ao cinema de choque: Clímax, de Gaspar Noé, também foi justamente ovacionado. Um filme sobre o vazio desta geração. RUI PEDRO TENDINHA,emCannes

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Lawrence Kasdan assina o argumento Han Solo

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