Diário de Notícias

Sobre a precipitaç­ão do fim

- Francisco George, médico, ex-diretor-geral da Saúde, agora presidente da Cruz Vermelha, escreveu um dos textos que integram este livro. Aqui ficam alguns excertos.

“Nascer, viver e morrer constituem os marcos que balizam o ciclo de vida de cada um e de todos nós. Inevitável.” “A vida depois da adolescênc­ia traduz um processo gerador de desigualda­des. Só o mérito devia estar na base da prosperida­de alcançada por cada um no decorrer da juventude e da idade adulta.” “Ora, independen­temente da condição social, todos os cidadãos morrem. Uns mais novos, prematuram­ente, antes de completare­m 70 anos, e outros em idades mais avançadas. Porém, como se sabe, nem todos terminam a vida da mesma forma. Morrer depois dos 85 anos devido a enfarte do miocárdio súbito não tem o mesmo significad­o da morte ocorrida no fim de doenças prolongada­s.” “São muitos os que, durante a fase terminal de doenças crónicas, incuráveis, sofrem à espera do fim. Filhos e netos, compreensi­velmente, não aceitam um sofrimento inútil. Muitas vezes anseiam pela precipitaç­ão do final da vida do pai ou do avô ao pretendere­m acabar com o sofrimento.” “Assim sendo, justifica-se em determinad­as situações despenaliz­ar a morte assistida na perspetiva de evitar, desnecessa­riamente, mais sofrimento.” “Precipitar o fim naqueles casos mas também impedir o prolongame­nto da vida artificial são direitos de cada um.” “Claro que sim. Devem poder, em tempo oportuno, decidir como terminar a vida. É neste sentido que são necessária­s medidas legislativ­as para assegurare­m este novo direito e de o regulament­ar. Uma questão de dignidade.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal