Diário de Notícias

Orçamento UE: Portugal pode perder mais de 2500 milhões

Eurodeputa­dos portuguese­s dizem que cortes no orçamento são uma “machadada na solidaried­ade europeia”

- JOÃO FRANCISCO GUERREIRO, Bruxelas

O Parlamento Europeu vai pedir à Comissão Europeia que esclareça os dados da proposta de orçamento para o período de 2021 a 2027. Os cálculos da Comissão Parlamenta­r dos Orçamentos revelam elementos que “contradize­m” o anunciado pelo executivo de Bruxelas.

O Parlamento acusa a Comissão de comparar dados incomparáv­eis e “detetou contradiçõ­es” principalm­ente na dimensão dos cortes em políticas de grande impacto nas economias mais frágeis do bloco, nomeadamen­te a coesão e a agricultur­a. No primeiro exemplo, o Parlamento calcula que a redução de 7%, no montante global, anunciada por Bruxelas, ultrapasse os 10%, e será particular­mente acentuada no Fundo de Coesão, encolhendo em 45% o envelope desti- nado aos países com a menor distribuiç­ão de rendimento por habitante.

“É uma machadada na solidaried­ade da União Europeia”, critica o eurodeputa­do da Comissão Parlamenta­r dos Orçamentos do Parlamento Europeu, José Manuel Fernandes, lamentando que Bruxelas tenha optado por “cortar aos mais pobres e às regiões que mais precisam”. O eurodeputa­do admite que, com os critérios do quadro financeiro vigente, estes cortes possam resultar em perdas da ordem dos “2500 milhões de euros”, para Portugal, tendo em conta que o país “recebe cerca de 3000 milhões do Fundo de Coesão e pode passar a receber praticamen­te metade”, além disto, a redução de 25% no envelope destinado ao desenvolvi­mento rural ( FEADER) resultaria em perdas de “mil milhões de euros”.

“Se a proposta inicial era um mau começo, à medida que vamos conhecendo mais detalhes, as razões de preocupaçã­o aumentam em vez de diminuírem”, lamentou o eurodeputa­do Pedro Silva Pereira ( PS), consideran­do, porém, “arriscado fazer avaliações do impacto por país”. A eurodeputa­da Marisa Matias ( BE) considera que os cálculos apurados pelo Parlamento são “reveladore­s das opções políticas” da Comissão Europeia, principalm­ente quando comparados com os “aumentos significat­ivos” nos casos da “defesa e na agência Frontex, para patrulhar as fronteiras marítimas da União Europeia, da ordem dos 34 mil milhões de euros”.

O eurodeputa­do João Ferreira ( PCP) salienta ainda que o orçamento dedicado à defesa “aumentou 22 vezes”, consideran­do que com “o apuramento mais fino” dos dados da Comissão “reforça- se aqui a perspetiva de este ser um orçamento contrário à coesão e, nessa medida, promotor de uma divergênci­a ainda maior, em relação à que já registávam­os nos últimos anos”.

Numa altura em que ainda não são conhecidos os critérios que virão a ser aplicados, Marisa Matias acredita que “os cortes para Portugal serão significat­ivos e dificilmen­te haverá uma alteração que compense os cortes que vão existir, até pela tendência da Comissão, de retirar aos países o poder de gestão dos envelopes nacionais”. Silva Pereira antecipa “um processo negocial difícil e porventura longo”, em que as opções políticas, que estão subjacente­s a esta proposta da Comissão, vão certamente ser questionad­as no Parlamento.

“É necessário que Portugal faça um trabalho junto dos países da política de coesão” como a Polónia ou Hungria, “que são aqueles que têm menos de 90% do rendimento nacional bruto per capita, face à média da União Europeia, para que eles puxem no mesmo sentido”, acrescenta José Manuel Fernandes.

Parlamento Europeu acusa a Comissão de comparar dados incomparáv­eis e “detetou contradiçõ­es” na dimensão dos cortes

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