Sobre a precipitação do fim
“Nascer, viver e morrer constituem os marcos que balizam o ciclo de vida de cada um e de todos nós. Inevitável.” “A vida depois da adolescência traduz um processo gerador de desigualdades. Só o mérito devia estar na base da prosperidade alcançada por cada um no decorrer da juventude e da idade adulta.” “Ora, independentemente da condição social, todos os cidadãos morrem. Uns mais novos, prematuramente, antes de completarem 70 anos, e outros em idades mais avançadas. Porém, como se sabe, nem todos terminam a vida da mesma forma. Morrer depois dos 85 anos devido a enfarte do miocárdio súbito não tem o mesmo significado da morte ocorrida no fim de doenças prolongadas.” “São muitos os que, durante a fase terminal de doenças crónicas, incuráveis, sofrem à espera do fim. Filhos e netos, compreensivelmente, não aceitam um sofrimento inútil. Muitas vezes anseiam pela precipitação do final da vida do pai ou do avô ao pretenderem acabar com o sofrimento.” “Assim sendo, justifica-se em determinadas situações despenalizar a morte assistida na perspetiva de evitar, desnecessariamente, mais sofrimento.” “Precipitar o fim naqueles casos mas também impedir o prolongamento da vida artificial são direitos de cada um.” “Claro que sim. Devem poder, em tempo oportuno, decidir como terminar a vida. É neste sentido que são necessárias medidas legislativas para assegurarem este novo direito e de o regulamentar. Uma questão de dignidade.”