Diário de Notícias

“A pressa já fez sete mortos”

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Este atraso nos trabalhos de limpeza era expectável? Era. Não se pode desfazer em seis meses o que se estragou em 20 anos. O pior é que a pressa está a fazer com que as pessoas trabalhem para além das suas possibilid­ades e corram riscos. Já temos sete mortes contabiliz­adas nos trabalhos florestais. Seis porque perderam o controlo das queimadas e uma porque uma ár vore l he caiu em cima quando a cortava. Todos idosos. Quais são as zonas do país mais atrasadas? Quase todos os municípios sofrem atrasos, mas sinto que é nas zonas à volta dos grandes centros urbanos que há mais desleixo. Nos concelhos rurais os proprietár­ios estão mais consciente­s da necessidad­e de proteger a floresta. Mas nos subúrbios, onde há núcleos florestais ao lado de urbanizaçõ­es, a preocupaçã­o é muito menor. Não quer dizer que o perigo o seja. Muitos autarcas dizem que os critérios são exagerados. Concorda? Temos uma faixa combustíve­l muito densa, por isso acredito que estas medidas não nos livram do perigo. Nos últimos cem anos enchemos o país de pinheiro- bravo, nos últimos 30 de eucalipto. Só arrancando tudo e renovando a floresta é que podíamos ficar descansado­s. Os critérios são apertados, sim, e neste espaço de tempo são i mpossíveis de cumprir. Depois, há outra coisa: se os municípios e os privados não conseguem cumprir, que dizer da EDP e das Infraestru­turas de Portugal, que nada fazem? De veriam dar o exemplo. En - quanto f al o consigo estou a atravessar a A1 e posso garantir- lhe que os perímetros de segurança da principal autoestrad­a do país estão l onge de cumprir a lei. As matas estão a ser mal limpas? Acredito que 90% do que está a ser limpo está a ser mal limpo. Há regras para a distância entre copas de árvores, por exemplo, que ninguém vai conseguir respeitar.

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PRESIDENTE DA ESTRUTURA FEDERATIVA DA FLORESTA PORTUGUESA
ANTÓNIO LOURO PRESIDENTE DA ESTRUTURA FEDERATIVA DA FLORESTA PORTUGUESA

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